Lisboetas querem mais cultura, um memorial aos escravos ... e um monumento que até tem pasta Couto

São 15 os projectos vencedores da décima edição do Orçamento Participativo. Entre espaços culturais, uma ambulância de socorro animal, há ainda espaço para ver Lisboa pela cortiça, uma garrafa de vinho, pasta medicinal Couto ou um marco de correio.

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Carnide vai ter um novo pólo cultural, onde "inclusão social" são as palavras de ordem. Foi esta a ideia que arrecadou mais votos na edição deste ano do Orçamento Participativo de Lisboa. O projecto, que prevê a “construção de uma estrutura cultural para dinamização e para a produção de espectáculos de teatro, formações e actividades de cariz performativa", conquistou 5922 votos. 

Os vencedores da décima edição do Orçamento Participativo foram anunciados nesta segunda-feira pela câmara de Lisboa. Este ano, estiveram a votação de 17 de Outubro a 22 de Novembro,128 projectos, dos quais 80 eram considerados estruturantes e 48 de âmbito local, e visavam as áreas da reabilitação urbana e espaço público, da estrutura verde, ambiente e energia, e das infra-estruturas viárias, mobilidade e transportes. Contaram-se 37.673 votos.

O projecto que reuniu mais votos dos lisboetas, orçado em 500 mil euros, quer envolver a comunidade na criação de “um espaço de experimentação e pesquisa para a criação em rede”. Com prazo de execução de dois anos, este novo espaço cultural da cidade de Lisboa quer estar aberto a intercâmbios internacionais de formação e criação performativa. 

Com 4114 votos, o segundo projecto mais votado quer espalhar uma obra de “arte pública” pela capital. O objecto será a palavra "Lisboa", e cada letra simbolizará “uma dimensão cultural" relacionada coma cidade e com Portugal. Como? Servindo-se da cortiça, “um sector em franca expansão é uma das marcas nacionais e com múltiplas utilidades”, que representará a letra L. Segundo o texto que acompanha a proposta, o I será representado por uma garrafa de vinho. Já os azulejos representarão a letra S, a letra b, será dedicada “especificamente ao povo português”, representado por dois objectos “de grande simbolismo nacional”, dizem os promotores: o marco do correio, dedicado “aos nossos idosos”, e a pasta medicinal Couto, que "personifica uma experiência forte e gratificante", que é o que se deseja aos turistas. 

O futebol também estará presente na letra O, que será representada por uma bola, para ser uma “homenagem a todos os atletas nacionais das várias modalidades”. Estará revestida com calçada portuguesa, que os promotores dizem ser “inimiga das mulheres com saltos altos”. É precisamente um sapato, com salto alto, que vai representar a letra A. “Expressa tudo aquilo em que somos realmente bons, não só na indústria do calçado, como nas energias renováveis, tecnologia, mobiliário, cerâmica, têxteis... A letra A representa um olhar para o futuro e o sapato feminino traduz, simultaneamente, a elegância, singularidade e a atractividade”, escrevem os autores da proposta, que deixam ainda um pedido aos que visitam Portugal: “Desfrutem deste país mas não alterem as suas características paradisíacas”. Colocar estas letras pela cidade vai custar à autarquia 93 mil euros. 

Entre os projectos vencedores, está também a requalificação da piscina do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa (1418 votos), em Alvalade, que custará à autarquia 487 mil euros. Os lisboetas votaram também na compra de uma ambulância de socorro animal (2504 votos), “dotada de meios de emergência veterinária”, que implicará um investimento de 150 mil euros. 

À semelhança do ano passado, foi reservada uma verba de 1,5 milhões de euros para os projectos de âmbito local. No centro histórico, por exemplo, ganhou o projecto de construção de um memorial de evocação da escravatura, com 1176 votos, para “homenagear as vítimas” e “celebrar a abolição da escravatura e do tráfico de pessoas escravizadas”. 

A requalificação da Escola Básica São Sebastião (882 votos), nas Avenidas Novas, a construção de um novo Parque Infantil/Recreio do Bairro Horta Nova (3392 votos), assim como a criação de novos espaços culturais em Carnide e no antigo lavadouro da Ajuda, também entram no lote das ideias vencedoras e que serão incluídas no próximo orçamento municipal. 

Em dez anos, no âmbito do Orçamento Participativo de Lisboa, foram apresentadas mais de 62 mil propostas. Dessas, 7500 estiveram a votação e 105 sagraram-se vencedoras.

No evento em que foram anunciados os vencedores, o presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, saudou os que se dedicam a “pensar na cidade, nos seus bairros, nas suas colectividades, e em como as podem melhorar” e que, com as suas ideias, têm alterado a "visão da cidade sobre a fruição do espaço público".

Fernando Medina lembrou ainda projectos antigos como a recuperação do Cinema Europa, em Campo de Ourique, ou a Startup Lisboa, que nasceram pela mão de lisboetas neste projecto. Sem deixar, ainda, de relembrar o recordista no número de votos de todas as edições do Orçamento Participativo de Lisboa: o Jardim do Caracol da Penha, que prevê a abertura de um novo jardim público, nas freguesias de Arroios e Penha de França. Foi, no ano passado, o grande vencedor entre 17 projectos premiados, com 9477 votos - um número recorde que pertencia, até então, à proposta de requalificação do Jardim Botânico de Lisboa – que ainda não foi concretizada -, que, em 2013, tinha arrecadado 7553 votos. A expectativa agora passa por ver estes projectos saírem do papel

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