Alberto Fujimori pede perdão aos peruanos depois de ter sido libertado

O antigo ditador, condenado a 25 anos de prisão por abusos dos direitos humanos e corrupção, agradeceu o "gesto magnânimo" do Presidente Pedro Pablo Kuczynski, acusado de traição por ter assinado o indulto.

Apoiantes de Alberto Fujimori celebram indulto à porta do hospital onde antigo ditador foi internado
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Apoiantes de Alberto Fujimori celebram indulto à porta do hospital onde antigo ditador foi internado Reuters/GUADALUPE PARDO
Decisão de PPK levou milhares de peruanos à rua em protesto
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Decisão de PPK levou milhares de peruanos à rua em protesto Reuters/GUADALUPE PARDO

“Profundamente grato” pelo indulto que o retirou da cadeia antes de cumprir a pena de 25 anos por abusos dos direitos humanos e corrupção, mas consciente da fractura e desolação provocada pelo seu perdão e libertação, o antigo Presidente do Peru Alberto Fujimori endereçou um pedido de desculpas aos seus compatriotas, penitenciando-se pelos graves actos cometidos durante o seu Governo.

“Reconheço que defraudei muitos compatriotas e peço-lhes perdão de todo o coração”, afirmou Alberto Fujimori, num vídeo publicado nas redes sociais em jeito de agradecimento pelo “gesto magnânimo” do Presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski. “Quero exprimir a minha profunda gratidão por este passo complexo dado pelo Presidente, e o meu compromisso a apoiar o seu apelo à reconciliação nacional”, diz Fujimori, internado numa unidade de Cuidados Intensivos de Lima desde a véspera de Natal.

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— Kenji Fujimori (@KenjiFujimoriH) December 25, 2017

"> Alberto Fujimori e filho Kenji celebram indulto

O momento em que o antigo Presidente do peru recebeu a notícia do indulto foi registado e divulgado nas redes sociais.

Milhares de peruanos saíram à rua em protesto pela decisão de Kuczynski, anunciada três dias após a rejeição de uma moção de destituição proposta pela bancada fujimorista que detém a maioria no Parlamento por suspeitas de corrupção. A rapidez com que foi processado o perdão presidencial deu crédito às teorias de que PPK (o diminutivo pelo qual é conhecido o chefe de Estado) teria negociado a abstenção de deputados do movimento Força Popular em troca do indulto a Fujimori – teria sido para assegurar a sua sobrevivência política, e não por razões humanitárias”, que o Presidente aceitara firmar um “pacto pela impunidade”, como denunciou a oposição.

Ao anunciar o perdão, PPK admitiu ter-se tratado da “decisão mais difícil” que teve de tomar enquanto Presidente (na conturbada campanha eleitoral, na qual derrotou a filha de Fujimori, Keiko, prometera jamais perdoar o antigo ditador). Mas defendeu o indulto, lembrando que Alberto Fujimori “contribuiu para o progresso nacional” apesar de ter “incorrido em transgressões significativas da lei”, pelas quais foi julgado e condenado, tendo já cumprido mais de metade da pena. “Não devemos permitir que morra na cadeia. A justiça não é vingança”, argumentou.

Num comunicado, a Presidência da República explicou que o perdão não foi iniciativa de PPK. A família Fujimori já por diversas vezes tinha solicitado a libertação do antigo Presidente com argumentos médicos – um anterior pedido fora recusado pelo Presidente Ollanta Humala em 2013. Segundo a nota oficial, Kuczynski concordou depois de uma junta médica ter concluído que o antigo ditador sofre de “doença degenerativa progressiva incurável” e considerado que “as condições carcerárias significam um grave risco à sua vida, saúde e integridade”.

Alberto Fujimori governou o Peru com mão de ferro entre 1990 e 2000, tendo protagonizado um auto-golpe de Estado em 1992 para concentrar todo o poder no combate contra a guerrilha do Sendero Luminoso, um grupo revolucionário de inspiração maoista que no seu auge chegou a ter mais de dez mil militantes. A sua campanha contra o grupo armado ficou marcada por abusos dos direitos humanos, nomeadamente os massacres de Barrios Altos e La Cantuta pelos quais foi condenado.

O antigo Presidente, que fugiu do país no ano 2000 no meio de um escândalo de corrupção, acabou por ser detido sete anos mais tarde no Chile. Em 2009, foi condenado a 25 anos de prisão, pela repressão do seu regime e também pela apropriação de dinheiros públicos e outros crimes de corrupção.

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