Câmara de Lisboa só fecha Urban Beach a pedido da PSP

Autarquia já solicitou reunião urgente com MAI e polícia, após agressão de seguranças a jovens na quarta-feira de madrugada. CDS e Bloco de Esquerda exigem encerramento da discoteca.

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A discoteca Urban Beach já tem um vasto historial de casos de violência Ana Banha/Arquivo

Será que a discoteca Urban Beach, em Lisboa, vai ser encerrada ou ver a sua licença suspensa após mais um caso de violência, desta vez protagonizado por seguranças que agrediram violentamente um grupo de quatro jovens na quarta-feira de madrugada? Ao que apurou o PÚBLICO junto de fonte oficial da autarquia, a Câmara Municipal de Lisboa só o fará se receber informação expressa da PSP a solicitar o encerramento ou suspensão da discoteca.

A autarquia “só pode limitar o horário ou encerrar um bar ou discoteca, ao abrigo do regulamento de horários da cidade, por motivos de segurança ou tráfico de droga, quando temos informação expressa da PSP a solicitar essa decisão”, diz a mesma fonte, revelando que “os casos mais recentes estão relacionados com casos identificados de tráfico de droga”. Neste sentido, a Câmara de Lisboa já solicitou uma reunião urgente com a PSP e com a secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna para discutir este episódio.

Retirar a licença?

Esta posição da câmara responde também à sugestão do CDS, cujo vereador João Gonçalves Pereira disse que a autarquia tem "mecanismos ao seu dispor para, a qualquer momento, suspender ou, no limite, retirar” a licença do estabelecimento para actividade nocturna. O vereador defendeu ainda que é urgente que sejam apuradas responsabilidades neste caso de agressão e exige uma resposta do poder político, adiantando que o presidente do município lisboeta, Fernando Medina, “deve agir de uma vez por todas” e “não pode ficar de braços cruzados”.

Uma posição semelhante foi assumida ao PÚBLICO por Ricardo Robles, vereador dos Direitos Sociais e da Cidadania pelo Bloco de Esquerda, que chegou a um acordo de governação com Fernando Medina. “Um espaço como o Urban não pode continuar aberto na cidade”, acentua Robles. Perante as queixas reincidentes “de violência gratuita e com base na discriminação racial”, diz ainda, a “Câmara tem de garantir que, no seu espaço, as pessoas estão em segurança” e “agir em conformidade” com o que ficar definido na reunião com o Ministério da Administração Interna.

“Situação é lamentável"

Em causa está a agressão a um grupo de jovens na madrugada de quarta-feira à porta do Urban Beach, por parte dos seguranças da discoteca. Ao PÚBLICO, o presidente do conselho de administração do estabelecimento, Paulo Dâmaso, reconheceu que a “situação é lamentável e repugnante” e que já tomou medidas para “afastar de imediato” os seguranças responsáveis pela agressão, que são contratados através de uma empresa de segurança e vigilância.

O administrador referiu ainda que a equipa do Urban Beach não se revê na atitude dos seguranças e que tudo aconteceu depois de o estabelecimento já estar encerrado. 

A empresa de segurança em causa, a PSG Segurança Privada, emitiu um comunicado em que lamenta e “repudia comportamentos desta natureza”, comprometendo-se a apurar responsabilidades e a garantir “que os responsáveis serão punidos de forma exemplar”. 

As agressões ficaram registadas num vídeo – no qual se vêem dois jovens a serem agredidos de forma violenta pelos seguranças, com murros e pontapés não só no corpo mas também na cabeça – e rapidamente foram divulgadas nas redes sociais.

Um dos jovens agredidos contou à SIC que os seguranças começaram a acusá-los de quererem "roubar” e de seguida surgiram as agressões. “Deu-me uma cabeçada”, contou Magnusson Brandão Gomes, revelando que sofreu ferimentos nos dentes, na cana do nariz, além de uma “facada na perna”.

Este jovem disse que ao todo foram seis seguranças os agressores. “Nós eramos quatro. Dois estavam afastados porque fugiram. A PSP foi atrás deles para os identificar, mas mesmo assim não deixaram a PSP entrar. E a PSP viu que eu já não estava bem. Apaguei de novo e só voltei a acordar dentro da ambulância. E estava lá o meu colega do lado, que também tinha sofrido agressão”, acrescentou.

O porta-voz da Direcção Nacional da PSP, intendente Hugo Palma, explicou ao PÚBLICO que inicialmente houve dificuldades em conseguir a “identificação exacta” da vítima, já que não foi apresentada nenhuma queixa formal. O porta-voz refere ainda que a investigação está em curso e que a prioridade é identificar os agressores; “todas as pessoas no vídeo são pessoas de interesse”, acrescenta.

Além dos pedidos de reuniões da Câmara de Lisboa, também o Ministério Público abriu um inquérito às agressões, numa “investigação que decorre em articulação com a PSP”, segundo uma nota enviada ao PÚBLICO.

Caso não é inédito

Esta não é a primeira vez que a discoteca se vê envolvida em casos de violência (e de racismo). Em Agosto, um grupo de jovens denunciou ter sido agredido por seguranças do espaço nocturno, acusando-os de terem tido uma atitude “racista”. Também em Junho, o PÚBLICO noticiou que um grupo de jovens alegou ter sido impedido de entrar no Urban Beach pelo facto de um dos seus elementos ser negro.

Em 2014, a denúncia partiu do atleta português e antigo campeão olímpico no triplo salto Nelson Évora que, através das redes sociais, contou que foi barrado à entrada da discoteca por existirem “demasiados pretos no grupo”. Muitos outros casos não chegaram à imprensa mas são relatados na Internet, onde as denúncias de violência e de racismo se somam nas redes sociais e em plataformas online como o TripAdvisor ou o Google Maps.

Questionado sobre os casos de violência anteriores, o responsável da discoteca diz que já houve "excessos" mas que os responsáveis “são substituídos de imediato, até por coisas menores” do que as agressões que aconteceram nesta quarta-feira; mas adianta também que a empresa de segurança é a mesma há mais de dez anos. “O Urban é um espaço de diversão nocturna e não de agressão”, conclui, contestando as acusações acumuladas ao longo dos últimos anos. com Hugo Daniel Sousa

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