Críticas a Santana levaram à saída de Marcelo da TVI

Marcelo Rebelo de Sousa não poupou o executivo de Santana Lopes.

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Marcelo, anos mais tarde, já na RTP. Acabaria por regressar à estação de Queluz ©Enric Vives-Rubio

Foram muitos os episódios que degradaram a imagem de Pedro Santana Lopes como primeiro-ministro. Ao longo de oito meses, o agora candidato à liderança do PSD foi fustigado por críticas sucessivas que vinham de vários sectores do PSD. Marcelo Rebelo de Sousa não deu tréguas a Santana e aos domingos à noite reservava boa parte do seu comentário semanal na TVI para denunciar as sucessivas "trapalhadas" do então primeiro-ministro.

Um dos comentários que mais incomodaram Santana Lopes está relacionado com a tolerância de ponto que o Governo decidiu dar aos funcionários públicos a 4 de Outubro (uma segunda-feira) de 2004. No dia seguinte comemorava-se o feriado da implantação da República e o Governo entendeu dar uma borla aos funcionários públicos. As críticas a esta decisão não se fizeram esperar. A “tolerância de ponto de que os funcionários públicos hoje beneficiam foi um péssimo exemplo dado pelo Governo de Pedro Santana Lopes (…) Isto é o pior do que o pior de Guterres”, declarou o comentador político, Marcelo Rebelo de Sousa.                                          

Um dos ministros mais visados por Marcelo na altura, Rui Gomes da Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares, reagiu com estrondo. “Em toda a Europa trata-se de um caso único. Não há país algum com uma pessoa a perorar 45 minutos sobre política, sem ser sujeita ao contraditório e apenas a defender os seus interesses pessoais”, disse, acrescentando: “Sinto-me revoltado com as mentiras e as falsidades que são proferidas todos os domingos por um comentador que tem um problema com o primeiro-ministro”.

Irritado, Gomes da Silva chega mesmo a dizer que “nem o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda juntos conseguem destilar tanto ódio ao primeiro-ministro e ao Governo como esse comentador que, sob a capa de comentário político, transmite sistematicamente um conjunto de mentiras com desfaçatez e sem qualquer vergonha”.

O clima de tensão que se abriu levou Miguel Pais do Amaral, na altura dono da TVI, a apelar a Marcelo para que fosse um pouco menos cáustico com o governo de Santana. Mas Marcelo mão desmobiliza. Pais do Amaral faz nova investida, avisando-o que “não pode continuar” naquele registo. É então que o comentador político pondera deixar a TVI.

O ex-banqueiro Ricardo Salgado, amigo pessoal de Marcelo, disponibiliza-se para interceder numa tentativa de o demover a não abandonar o espaço de comentário na estação de Queluz. “Amanhã tenho um encontro com o Pedro Santana Lopes e vou-lhe dizer que isso é uma estupidez. Vai arranjar o sarilho da vida dele. Eles não têm noção da popularidade com que tu estás…”. Santana tenta travar a saída de Marcelo num derradeiro apelo que faz a Ricardo Salgado. Mas é tarde demais.

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