Como se desenham os mundos de Manuel António Pina?

A companhia O Teatrão parte da obra do poeta para levar ao palco uma peça para os mais novos.

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Manuel ou como se desenha uma casa Carlos Gomes
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CARLOS GOMES

Apesar de o título remeter para um dos livros de poemas de Manuel António Pina, Manuel ou como se desenha uma casa baseia-se na obra do escritor. O poeta que também foi jornalista e cronista serve de inspiração à mais recente peça da companhia de O Teatrão, que está em exibição todos os sábados até 6 de Janeiro, na Oficina Municipal do Teatro, em Coimbra.

O espectáculo é para um público que começa nos quatro anos de idade mas não tem um tecto etário, explica a directora da companhia, Isabel Craveiro, ao PÚBLICO. Este trabalho sucede à peça Sophia, com base na obra de Sophia de Mello Breyner Andresen e que foi representada em 2016. Ao contrário do ano passado, em que a presença da escritora era mais “etérea” e em que a cenografia “nos levava para um mundo encantado”, Manuel ou como se desenha uma casa parte de elementos mais realistas, embora com “truques e outras possibilidades”, fazendo-se notar a presença do poeta.

Os desenhos da ilustradora Ana Biscaia contribuem para esse efeito. As ilustrações ajudam os dois actores em palco a desdobrar-se nas múltiplas personagens do universo de Pina, desde as que aparecem nos seus livros infantis ao próprio poeta, passando pelos seus gatos. Um escaravelho da batata que vai aparecendo estabelece as pontes narrativas e serve de linha de costura entre os mundos de Pina.

Na peça de O Teatrão, “a casa serve como elemento simbólico” pois “estamos a falar também da forma como nos vamos construindo”, refere a directora da companhia. “Isso cria uma dinâmica muito grande no espectáculo. É como se andássemos a correr e a descobrir as várias divisões da casa”. No palco, há duas paredes portáteis que vão compondo o desenho da casa.

Manuel António Pina, que morreu em 2012, tendo recebido o Prémio Camões no ano anterior, viu o seu trabalho reconhecido essencialmente pela obra poética, mas escreveu também livros infantis – uma designação que considerava dúbia, sendo um homem cujas referências literárias iam de Borges ao Winnie The Pooh. O alvo de pesquisa para a peça, conta Isabel Craveiro, foi além da ficção. “Há muito material”, desde vídeos a crónicas que Manuel António Pina escrevia no Jornal de Notícias.

O projecto de O Teatrão é para continuar, percorrendo outros autores nos próximos anos, sendo que já há alguns nomes alinhados. Afonso Cruz, João Pedro Mésseder ou Ilse Losa são alguns dos escritores que servirão de base a novas peças para público mais jovem. “A ideia do projecto é que possamos fazer uma reflexão sobre a linguagem do teatro para a infância”, trabalhando “com o universo de vários autores”, explica Isabel Craveiro. 

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