Denúncias de abusos sexuais e rumores sobre actos íntimos abalam Westminster

Um documento com referências sobre relações íntimas e actos potencialmente ilícitos por parte de deputados conservadores agita Londres. No Partido Trabalhista, é uma denúncia de violação que gera ondas de choque.

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Três membros (ou antigos membros) do governo britânico admitiram comportamentos inadequados no passado LUSA/ANDY RAIN

À boleia da torrente de revelações sobre abusos sexuais em sectores mediáticos de vários países desencadeada pelas acusações contra o produtor de cinema norte-americano Harvey Weinstein, o Reino Unido também assiste por estes dias a uma sucessão de notícias sobre possíveis crimes cometidos por destacados membros dos dois principais partidos políticos. Pelo meio, no entanto, também há um corrupio de rumores sobre o que não passam de actos consensuais entre adultos, e que terão sido compilados num documento secreto como um meio de pressão política.

A revelação mais grave, para já, é a que surge não no referido documento, que circula nos jornais britânicos, mas na voz de Bex Bailey, uma destacada militante do Partido Trabalhista que, em declarações à BBC Radio 4, disse ter sido violada em 2011 por um dirigente do Labour, durante um evento partidário.

"Foi gravemente abusada sexualmente durante um evento do Partido Trabalhista por... não foi um deputado, mas foi alguém que me era hierarquicamente superior", revelou, acrescentando que foi pressionada a não apresentar queixa.

"Disse a um alto dirigente que me disse... que me era sugerido que não fizesse queixa. Foi-me dito que se o fizesse, seria prejudicada", afirmou. 

Aos microfones da rádio, Bailey fez questão de sublinhar a natureza e a gravidade do acto de que terá sido vítima: "Fui violada".

Ed Miliband, que à data dos factos era líder do Partido Trabalhista, já se declarou "chocado" com a revelação e elogiou a bravura de Bailey, apelando ainda a uma investigação por parte das autoridades policiais e do próprio partido. Entretanto, o actual líder trabalhista Jeremy Corbyn ordenou a abertura de um inquérito interno.

Documento secreto compromete conservadores

Até à entrevista desta terça-feira, o olho da mais recente tempestade mediática em Westminster centrava-se sobre o Partido Conservador da primeira-ministra Theresa May, que ordenou no domingo uma investigação às suspeitas de actos impróprios supostamente cometidos por um membro do seu Governo, na sequência da divulgação de um documento sobre condutas sexuais dos seus deputados.

O documento, que numa primeira versão tinha 36 nomes e que agora soma 40, lista deputados e as acções que lhes são imputadas. Terá sido produzido pela própria liderança do partido no Parlamento, como uma ferramenta de pressão sobre os deputados. Apareceu num primeiro momento no site Guido Fawkes, mas foi entretanto noticiado por jornais como o Guardian e o Telegraph e  por sites como o Business Insider.

Da referida lista constam tipos muito díspares de comportamentos, desde relações consensuais entre adultos até a actos que poderão ser qualificados como crimes de abuso sexual. O documento refere ainda que um ministro e um deputado conservador terão comprado o silêncio dos alvos dos actos em causa. Os nomes destes dois políticos não estão a ser revelados por razões legais e desconhece-se o teor dos episódios que motivaram os pagamentos.

Tecem-se também considerações sobre os hábitos e a personalidade de vários dos deputados. Um destes é descrito no relatório como estando “constantemente embriagado” e por ser “muito inoportuno com mulheres”. Há ainda várias acusações de assédio a funcionários do Parlamento e do partido, a outros deputados e a jornalistas.

O referido membro do Governo já alvo de investigação, sabe-se entretanto, é o vice-ministro do Comércio Mark Garnier, que terá pedido a uma funcionária do seu gabinete para ir comprar brinquedos sexuais.

Garnier admitiu também que usou expressões brejeiras de cariz sexual quando se dirigiu à sua secretária. Responsável por uma das pastas mais sensíveis das negociações do “Brexit”, Garnier impediu a funcionária de se ir embora do bar do Parlamento, gritando “tu não vais a lado nenhum, ‘sugar tits’" em frente a várias testemunhas. Estes episódios remontam a 2010 e terão levado a secretária em causa, Caroline Edmondson, a abandonar o gabinete perante o comportamento do seu superior.

Depois destas revelações avançadas pelo The Mail on Sunday, May anunciou a abertura de um inquérito e considerou o comportamento de Garnier “absolutamente inaceitável”.

Outro nome visado é o do ministro da Defesa, Michael Fallon, que no documento é acusado de ter tocado repetidas vezes nas pernas de uma jornalista há 15 anos. A repórter, entretanto, veio desvalorizar o incidente e recusar qualquer associação às recentes notícias de abusos sexuais, dizendo que tal seria insultuoso para as "verdadeiras vítimas".

O antigo ministro Stephen Crabb admitiu também que teve “conversas sexuais” com uma mulher de 19 anos que se candidatou a um emprego no seu gabinete. No relatório, Crabb é descrito como sendo “inoportuno com mulheres”.

Também são atribuídos comportamentos supostamente impróprios a três mulheres, e também há homens referidos como alvo de abordagens incorrectas por parte de deputados.

Entre os nomes listados estão não só Garnier, Fallon e Rudd, como também Stephen Crabb, Mark Menzies, Grant Shapps, Steve Double, Robert Halfon, Justin Tomlinson e Jake Berry. A lista pode ser consultada neste artigo da Business Insider.

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