Nuno Crato responde a João Costa: "Facilitismo não tem dado bons resultados"

Em causa está a descida dos resultados dos alunos do 4.º ano de escolaridade na avaliação internacional PIRLS, que visa aferir a literacia em leitura das crianças entre os nove e os 10 anos de idade.

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Nuno Crato lembra que os testes PIRLS se realizaram já depois do anúncio do fim dos exames do 4.º ano NFS - Nuno Ferreira Santos

O ex-ministro da Educação, Nuno Crato, considerou nesta terça- feira, em declarações ao PÚBLICO, que a descida dos resultados dos alunos portugueses do 4.º ano na literacia em leitura, testada na avaliação internacional PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study), não é alheia à postura deste Governo face à avaliação dos alunos.

“Uma coisa é certa para já: provas realizadas num ambiente de facilitismo, em que as avaliações não servem para nada, em que se propaga que as metas devem ser menos ambiciosas e que o ensino não deve ir tão longe não têm dado bons resultados”, afirmou Nuno Crato. Horas antes, o secretário de Estado da Educação, João Costa, tinha culpado o ex-ministro pela descida dos resultados, indicando que estes se devem “às medidas tomadas entre 2012 e 2015”.

As provas do PIRLS foram realizadas em Fevereiro de 2016, dois meses depois de o actual Governo entrar em funções. Para Crato tal tem um significado: foram feitas “num ambiente em que a importância da avaliação tinha começado a ser menorizada — por exemplo, com o fim das provas finais de 4.º ano”. Um fim que foi também anunciado pouco antes da realização dos testes PIRLS.

O ex-ministro da Educação considera “curioso o contraste entre a atitude que o Governo hoje toma e a que tomou há quase um ano, quando saíram resultados muito mais importantes e significativos, os do PISA e do TIMSS, que nos mostraram a subir continuamente, e de 2011/12 para 2015, e nos colocaram acima da média da OCDE e mesmo acima da Finlândia, na Matemática do 4.º ano”.

O "jogo de apontar culpas aos outros”

“Na altura parecia que esses resultados, que foram os nossos melhores de sempre, não importavam e que até se deviam às políticas que preconizavam. Agora os actuais governantes entram no jogo de apontar culpas aos outros”, diz Crato.

O ex-ministro defende que os resultados do PIRLS “deverão ser estudados com atenção”, evitando “adoptar perspectivas apressadas e partidarizadas”. “É importante ver o que pode melhorar a educação dos jovens na leitura, e certamente que isso exige mais atenção aos resultados, à avaliação, a metas exigentes e ao trabalho. Não o contrário”, acrescenta.

Os alunos portugueses que em 2016 realizaram o PIRLS fazem parte do primeiro grupo a ser abrangido, em todo o 1.º ciclo do ensino básico, pelas metas curriculares definidas no mandato de Nuno Crato e que foram criticadas pela Associação de Professores de Português, nomeadamente por estarem em contradição com o programa que estava em vigor para a disciplina.

Na apresentação pública dos resultados, o secretário de Estado João Costa nunca se referiu explicitamente às metas curriculares, que continuam em vigor, mas adiantou que os resultados agora conhecidos “não surpreenderam” o Ministério da Educação.

“Desde o início temos uma prática regular de trabalho com as escolas e foram muitos os directores e professores que nos reportaram preocupação com o 1.º ciclo, com os alunos a serem treinados para um momento de avaliação específica [exames] e uma baixa preocupação com os processos” de aprendizagem, referiu.

Por comparação a 2011, ano da anterior edição do PIRLS, a média dos alunos portugueses desceu 13 pontos. Passou de 541 para 528, numa escala em que a média é 500. Dos 50 países testados no PIRLS em 2016, só o Irão, com uma descida de 29 pontos, ultrapassa Portugal nesta queda.

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