Museu do Louvre mostra obras pilhadas pelos nazis em duas salas

Novos espaços exibem desde o início de Dezembro 31 pinturas das perto de 300 que se encontram ainda depositadas no grande museu de Paris, e cujos proprietários não foram até agora identificados.

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Em 1997, o Museu do Louvre mostrou perto de um milhar de obras recuperadas da pilhagem nazi Eric Gaillard/REUTERS
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Homme Lisant, do atelier de Barent Fabritius RMN - Grand Palais (Musée du Louvre)/Franck Raux
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La Diseuse de bonne aventure, de Jacob Jansz Van Velsen RMN - Grand Palais (Musée du Louvre)/Jean-Gilles Berizzi

A história é conhecida, e ciclicamente fala-se dela, como uma das feridas ainda não cicatrizadas resultantes do domínio nazi na Europa e que teve o seu epílogo com a derrota da Alemanha de Hitler no final de Segunda Guerra Mundial, em 1945. Falamos das dezenas de milhares de objectos de arte roubados aos seus legítimos proprietários, maioritariamente judeus, pelo aparelho repressivo do nazismo nos diferentes países que foi invadindo e conquistando desde o final da década de 30.

Entre o polémico processo que, no início da década de 2000, envolveu a recuperação, em tribunal, da obra-prima de Gustav Klimt, Adele Bloch-Bauer 1 (1907), por Maria Altmann, uma herdeira da mulher retratada (em 2006, este quadro seria vendido na Christie’s de Nova Iorque pela verba então recorde de 104 milhões de dólares), e o filme de George Clooney, Os Caçadores de Tesouros (2014), que documenta a forma como os Aliados recuperaram milhares das obras pilhadas pelos nazis, muito se tem falado sobre o tema.

O Museu do Louvre abriu em Dezembro duas novas salas na sua sede em Paris exclusivamente dedicadas à exposição de parte das quase três centenas de pinturas que ainda estão na sua posse, das cerca de duas mil peças (pintura, desenho, escultura e outros objectos de arte) cujos legítimos donos (ou seus herdeiros) não foram ainda encontrados.

As duas novas salas – situadas na Ala Richelieu, no 2.º piso do museu, e que foram instaladas em simultâneo com a renovação das secções dedicadas à pintura francesa e às escolas germânica e holandesa – funcionarão como um complemento ao catálogo das obras que não têm ainda proprietário identificado e que, desde 1949, estão protegidas pelo estatuto MNR (Musées Nationaux Récupération).

“Algumas pessoas que sabem que as suas famílias foram espoliadas podem consultar esta base de dados e tentar reencontrar o quadro sem terem de se deslocar ao Louvre”, disse ao jornal Le Figaro, em Dezembro, Sébastien Allard, director do departamento de pintura responsável pelos novos espaços. Aqui serão mostradas 31 pinturas, das 296 que o Louvre conserva nos seus depósitos – algumas delas estando actualmente também expostas nas alas relativas às suas origens, sempre com a designação de que se tratam de obras MNR.

“Não podemos mostrar tudo”, acrescentou Allard, realçando que os novos espaços irão “sensibilizar mais claramente [as pessoas]” ao disponibilizar informação sobre a história de cada obra.

Entre 1940 e 1945 – recorda o Louvre no seu site –, perto de 100 mil peças de arte foram pilhadas em França pelo regime nazi, e transferidas para a Alemanha. Muitas delas estavam destinadas a engrossar o acervo do megalómano Museu do Füher em Linz, na Áustria, terra natal de Hitler, projecto que nunca sairia do papel.

Quando ainda decorria a guerra – como documenta o filme de George Clooney –, e nos anos imediatamente a seguir, 60 mil dessas obras foram recuperadas na Alemanha e na Áustria, e reenviadas para França, onde, até 1949, uma comissão se ocupou da sua inventariação e devolução aos proprietários legítimos. Mas de um quarto dessas peças não foram encontrados os donos. Parte foi vendida e a restante conservada em vários museus estatais espalhados pelo país: o Louvre conserva ainda 1752 obras MNR nas suas diferentes colecções.

O processo de devolução continua em curso. E informação mais detalhada sobre este espólio pode ser consultada no site Rose-Valland.

Notícia actualizada com informação acerca da data de abertura das duas novas salas

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