Mães das vítimas de alegada rede ilegal de adopções pedem audiência a Marcelo

Investigação da TVI revelou que pelo menos dez crianças portuguesas terão sido adoptadas ilegalmente por bispos da Igreja Universal do Reino de Deus, que recorreram a um lar ligado à igreja e que estava ilegal. Igreja nega e fala em "campanha difamatória".

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Alegadas adopções ilegais aconteceram na década de 1990 Rui Gaudêncio

Algumas mães das vítimas de uma alegada rede ilegal de adopções de crianças por parte dos líderes da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) vão pedir uma audiência ao Presidente da República, anunciou a TVI. A Procuradoria-Geral da República (PGR) tem a decorrer um inquérito à actuação do Ministério Público (MP) na sequência de uma investigação realizada pelo canal de televisão a um alegado esquema que retirava crianças portuguesas que estavam num lar ilegal ligada àquela igreja.

O Presidente da República ficou a saber da intenção destas mães este fim-de-semana, durante uma visita a Pedrógão Grande, onde voltou a dizer que via “com apreço o facto de o Ministério Público estar a reabrir uma investigação para apurar o que se terá passado” na década de 1990, quando várias crianças terão sido adoptadas ilegalmente por bispos da IURD.

A investigação das jornalistas Alexandra Borges e Judite França, dividida em dez episódios, revela que pelo menos dez crianças portuguesas terão sido adoptadas, de forma ilegal, por bispos da IURD, que recorreram a um lar ligado à igreja e que era ilegal. Algumas das crianças foram entregues ao lar por familiares, outras encaminhadas pela Segurança Social.

A TVI conta a história de três irmãos, dois deles adoptados por uma das filhas do bispo Edir Macedo, responsável máximo da IURD, e como estes foram retirados à mãe porque esta seria toxicodependente e seropositiva. Um esquema que, alega "Maria" (nome fictício usado por esta mãe), foi criado para lhe retirarem o filhos – Vera, Luís e Fábio –, já que esta não sofre de nenhuma doença nem foi consumidora de drogas. O filho mais novo, Fábio, foi separado dos irmãos e adoptado por um outro bispo. Morreu vítima de overdose, versão diferente da transmitida pela igreja.

A reportagem da TVI conta ainda a história de dois irmãos – Pedro e Filipe – que foram adoptados sem que a mãe tivesse dado qualquer autorização. As crianças foram entregues ao lar pela avó e separadas posteriormente. Um dos meninos foi adoptado por uma das filhas do bispo Edir Macedo e o outro pela antiga directora do lar Mão Amiga.

"Campanha difamatória"

A IURD negou a existência de uma rede ilegal de adopções e de rapto, afirmando tratar-se de "uma campanha difamatória e mentirosa". Num comunicado divulgado no Brasil, a igreja disse que a investigação se baseava no depoimento falso de um ex-bispo chamado Alfredo Paulo, que teria sido expulso da igreja por conduta imprópria.

Também Vera e Luís negaram ter sido vítimas de adopção ilegal. “Nós fomos adoptados de forma legal por uma família americana e vivemos até os nossos 20 anos com essa família nos Estados Unidos. Fomos acolhidos por uma família que nos ama e vivemos muito bem com eles. Queremos dizer à TVI que não é justo, de forma nenhuma, o que eles estão fazendo connosco. E queremos o direito de resposta”, afirmou Luís, num vídeo colocado no YouTube.

O Ministério Público também abriu um inquérito à suposta rede de adopção ilegal de crianças. A Polícia Judiciária adiantou ao Diário de Notícias que os crimes prescreveram ao fim de 20 anos. O primeiro caso denunciado pela TVI aconteceu em 1995.

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