Não foi um bom Natal para a bitcoin

Uma semana de tendência negativa veio acentuar as dúvidas sobre o preço da criptomoeda no futuro.

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Não se fazem compras de Natal com bitcoins, por isso muitos preferiram trocá-las por dinheiro Reuters/SIMON DAWSON

Os dias de Natal não trouxeram boas notícias para os investidores que têm bitcoins. Depois de uma semana em queda, que se acentuou na sexta-feira com uma desvalorização que chegou aos 30% num dia, a moeda digital recuperou parcialmente no sábado, mas voltou a resvalar nos dias 24 e 25, colocando interrogações sobre a trajectória que o preço vai seguir.

No sábado, a bitcoin tinha subido para um valor próximo dos 15.600 dólares, de acordo com o site Coindesk. No dia domingo, porém, desceu para um mínimo de 12.800 e estava às 21h desta segunda-feira a rondar os 13.700 dólares.

A desvalorização recente parece causada, pelo menos em parte, pelos investidores que quiseram concretizar lucros para aproveitar o pico recente: no início da semana passada, o valor de cada bitcoin (que varia significativamente consoante as bolsas online em que as transacções são feitas) ultrapassava os 19 mil dólares.

“O Ocidente é o que está a causar estas vendas”, afirmou um analista da corretora online eToro, citado pela agência Bloomberg, referindo haver mais transacções em dólares do que em ienes. O Japão é um dos países onde o entusiasmo com as chamadas criptomoedas (o que, para além da bitcoin, inclui muitas outras, menos conhecidas) é elevado.

Para além disso, nas últimas semanas, vários avisos sobre a possibilidade de uma bolha nas criptomoedas, bem como alertas sobre problemas de segurança e ainda falhas de funcionamento em algumas grandes bolsas online (frequentemente, causados por grandes volumes de ordens de compra e venda) vieram lançar dúvidas sobre um tipo de investimento que este ano permitiu retornos gigantes.

Uma das críticas mais recentes veio de Yanis Varoufakis, o carismático antigo ministro das Finanças grego. “Sem sombra de dúvida, esta valorização é uma bolha perfeita”, afirmou, numa entrevista à revista Wired. Varoufakis, que é economista de formação, notou que o preço da bitcoin disparou sem que essa subida tivesse sido acompanhada por um aumento ao mesmo ritmo da aceitação da moeda como forma de pagamento. Em vez disso, argumentou, o preço é um reflexo de muitos investidores estarem a tentar fazer dinheiro tentando antecipar quais vão ser as acções dos outros investidores. “Este é o tipo de bolha que se forma quando a opinião média está a tentar adivinhar qual vai ser a opinião média”, disse.

Varoufakis também apontou baterias à ideologia por trás da bitcoin – a de uma forma de pagamento sem controlo central –, classificando-a como “a fantasia do dinheiro apolítico”. O economista, no entanto, mantém-se um adepto da blockchain, a base de dados distribuída em que assentam a bitcoin e demais criptomoedas. Quando ministro, e no auge da crise grega, chegou a delinear um plano para usar uma blockchain como base para uma forma de pagamento paralela ao euro.

Já um analista do Morgan Stanley enviou uma nota aos clientes em que argumentou que a bitcoin deveria valer zero dólares. Citada pelo site Business Insider, a nota observa que “se ninguém aceita a tecnologia para pagamento, então o valor deveria ser zero”. A afirmação é acompanhada por um gráfico que indica que uns meros três dos 500 maiores retalhistas online aceitam bitcoins – eram cinco no passado.

O analista, James Faucette, admite, no entanto, a ideia de que a bitcoin pode ser não tanto uma forma de pagamento, mas um activo semelhante ao ouro: “Talvez. Não tem nenhum uso intrínseco, como o ouro tem na electrónica ou na joalharia. Mas os investidores parecem estar a atribuir-lhe algum valor.”

Esta não é a primeira vez que a bitcoin sofre quedas significativas, tendo anteriormente recuperado de todas. De acordo com a Bloomberg, a última vez que a bitcoin caiu durante uma semana inteira foi em Setembro. Nesse mês, o preço oscilou entre os três mil e os cinco mil dólares.

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