Ficção: o melhor do ano

Escolhas de Helena Vasconcelos, Hugo Pinto Santos, Isabel Lucas, José Riço Direitinho.

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8

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Swing Time

Zadie Smith

Ed. Dom Quixote

É o quinto e o melhor romance da britânica Zadie Smith. Duas raparigas, ambas mestiças, moradoras na periferia pobre de Londres, sonham em ser dançarinas. O mote é breve para um livro poderoso sobre o poder da linguagem, o preconceito contido na palavra exótico, o papel das mulheres, a frustração, e a dança como suprema arte. Será? Tudo cabe numa história de duas mulheres. I. L.

8

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O Ministério da Felicidade Suprema

Arundhati Roy

Edições Asa

Um romance que é a imagem da Índia, com as suas gigantescas diferenças, como a enraizada estrutura das castas, as múltiplas línguas e religiões, as lutas territoriais e as monstruosas desigualdades entre ricos e pobres. Roy é a escritora que contraria as divisões e fronteiras, juntando personagens improváveis, como a "hijra" Anjum e o guerrilheiro Musa, entre muitos outros protagonistas, num relato majestoso, feito de tragédia e humor, de vida e morte. H.V.

8

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Alexandre Andrade
Descrição Guerreira e Amorosa da Cidade de Lisboa

Relógio D'Água

Quando a invenção se une ao rigor, e a disciplina formal equilibra a liberdade artística, atinge-se um patamar raro. Neste breve romance confluem duas épocas históricas distintas, através da fina ironia do autor, da sua notável capacidade de gerir o inverosímil e o quotidiano, o palpável e o transcendente. H.P.S.

5

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Pequenos Boémios

Eimear McBride

Elsinore

Eimear McBride parte de acontecimentos banais, narrando-os de maneira a torná-los numa outra experiência, por vezes estranha, ou pelo menos vista de uma maneira menos usual, mas sempre com uma vitalidade que contagia o leitor e o faz prosseguir na leitura. De maneira épica, leva-nos através do "íntimo", da ansiedade de crescer depressa. J.R.D.

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As Coisas que Perdemos no Fogo

Mariana Enriquez

Quetzal

Doze narrativas violentas e irónicas, escritas por esta jornalista e contista argentina, relatam a tragicomédia perpétua da América Latina, com incidência em personagens marginalizadas, perdidas e assombradas. São histórias fantasmagóricas sobre bandidos, toxicodependentes, transexuais, mutilados, vítimas e representantes da corrupção social e política, do abuso do poder, do crime sem castigo, do desespero, na grande tragédia quotidiana. H.V.

5

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Baixo Contínuo

Rui Nunes

Relógio D’Água

Formando díptico com A Margem de Um Livro (Cosmorama, 2017), esta melodia atonal surge sempre mais cortante do que cantante. “A escrita rompe, rompe-se”, porque é seu limite a impossibilidade de organizar pela memória o que é agramatical, confuso, caótico, sanguíneo, num mundo de “Restos, sobras”. H.P.S.

4

 A Contraluz

Rachel Cusk

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Quetzal

Faye, professora de escrita, é uma estrangeira em Atenas, cidade onde chega num Verão inclemente. Insidiosamente, as pessoas que vai conhecendo começam a contar-lhe as suas próprias histórias, os seus pequenos e grandes dramas, as suas frustrações e anseios. Faye, recipiente e transmissora destas narrativas, ocupa o lugar da autora, esbatendo a fronteira entre ficção e realidade. H.V.

3

O Meu Nome Era Eileen

Otessa Moshfegh

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Alfaguara

Dá ares de "romance negro", mas a autora extravasa as regras e faz um brilhante retrato de uma personagem complicada, neurótica, e com traços de sociopatia. O leitor assoma para uma sociedade hipócrita, para a sordidez que se esconde por detrás das portas, e para o abuso infantil e juvenil num reformatório. J.R.D.

2

Até Que As Pedras Se Tornem Mais Leves Que a Água

António Lobo Antunes

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D. Quixote

É o regresso de Lobo Antunes à Guerra Colonial, de onde, por vezes, parece nunca ter saído. Num tenso exercício poético de linguagem, entre silêncios sem redenção e incapacidades de dizer, um pai e um filho procuram-se num mergulho em apneia num mar feito de memórias para saberem do amor e da morte: da vida. J.R.D.

1

George Saunders

Lincoln no Bardo

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Relógio D' Água

O mínimo que se pode dizer é que George Saunders (Texas, 1958) não desiludiu na sua estreia no romance. De tal forma que convenceu o júri do Man Booker Prize, normalmente a jogar pelo seguro, a dar o prémio da sua edição de 2017 a este livro experimental, arriscado, que cruza vozes de vários tempos, de vivos e de mortos, oralidade e testemunhos documentais para compor um conjunto de grande audácia poética. George Saunders saiu do conto, o seu género de eleição, para escrever um romance dilacerante. Sobre o sofrimento de um pai que perde um filho criança. O pai era o então presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln e o filho, Willie, de 11 anos, que não resistiu à doença. Em Lincoln no Bardo, título do romance, o termo bardo não se refere ao poeta, mas remete para o LivroTibetano dos Mortos onde se fala da terra dos mortos, território habitado por uma espécie de fantasmas, interlúdio entre a morte e o renascimento. Esse é o bardo que serve a Saunders para construir um romance próximo da experiência da alucinação, mas não isenta de emoções. Entramos num nirvana no momento em que Lincoln se ajoelha na campa do filho, no cemitério de Georgetown, Washington, numa noite de 1862, e à dor individual se junta a de um país em plena Guerra Civil. Lincoln é o corpo dessa dor, pessoal e colectiva, figura central deste épico de George Saunders. I.L.

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