Trump acredita em Putin quando este diz que não interferiu nas eleições

Presidente americano conversou com Putin sobre a questão à margem da cimeira da APEC. Kremlin garante que assunto não foi abordado. CIA repete que houve interferência.

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Putin e Trump numa das curtas conversas que mantiveram à margem da cimeira da APEC JORGE SILVA/Reuters

Os olhos de muitos observadores da cimeira da APEC, que decorreu em Da Nang, no Vietname, estavam postos no Presidente norte-americano, Donald Trump, e no seu homólogo russo, Vladimir Putin. A questão de se os dois iriam ter uma reunião bilateral ganhou relevância numa altura em que nos EUA alguns colaboradores da campanha de Trump estão a ser investigados por alegada colaboração com a Rússia para prejudicar os democratas.

Não houve reunião bilateral por "incompatilidade de horários" dos dois, mas Trump e Putin  falaram brevemente à margem da cimeira, em três curtas conversas em que Trump disse que foi abordada a questão da interferência. “De cada vez que me vê, ele diz: ‘Eu não fiz isso’. E eu acredito, acredito mesmo que está a ser sincero”, disse Trump aos jornalistas a bordo do Air Force One à saída de Da Nang, no Vietname. “Ele disse que não interferiu. Eu perguntei-lhe de novo. Não se pode estar sempre a perguntar”, disse ainda Trump quando questionado por jornalistas sobre se tinham falado sobre a interferência nas eleições dos EUA.

Acrescentando que Putin se sentia “muito insultado” com toda a situação, Trump comentou que "isto não é nada bom para o nosso país”.

Enquanto isso, a emissora norte-americana CNN perguntou ao porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, se Putin e Trump tinham discutido a eventual interferência da Rússia nos seus curtos encontros. Peskov respondeu: “Não”.

Mais, o director da CIA, Mike Pompeo, mantém a sua avaliação expressa em Janeiro de 2017: esta diz que houve, de facto, interferência da Rússia nas eleições para prejudicar a candidata democrata Hillary Clinton. O que está actualmente a ser investigado é se houve conluio com a campanha de Trump.

Pompeo causou polémica esta semana quando disse que a interferência russa não teria tido quaisquer efeitos no resultado da eleição, quando na avaliação de Janeiro a CIA dizia claramente que não se tinha dedicado ao impacto das actividades russas. 

O antigo embaixador dos EUA na Rússia, Michael McFaul, comentou no Twitter a declaração de Trump "acreditar" em Putin: “O nosso Presidente acredita num agente do KGB mas não na sua própria CIA?”, questionou, referindo-se ao treino que Putin, antigo agente dos serviços secretos russos, recebeu para dissimulação.

Síria: a solução não pode ser militar

Este foi o primeiro encontro que Trump e Putin tiveram desde Julho – quando ocorreu a primeira reunião pessoal dos dois, à margem de uma cimeira do G20 em Hamburgo, e falaram durante horas, partes das quais numa conversa que só foi revelada posteriormente e da qual não houve registo do conteúdo.

Apesar da brevidade das conversas, os dois emitiram um comunicado que se refere, sobretudo, à situação na Síria – em que a Rússia apoia o Presidente Bashar al-Assad (junto com o Irão e o movimento xiita libanês Hezbollah) e os EUA condenam os crimes do regime. Os dois lutam, no entanto, contra o Daesh.

Na declaração, Trump e Putin concordam que “não há solução militar para o conflito na Síria”, onde a ajuda da Rússia foi determinante para a posição de vantagem de Assad.  

Os dois assinaram uma declaração em que declaram a sua “determinação de derrotar o ISIS [outro nome para o Daesh]", que após grandes derrotas nos seus bastiões de Mossul (Iraque) e Raqqa (Síria) perdeu o território que conquistou e está ainda presente em pequenas aldeias – mas continua a ter uma importante presença virtual a partir da qual inspira e comanda atentados fora do seu território, uma espécie de “califado virtual”.

Trump e Putin também se manifestaram satisfeitos pelos “esforços para evitar incidentes perigosos entre militares russos e norte-americanos” na Síria, que permitiram mais eficácia contra o Daesh.

Com o movimento extremista quase derrotado no terreno, os dois pedem para que o processo diplomático com Assad e os rebeldes avance.

Trump disse que estava muito contente com a declaração conjunta, e acrescentou que esta permitirá “salvar um número imenso de vidas”.

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