António Costa e Mário Centeno abriram as portas do Eurogrupo

Rui Machete e Francisco Seixas da Costa apontam influência de António Costa e desempenho de Centeno como os factores decisivos para que seja o ministro das Finanças português a liderar o Eurogrupo

Foto
António Costa, Santos Silva e Mário Centeno abritão as portas do Eurogrupo ao ministro portugês Reuters/PEDRO NUNES

A candidatura de Mário Centeno não obedeceu a uma clássica ofensiva diplomática de Portugal na União Europeia (UE). Foi antes de tudo, um trabalho de António Costa e do próprio ministro das Finanças na aplicação de uma política económica cujos resultados surpreenderam em Bruxelas.

“Mário Centeno tem introduzido uma certa lógica racional, conseguiu uma política de menos gastos no Governo”, admite Rui Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros de Pedro Passos Coelho. “Do ponto de vista político e técnico tem conseguido desempenhar uma política de aparente menor austeridade”, ironiza o antigo chefe da diplomacia.

“O prestígio de Mário Centeno no Eurogrupo foi conseguido numa lógica de medidas que não eram óbvias”, afirma Francisco Seixas da Costa, secretário de Estado dos Assuntos Europeus nos governos de António Guterres, entre 1995 e 2001. “Centeno cumpriu o que disse, o que forçou ao seu reconhecimento pela Alemanha e o ministro Wolfgang Schäuble”, prossegue o diplomata recordando o epíteto de “Ronaldo das Finanças” ao ministro português do seu homólogo germânico. No entanto, Seixas da Costa é prudente. “Não acredito numa mudança  europeia em relação à ortodoxia económica, Mário Centeno ganhou espaço, mas não acredito que a Europa admita que havia uma alternativa, mas sim que era possível uma terapia menos dolorosa nesta segunda fase do tratamento”, adverte. Dito de outro modo: “eles [UE] não consideram que a primeira terapia foi errada, mas que é possível um amortecimento das políticas.” E termina com ironia: “afinal Centeno não servia para chefe de gabinete de estudos do Banco de Portugal e serve para presidente do Eurogrupo.” Uma referência à oposição do governador Carlos Costa a que o actual ministro das Finanças assumisse aquela responsabilidade no banco central. Contudo, Francisco Seixas da Costa antevê na eleição de Mário Centeno um passo numa reconciliação da Europa com os países do Sul. “Não pondo em causa o trajecto, mas demonstrando que se pode ir por outro caminho numa austeridade soft”, explica. Neste processo, os dois anos de contactos políticos de António Costa, para além do limitado campo da família socialista europeia, foram decisivos.

“A situação dos socialistas europeus tem vindo a piorar”, pondera Rui Machete. Pelo que a acumulação de cargos nas mãos da direita do Partido Popular Europeu – presidências do Conselho, da Comissão e do Parlamento – abriu espaço para a manutenção de um socialista à frente do Eurogrupo: depois do holandês Jeroen Dijsselbloem, o português Mário Centeno.

“Centeno é fruto dele”, prossegue o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros. “Em países pequenos, as escolhas têm motivações de ordem política, mas é evidente que a diplomacia teve mérito”, admite Machete. “A política externa portuguesa não tem corrido mal, o ministro dos Negócios Estrangeiros é razoavelmente bom”, conclui o antecessor do actual titular da pasta, Augusto Santos Silva.

Sugerir correcção
Comentar