Carraça e uma pena de dinossauro ficaram presas 100 milhões de anos num pedaço de âmbar

Em resina fóssil, foi descoberta uma carraça agarrada a uma pena de dinossauro. Provou-se que elas já sugavam os dinossauros.

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Pedaços de resina fossilizada onde as carraças e uma pena de dinossauro ficaram preservadas e, ao centro, uma carraça actual E. Peñalver

Já se têm feito descobertas únicas em âmbar, como a história de amor entre dois insectos, bem como uma carraça ou a cauda de um dinossauro emplumado. Agora, num “dois em um”, foi descoberta uma carraça agarrada a uma pena de dinossauro, aprisionada em âmbar de há cerca de 100 milhões de anos. Esta é a primeira prova de que os dinossauros andaram a ser sugados por um dos parasitas externos mais comuns nos nossos cães e que representa uma ameaça para a saúde dos animais e também dos seres humanos. Foram ainda encontrados nesta resina fossilizada exemplares de uma outra carraça, que é uma espécie nova para a ciência.

É extremamente raro encontrar fósseis de parasitas que se alimentem de sangue associados a restos do seu “anfitrião”. E até agora nenhuma tentativa de extracção de ADN de um espécime conservado em âmbar teve qualquer sucesso. Mas a “carraça dura” (Ixodidae) descoberta está mesmo agarradinha à pluma de um dinossauro. Por isso, não será preciso andar à procura no estômago do parasita para saber à custa de quem se banqueteava. Além disso, descobriu-se que a pena tem uma estrutura semelhante às penas das aves actuais. E que plumas como essa já estavam presentes numa ampla variedade de terópodes, um grupo de dinossauros bípedes dos quais descendem as aves.

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A carraça que estava agarrada à pena de dinossauro Nature Communications/ Peñalver et al.

Por outro lado, descobriram-se ainda três exemplares de uma nova espécie para a ciência, a Deinocroton draculi, já extinta mas só agora descrita num artigo científico, publicado esta segunda-feira na revista Nature Communications. Um dos exemplares dessa “terrível carraça Drácula” foi encontrado notavelmente engrossado com sangue, aumentando o seu volume em aproximadamente oito vezes. Mas como não estava agarrado à pluma (como a “carraça dura”), os cientistas não têm a certeza se o sangue é de um dinossauro. Porém, encontraram-se – presas a duas carraças Deinocroton preservadas juntas – estruturas semelhantes a penugem de larvas de insectos dermestídeos, que hoje se alimentam de penas, pele e penugem em ninhos.

“O aprisionamento simultâneo de dois parasitas externos – as carraças – é extraordinário”, afirma num comunicado da Universidade de Oxford (Reino Unido) um dos autores do artigo científico, David Grimaldi, do Museu de História Natural da América. “E pode ser melhor explicado se vivessem em ninhos, como fazem algumas carraças actuais, que têm o ninho no hospedeiro ou nas proximidades.”

Estas novas descobertas contribuem assim para provar que as carraças parasitaram e alimentaram-se de sangue de dinossauros, dentro da linhagem evolutiva que deu origem às aves actuais. E não só se “agarraram” a quem permitiu que sobrevivessem, como prosperaram e ainda nos incomodam nos dias de hoje.

Texto editado por Teresa Firmino

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