As letras, a música e o legado de António Variações num colóquio em Coimbra

Variações sobre António decorre quinta e sexta-feira na Faculdade de Letras e termina com um concerto.

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PAULO PIMENTA

António Variações vai ser a personagem central de um colóquio multidisciplinar na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), onde se dissecarão as letras, a música, o legado e o universo do artista, à luz do contexto da transição da ditadura para o Portugal europeu. Variações sobre António, que decorre nos próximos dias 7 e 8, irá da semiótica à música, da História à sexualidade, adiantou à agência Lusa o responsável pela organização, Osvaldo Silvestre, docente da Faculdade de Letras e confesso fã do músico.

Entre as comunicações que serão apresentadas no colóquio, há uma "cartografia musical" de Variações, uma análise semiótica da sua obra, uma abordagem ao legado de "um precursor de um pop-erudito", uma reflexão sobre aspectos da modernização da tradição e uma análise comparada de Variações de David Bowie. Serão também abordados os seus vídeos musicais e a construção da persona queer do artista.

"Ocorreu-me fazer o colóquio para ver como a universidade respondia a este desafio", sublinhou Osvaldo Silvestre.

No entanto, sendo a figura em questão António Variações, "um colóquio não seria suficiente", e a organização optou por criar um programa paralelo, tendo aberto um concurso para propostas de performances em torno do artista, que terão lugar esta quinta-feira na Sala do Carvão e na Casa das Artes. O segundo e último dia do colóquio termina com o concerto Sempre Além: Um Espectáculo em Torno de Variações, no Teatro Académico de Gil Vicente, em que participam artistas de Coimbra como Pedro Chau (The Parkinsons e Ghost Hunt), Victor Torpedo (The Parkinsons e Tédio Boys) ou Carlos Mendes (Tédio Boys e Bunnyranch), assim como o irmão de António Variações, Luiz Ribeiro.

"Um aspecto estimulante da personagem é que o Variações permite ler o Portugal dos anos 1980 e a transição do Estado Novo para o Portugal da Europa. Apesar de ter morrido antes de Portugal entrar na Europa, num certo sentido, Variações já estava na Europa", realça o docente da FLUC, sublinhando que no âmbito da sua criação artística se mistura "um apelo muito popular" com o pop-rock que eclodia nessa época em Portugal.

Variações "permite ler muitas coisas sobre a sociedade e a cultura portuguesas", constata, considerando que o artista que deixava muita gente "de boca aberta" quando aparecia na televisão acabava por ter um "grande apelo para pessoas muito diferentes". "Havia essa estranheza da diferença, mas chegava a pessoas" de diferentes contextos, sublinha Osvaldo Silvestre, apontando o exemplo dos seus próprios pais.

O colóquio também pretende fazer algo "pouco comum" em Portugal: trazer os artistas para a academia. "A obra de Variações pode ser objecto de trabalho académico. Lá fora isso é muito comum", frisa o investigador, referindo que em 2018 será editado um livro reunindo as melhores comunicações do colóquio.

O colóquio e as performances têm entrada gratuita. O bilhete para o concerto custa dez euros.

António Variações nasceu em 1944 numa pequena aldeia do concelho de Amares, distrito de Braga, tendo passado por Lisboa, Angola (onde cumpriu serviço militar), Amesterdão e Londres.

Um ano depois da estreia em 1982 com o single Povo que lavas no rio/Estou além, lançou o seu primeiro LP, Anjo da Guarda. Em 1984, lançaria o seu segundo e último álbum, Dar & Receber, vindo depois a falecer em Junho desse ano.

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