Alojamento local em Lisboa com ocupação a 80% na semana da Web Summit

Evento faz com que Novembro deixe de marcar o início da época baixa em Lisboa.

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AHP diz que os hotéis da capital esperam uma taxa de ocupação de 88%, com um preço médio de 145 euros Daniel Rocha

A Web Summit, com os seus cerca de 60 mil participantes inscritos este ano, a esmagadora maioria dos quais estrangeiros, ajuda a tornar Novembro num mês de época alta de turismo. E, em termos de estadias, muitos optam por ficar em unidades de Alojamento Local (AL), sector onde é possível ter alguns dados objectivos sobre o impacto do evento, que decorre entre 6 e 9 de Novembro.

De acordo com dados fornecidos ao PÚBLICO pelo presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), Eduardo Miranda, na semana do evento a taxa de ocupação “andará em torno dos 80%”.

Apurados a partir de uma análise feita este sábado, no âmbito de um projecto-piloto, Eduardo Miranda afirma que são “dados reais de ocupação futura”, a partir de 8000 unidades, só da cidade de Lisboa. “Não estamos a falar de um evento que esgota a capacidade, mas tem um valor efeito muito positivo, já que Novembro costumava ser o início da temporada baixa com ocupações de 50 a 55%, e baixa de preços, e que agora equipara-se a época média-alta”, diz. O preço médio por noite ronda os 105 euros, com uma maior procura por apartamentos com três ou quatro quartos (arrendados por empresas).  

Os hotéis têm os seus próprios dados, mas já ligados a estimativas. Diz a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) que as unidades da capital esperam uma taxa de ocupação de 88%, com um preço médio de 145 euros. No ano passado, diz a AHP, a estimativa era a de que taxa de ocupação chegaria aos 85%, “mas verdadeiramente fechou nos 79%”, e o preço médio foi de 130 euros, quando se apontava para 163 euros.

Havendo hoje mais oferta do que há um ano (entre novas unidades e legalizações), estes dados servem para o presidente da ALEP afirmar, numa altura em que se preparam mudanças na lei, que eventos com a Web Summit “simplesmente não seriam viáveis sem a oferta do alojamento local”.

De acordo com Airbnb, cerca de 18.000 pessoas, ou seja, perto de um 1/3 do total dos participantes do evento (e mais 20% face a 2016, ano em que terão gerado cerca de 2,8 milhões de euros), optaram por fazer reservas no AL através desta plataforma. Mais dois indicadores: a Associação de Turismo de Lisboa estima que no ano passado tenham entrado mais 9,3 milhões de euros de proveitos globais na hotelaria da região, e a SIBS avança com levantamentos superiores a 350 mil euros só na área do recinto.

Uma questão de marca

Outro dado que costuma estar associado à Web Summit é a estimativa de 200 milhões de euros injectados na economia nacional por cada realização do evento, e que tem sido avançada pelo Governo e pela organização. Dados oficiais do Banco de Portugal, da exportação de serviços a nível nacional, mostram uma subida geral de 122 milhões de euros em Novembro de 2016 face a idêntico período do ano anterior.

A verdade é que não se sabe ao certo o impacto económico do evento, entre dormidas, refeições, deslocações e compras (até porque há outros eventos, como a Volvo Race este ano, e o turismo  também tem vindo a subir). Mas há também influências indirectas, mais intangíveis: a notoriedade da cidade e do país em termos de imagem internacional, associada a empresários, gestores e quadros de topo, divididos por empresas de renome mundial e startups mais (ou menos) promissoras.

Dados divulgados pelo Governo (que herdou o evento do executivo anterior) atestam que, entre Setembro do ano passado e 1 de Julho, houve 13.100 artigos sobre a Web Summit em diversos media internacionais, com cobertura em 119 países. Depois, há ainda a esperança de que tudo isto tenha repercussões no ecossistema nacional de empreendedorismo.

Olhando para a factura a pagar pelo Estado, que se comprometeu com apoios financeiros de 1,3 milhões de euros por ano, o que dá um total de 3,9 milhões (o acordo é de manter o evento por três anos, até 2018, podendo depois ser renovado por mais dois), percebe-se que há um balanço claramente positivo ao nível económico, com Lisboa de casa cheia a engordar as contas do turismo.

O receio dos transportes públicos

Pelo meio, e com a mobilidade a apresentar-se como um dos temas centrais da Web Summit (desde a questão da partilha até aos carros voadores), na capital de um país que tarda em legislar sobre a actividade de empresas como a Uber, há algum receio do efeito do encontro nos transportes da própria cidade.

No ano passado, Lisboa dizia-se preparada para receber mais de 50 mil pessoas, mas o caos nos transportes, mais evidente no metro, não escapou às críticas dos participantes da conferência que partilhavam o descontentamento nas redes sociais. Por exemplo na Alameda, estação de interface da linha verde com a vermelha - que conduz ao evento -, as fotografias partilhadas na altura mostravam muitas pessoas apeadas nas plataformas por não conseguirem entrar nas carruagens. O aumento do fluxo de passageiros levou mesmo a que o Metropolitano de Lisboa encerrasse a estação de Arroios, para que pudessem circular seis carruagens em toda a linha verde.

Este ano, e com a estação de Arroios encerrada para obras, o metro informou que vai “monitorizar, durante os dias da conferência, a circulação nas suas linhas, em especial na linha vermelha”, de modo a “ajustar a oferta à procura, a cada momento”. Além disso, diz a transportadora, está prevista, “uma estreita articulação” com a PSP, “de forma a garantir um serviço de transporte com as condições de segurança adequadas”.

A Carris afirmou ao PÚBLICO que a sua operação se manterá em “estreita ligação com a organização do evento e as autoridades locais”, para garantir que o serviço se encontra adequado à procura “nos diversos momentos programados para estes dias, e tendo em conta as alterações de circulação que poderão vir a ocorrer”.

Há, também, um reforço na vertente dos bilhetes. CP, Metro e Carris prepararam passes especiais, e operadora ferroviária vai disponibilizar uma tarifa especial de dois euros entre Santa Apolónia e Oriente durante os dias do evento.

As transportadoras informaram ainda que vão estar presentes nos locais de acreditação, como o aeroporto e a FIL, para “prestar informações” e ajudar na venda dos bilhetes.

Depois, há também outras alternativas, que incluem descontos dedicados ao evento, como é o caso de quem apanhar um táxi através da aplicação Mytaxi, enquanto a Uber reactivou o UberPool (viagens partilhadas, mais económicas). Esta é a terceira vez que a Uber traz esta modalidade das viagens partilhadas a Lisboa. A primeira foi precisamente há um ano, na primeira edição da Web Summit. No ano passado, durante dez dias, utilizadores de cerca de 60 nacionalidades decidiram partilhar as suas viagens, adiantou a empresa. 

Já a Cabify anunciou que vai reforça a frota na zona do Parque das Nações, e, para quem viajar na categoria Group, em veículos até oito lugares, a conta será mais ser reduzida.

Para já, e ao nível dos transportes, certo é que a circulação vai estar condicionada nas freguesias do Parque das Nações, Santa Maria Maior, Misericórdia e Alcântara.

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