John OIiver confronta Dustin Hoffman com acusações de assédio sexual

O apresentador do Last Week Tonight moderou uma conversa com o actor Dustin Hoffman, acusado de assédio sexual a uma menor, e fez questão de falar do "elefante na sala".

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Dustin Hoffman foi acusado pela escritora Anna Graham Hunter LUSA/JULIEN WARNAND

O debate que juntou esta segunda-feira o apresentador britânico John Oliver e o actor norte-americano Dustin Hoffman não podia ter sido mais tenso. Hoffman era um dos convidados de um evento para assinalar os 20 anos do filme Manobras na Casa Branca (de 1997, em inglês: Wag the Dog), sobre um escândalo a atingir a Presidência e a decisão de bombardear um país para desviar as atenções (o paralelo com a era Clinton era evidente). Oliver, que moderou a conversa entre os convidados antes da exibição do filme, confrontou Hoffman com o alegado caso de assédio sexual de que é acusado pela escritora Anna Graham Hunter, quando esta era a sua sua estagiária, em 1985, durante a rodagem do filme A Morte de um Caixeiro Viajante (Death of Salesman), À data, Hunter era menor de idade.

“Temos de falar disto porque é uma coisa que está a pairar aqui no ar”, começou por avisar Oliver. No palco estavam ainda Robert De Niro e o realizador Barry Levinson, bem como a produtora Jane Rosenthal. O apresentador do programa satírico Last Week Tonight prosseguiu e perguntou a Hoffman se considerava suficiente a declaração que fez à data da denúncia.

“Tenho o maior respeito pelas mulheres e sinto-me terrível por qualquer coisa que possa ter feito e que a possa ter colocado numa situação desconfortável. Sinto muito. Não reflecte quem sou”, declarou, na altura, Hoffman em comunicado.

Já esta segunda-feira, o actor norte-americano insinuou que o seu comunicado foi interpretado como uma admissão de culpa pela imprensa que, diz, terá omitido o “se” do seu comunicado.  “Antes de mais, não aconteceu da forma que ela relatou”, respondeu. “Continuo sem saber quem ela é. Nunca a conheci. Se a conheci foi num concerto, com outras pessoas”, afirmou, repetindo que acreditava que não tinha feito nada de mal.

Mas Oliver não aceitou a resposta e insurgiu-se contra a defesa apresentada por Hoffman no comunicado de que o incidente não reflecte a pessoa que é. “É este tipo de resposta a estas coisas que me tira do sério”, reagiu John Oliver.

“Reflecte aquilo que tu eras. Se não provares de forma alguma que não aconteceu, então confirmas que existiu uma fase da tua vida em que eras um pulha em redor das mulheres. Parece uma desculpa afirmar 'bom, este tipo de pessoa não é quem eu sou'. Compreendes como é que isto parece uma desresponsabilização?”, questionou Oliver.

Steve Zeitchik, jornalista do Washington Post, relatou o momento no Twitter e contou a história no jornal.

A tensa discussão manteve-se durante cerca de 30 minutos. Hoffman disse que era difícil responder e lembra que John Oliver não estava "lá". Oliver respondeu “ainda bem que não estava”. “Que julgamento tão rápido”, criticou Hoffman. O actor prosseguiu e defendeu que os comentários de teor sexual faziam parte de um ambiente “natural” à época. “Eu disse coisas estúpidas. A equipa também disse coisas estúpidas. Fazia parte do humor. E foi há 40 anos”, continuou Hoffman, visivelmente desconfortável.

“Não adoro essa resposta”, retorquiu Oliver. O apresentador lembrou que não estava a discutir o tema porque lhe estaria a dar prazer, mas por considerar que não existe um clima de reflexão sobre o problema do assédio sexual.

Quando parecia que o assunto estava encerrado foi Hoffman quem voltou ao tema para acusar de Oliver de não manter “todas as opções em aberto” e acreditar nas acusações “sem questionar”. “Acreditas no que lês?”, perguntou Hoffman. Oliver respondeu que sim, porque “ela [Anna Graham Hunter] não teria razões para mentir”. “Bom, ela não falou disso durante 40 anos”, defendeu-se Hoffman. “Oh Dustin!”, reagiu John Oliver, enquanto baixava a cabeça.

Foi então que a produtora do filme, Rosenthal, tentou conduzir a conversa para o que estávamos a aprender com as acusações, mas Oliver lembrou que o painel estava a discutir um filme baseado num comportamento sexual impróprio conduzido por um homem poderoso, e que por isso fazia sentido falar do “elefante no meio da sala” criado por um dos protagonistas do filme.

Hoffman recorreu à sua participação no filme Toostsie (1982), onde encarna um actor sem sucesso que tem de fingir que é uma mulher para conseguir um papel para uma peça. “O tema do filme é a transformação num homem melhor, depois de ter tido a experiência de ser uma mulher”, assinalou. “Não teria feito o filme se não tivesse um incrível respeito pelas mulheres.”

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