Banco Mundial deixará de financiar exploração de combustíveis fósseis em 2019

Na One Planet Summit, 225 fundos de investimento de todo o mundo juntaram-se para pressionar as 100 empresas mais poluentes a reduzirem as suas emissões.

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A cimeira reuniu cerca de 50 chefes de Estado em Paris e foi apadrinhada por Macron Reuters/BENOIT TESSIER

O Banco Mundial vai deixar de financiar a exploração e a produção de petróleo e de gás, esta é uma das várias as medidas que saíram da cimeira do clima a decorrer nesta terça-feira em Paris. Outra iniciativa foi posta em marcha pelos responsáveis de 225 fundos de investimento de todo o mundo, que vão pressionar as 100 empresas mais poluentes a reduzirem as suas emissões e a avançarem para a transição energética.

As entidades que lançam a iniciativa "Climate Action 100+" gerem activos no valor de 26,3 biliões de dólares (cerca de 22,4 biliões de euros) e apresentaram o seu compromisso durante a Cimeira Um Planeta (One Planet Summit), promovida pelo Presidente francês, Emmanuel Macron. A cimeira contou com a presença de cerca de 50 chefes de Estado e de Governo, incluindo o primeiro-ministro português António Costa, além do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e do presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim.

A estratégia da "Climate Action 100+" é para os próximos cinco anos e prevê a publicação anual de uma informação com os avanços do grupo de empresas em questão, como a petrolífera francesa Total, a energética espanhola Gas Natural SDG e os fabricantes de automóveis Fiat e Volvo.

No âmbito desta iniciativa, os fundos comprometem-se a trabalhar com as empresas em que investem para garantir que actuam no sentido de minimizar os riscos das alterações climáticas e maximizar as oportunidades trazidas pela transição energética. Segundo indicam num comunicado, as entidades que estão nesta iniciativa pediram aos conselhos executivos daquelas empresas que trabalhem para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e para que, na sua gestão, tenham em consideração estes desafios e oportunidades. As empresas implicadas trabalham principalmente nos sectores do gás, petróleo, energia eléctrica e transportes.

Como explicaram em conferência de imprensa os promotores da iniciativa, aquelas empresas vão saindo da "lista negra" à medida que forem avançando nos objectivos fixados.

Por outro lado, na altura de tomar decisões financeiras, os investidores poderão ter em conta os progressos que essas empresas fizeram. Os fundos de investimento que se juntaram para firmar esta iniciativa asseguram estar a dar mais um passo para o compromisso assumido em 2015 com a adopção do Acordo de Paris, visando conseguir limitar a subida da temperatura média do planeta a dois graus Celsius no final do século.

Banco Mundial quer alinhar com Acordo de Paris

Por outro lado, o Banco Mundial vai deixar de financiar a exploração e produção de petróleo e de gás a partir de 2019. A meta desta decisão é "alinhar pelos objectivos do Acordo de Paris" os financiamentos que disponibiliza aos Estados, explica o Banco Mundial num comunicado.

Quando cada vez mais entidades financeiras avançam com a vontade de se afastarem do carvão, a forma de energia mais poluente, o Banco Mundial é a primeira instituição bancária multilateral a assumir um compromisso sobre a exploração e produção de petróleo e de gás.

No entanto, em algumas "circunstâncias excepcionais", o Banco Mundial poderá continuar a financiar projectos de gás "nos países mais pobres, onde há um benefício claro em termos de acesso à energia", e na condição de que não se contrarie os compromissos assumidos por estes Estados no âmbito do Acordo de Paris.

Em 2016, os financiamentos do Banco Mundial à indústria petrolífera e do gás atingiram cerca de 1,6 mil milhões de dólares (cerca de 1,4 mil milhões de euros), ou seja, menos de 5% da totalidade dos financiamentos atribuídos nesse ano. A partir do próximo ano, a instituição vai publicar todos os anos as emissões de gases com efeito de estufa dos projectos que financia nos sectores que mais emitem, como a energia, acrescentou.

Com isto pretende também generalizar a contabilização de um preço interno do carbono nos seus investimentos futuros.

Além destas medidas decididas na cimeira de Paris, a Fundação Hewlett anunciou que vai doar 600 milhões de dólares (cerca de 509 milhões de euros) nos próximos cinco anos a organizações sem fins lucrativos que tenham como objectivo a luta contra as alterações climáticas.

Macron pede mobilização "muito mais forte"

O Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu nesta terça-feira ser indispensável "uma mobilização muito mais forte" para limitar a subida da temperatura do planeta abaixo dos 2º Celsius, numa entrevista publicada no jornal Le Monde.

"Estamos muito longe do objectivo do Acordo de Paris de conter a subida das temperaturas abaixo do nível dos 2ºC e, se possível, 1,5º. Sem uma mobilização muito mais forte e um choque nos nossos modos de produção e de desenvolvimento, não conseguiremos", afirmou Emmanuel Macron. Os compromissos internacionais "colocam-nos actualmente numa trajectória [que leva] aos 3,5º de aquecimento do planeta", apontou.

O Presidente francês voltou a realçar que o Acordo de Paris "foi fragilizado pela decisão norte-americana de sair", anunciada por Donald Trump em Junho.

"O que vai salvar o clima não são mais as grandes cimeiras diplomáticas, é uma mobilização de todos os dias, é muito mais transparência" e é o conjunto das partes da sociedade, referiu.

Emmanuel Macron apontou que "é exactamente por isso que esta cimeira foi organizada" e explicou que o objectivo é "aliar mensagens de indignação - porque as pessoas estão adormecidas - e um apelo à mobilização, à acção concreta".

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