Se pensa que adora avelãs torradas prepare-se para descobrir que vai adorá-las muito mais do que isso

As avelãs do Piemonte são realmente melhores do que as outras? Sim, são. Não por serem, de facto, melhores. São é muito mais seleccionadas.

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Mike Blake/Reuters

Este ano, pela primeira vez, posso oferecer uma prenda de Natal aos leitores do PÚBLICO. Tive a sorte de provar umas avelãs que são com certeza as melhores avelãs do mundo. 150 gramas são muitas avelãs (o suficiente para duas sessões gulosas para duas pessoas) e custam apenas 6,80 euros.

Sou maluquinho por avelãs desde que me conheço. Quando viajo procuro sempre as avelãs. Sou exímio torrador de avelãs portuguesas, turcas, italianas e norte-americanas. Conheço todos os graus de ranço de que sofrem as avelãs. Enfim, sei do que falo.

Fiquei atónito, por isso, quando descobri que as melhores avelãs já vêm torradas e descascadas num pacotinho embalado a vácuo. A única coisa a fazer é abri-lo, tombá-las para uma tigelinha, acrescentar-lhes flor de sal (ou não) e comê-las.

As melhores avelãs do mundo são do Piemonte: são as únicas que têm direito a IGP. As melhores do Piemonte — que eu saiba, embora seja inconcebível que possam melhorar para além da mais pura delícia — são as da Pariani. Eu compro-as na excelente Shop Piemonte (shopiemonte.com) que também está cheia de outras coisas boas. São as “nocciola Piemonte IGP tostata”. A Shop Piemonte também está na Amazon italiana — onde sou fiel cliente — para quem prefira.

As avelãs do Piemonte são realmente melhores do que as outras? Sim, são. Não por serem, de facto, melhores. São é muito mais seleccionadas. Basta ver um dos muitos documentários sobre a indústria da avelã. Os italianos comem tanta avelã em bolos, gelados e chocolates que as avelãs mais feias e chatas vão para fazer pastas e cremes, ficando as mais redondinhas para torrar e comer.

Para melhorar o Natal (e o ano, e a vida) porque não acompanhar as bebidas — com ou sem álcool — com estas avelãs? As avelãs não são apenas deliciosas: também são boas para a saúde. Como decisão para 2018, que tal prometer que, para acompanhamento de bebidas (e suposto aperitivo), só se vai comer avelãs, amêndoas, nozes e pinhões?

As amêndoas e pinhões têm de ser torradas em casa (o que dá um certo trabalho) mas as avelãs já estão prontas. É incrível mas é verdade: as da Pariani são muito melhores do que as avelãs feitas em casa, a partir de avelãs inteiras.

Para fazer uma comparação, encomendei avelãs da (justamente) famosa Casa Gispert de Barcelona, onde as avelãs são torradas na própria loja, na mesma máquina de torrar que lá funciona desde 1851.

As avelãs da Gispert não são embaladas no vácuo mas sim num gás que garante a frescura delas. São muito boas mas são desiguais, como acontece com as avelãs caseiras. Algumas são amargas, outras sabem a fumo (quase a salmão fumado). Isto deve-se ao facto de os torradores da Gispert usarem lenhas especiais (como a oliveira) para temperar as avelãs. Isto torna-as únicas no mundo mas, de um ponto de vista fanático, afasta-as um bocadinho da pureza.

As avelãs da Gispert são excepcionalmente boas, até porque são claramente superiores às avelãs que torramos em casa. São artesanais mas não são hiper-seleccionadas como as da Pariani. Outra diferença é a pele. As peles das avelãs são notoriamente difíceis de tirar. Depois de torrá-las, esfregam-se com uma toalha ríspida para removê-las — mas fica sempre muita pele.

Ora, a amargura da pele faz parte do encanto gastronómico da avelã: é um contraponto. No entanto, depois de entrar em êxtase com as avelãs da Pariani, descobri que as avelãs ainda são melhores (mais doces, mais avelãzadas) sem qualquer gosto de pele. São como as amêndoas. As amêndoas torradas também ficam deliciosas com um bocadinho estaladiço de pele — mas, a longo prazo, quando são mesmo boas, são melhores nuas, sem pele.

Sabemos quando descobrimos um ne plus ultra. De certa maneira é triste, porque é o fim de uma viagem. Mas só é triste dessa certa maneira. Bom Natal!

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