Popularidade de Portugal é o principal factor para atrair turistas

Conclusão consta de um relatório elaborado pela sociedade Augusto Mateus e pela EY, que coloca as low cost na nona posição na lista de factores que infl uenciam as vendas das agências.

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Nuno Ferreira Santos

A popularidade da “marca Portugal” é o factor que mais se destaca entre aqueles que tiveram uma influência positiva nas vendas das agências de viagens, com 86% de respostas positivas a um inquérito elaborado pela Augusto Mateus & Associados e pela EY junto dos associados da APAVT.

Segue-se a dimensão do mercado (medido pela intensidade turística), com 73%, e mais abaixo na tabela a “situação dos mercados emissores” (quinta posição, com 64% de respostas positivas) ou o “crescimento das companhias aéreas low cost” (nona posição, com 45%).

Os dados foram apresentados esta sexta-feira em Macau, onde decorre o 43º congresso nacional da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT).

Promovido por esta associação e coordenado por Sandra Firmino, economista da EY, o documento, além de evidenciar uma série de dados sobre o sector, mostra também o outro lado do espelho: Qual a principal ameaça? A “concorrência directa por parte dos fornecedores”, como hotéis e empresas de aviação, com 88% de respostas, seguindo-se a legislação fiscal. Destaca-se também, em quarto lugar, a opinião pública que “associa preços mais elevados às reservas através das agências de viagens”, com 64%, ou a concorrência das agências online (como o Booking), que surge em sétimo lugar, com 60%.

O estudo, que se debruça sobre o valor económico da distribuição turística em Portugal, mostra os grandes números do sector que, em 2016, e num contexto de crescimento, era composto por 2033 empresas, gerou um volume de negócios de 2131 milhões de euros e empregou quase dez mil pessoas.

Ao calcular o valor económico do sector da distribuição turística, chega-se a vários números, conforme o universo abrangido, mas que na sua versão mais alargada chega aos 3240 milhões de euros, ou 2,1% PIB. Isto em termos de contributo para a criação de riqueza, em termos de valor bruto acrescentado (VAB) e abrangendo os impactos directos, indirectos e induzidos. O montante apurado, realçou a responsável da EY, “corresponde a 18 vezes o VAB da Autoeuropa”, a fábrica da Volkswagen em Palmela.

Sublinhando que este é um sector “muito sensível aos ciclos económicos”, que soube recuperar das perdas recentes com “bastante vigor”, Sandra Firmino afirmou que “quase triplicou a rentabilidade das vendas”. Sobre o futuro, este passa, diz, por factores como a eficiência operacional e pela concentração, apostando também em segmento de turistas que valorizem um acompanhamento mais personalizado e planeado.

Pelo menos parte disso já parece estar a acontecer, com 74% das empresas a afirmar que a principal medida para responder às ameaças provocadas por mudanças na oferta e no consumo, potenciadas pela digitalização da economia e maior desintermediação, foi a de dar “maior enfoque no tratamento personalizado de cada cliente”. Segue-se a aposta na formação (67%) e o investimento em tecnologia (54%).

Poucas horas antes dos dados do relatório serem apresentados, três personalidades tinham feito uma análise da transformação digital e impacto no sector: Paulo Amaral, empresário e professor universitário ligado a estes temas; Ming Fong, director-geral da Travelport para o negócio online na Ásia e Pacífico; e Jeff Archambault, consultor e ex-responsável da Disneylândia de Paris. Algumas das conclusões: a digitalização da economia vai continuar para além da pesquisa/comparação de preços e marcação de viagens por telemóvel a qualquer momento ou local, com máquinas a tratar das questões mais simples (“Do you speak chatbot”?, foi a pergunta algo provocatória de Jeff Archambault) e a realidade virtual a ajudar a escolher o destino após o seu visionamento e experiência sensorial (algo que o Club Med, por exemplo, já faz).

Para este responsável, “há oportunidades para quem quer investir”, ou seja, os intervenientes tradicionais podem aplicar recursos em novas tecnologias e em formação, ao mesmo tempo que, num jogo de equilíbrios, devem estar sempre “atentos e ágeis” ao que está a mudar no negócio.

De uma coisa tem a certeza este consultor: com o advento da digitalização vai haver perda líquida de postos de trabalho, e serão os menos qualificados a cair primeiro.

Para Ming Fong, há que “combinar o melhor das tecnologias com o ângulo humano” para conseguir reagir e conseguir dar o que, diz, querem os clientes: experiências envolventes e mais escolhas, mas personalizadas. Centrado no consumidor, portanto, de forma fiável. Há que “utilizar a tecnologia a nosso favor, para tornar o sector mais forte”, sublinhou Paulo Amaral.

Pelo meio, o ex-ministro da Economia de um governo PS e fundador da consultora ligada ao relatório sobre as agências de viagens, Augusto Mateus, já tinha lançado outro tipo de alertas: a recuperação económica em Portugal, “é óbvia, mas tímida e com riscos”. Com a retoma em curso, em 2018 irá produzir-se mais ou menos a mesma riqueza de 2007, com a crise a atravessar-se pelo meio deste período.

Como pilar deste crescimento estão as exportações e, dentro delas, o turismo (na área dos serviços). É ao turismo e às viagens, diz Augusto Mateus, que o país “deve a resiliência com que enfrentou” a crise financeira, apresentando-se como peça “fundamental para a reinvenção do crescimento económico em Portugal” – até porque “não há recuperação do crescimento económico perdido”, afirmara antes. E deixou uma mensagem: a de que “Portugal tem de gostar do turismo para isto correr bem”.

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