As Sopa de Pedra já se ouvem ao perto, na Casa da Música

O grupo Sopa de Pedra apresenta o seu disco de estreia Ao Longe Já Se Ouvia na cidade onde se formou, o Porto. Este sábado, na Casa da Música, às 22h.

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As dez cantoras do grupo Sopa de Pedra DR
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O disco numa caixa de madeira... DR
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... também como objecto artístico DR

Demorou cinco anos a criar e a apurar, mas aí está o disco de estreia das Sopa de Pedra, um grupo de canto feminino a capella criado no Porto em 2012. Chama-se Ao Longe Já Se Ouvia, teve uma primeira apresentação no FMM Sines, este Verão, e vai ser agora apresentado no Porto, na Casa da Música, sala 2, este sábado às 22h.

Sara Yasmine, uma das dez componentes do grupo, explica assim o disco ao PÚBLICO: “É uma síntese, são as músicas que tinham os arranjos mais definitivos. Porque às vezes temos a tendência de mudar aqui e acolá. E também porque a nossa formação é muito elástica, às vezes somos seis, sete ou dez [o total das cantoras que integram o grupo]. De qualquer forma, a preparação do disco já implicou que olhássemos para cada uma delas e escolhêssemos as músicas que estavam mais maduras e prontas para gravar.”

Cantautores e cancioneiro

O disco abre com Ró da graça, da autoria do grupo portuense Capagrilos (faz parte do seu disco São Bassáridas, editado em 2012). Mas quando elas a ouviram pela primeira vez pensaram que era do cancioneiro tradicional. “Essa música foi-nos dada a ouvir por um senhor que estava em Serralves. E nós achámos que era uma canção tradicional. E foi uma surpresa saber que não era, que tinha autor e que afinal era muito recente.”

A maior parte dos temas escolhidos vem do cancioneiro popular (Beira-Baixa, Trás-os-Montes, Açores), mas quatro deles são de cantautores: além do citado Ró da graça, há um tema de José Afonso (Adeus ó serra da Lapa) e dois de Amélia Muge, Bate, bate e À Nave. Este último fecha o disco, os outros três abrem-no. “Foi mais uma escolha musical, ouvir o encadeamento entre elas para ver qual seria o alinhamento adequado”, diz Sara. Quanto À Nave, Sara diz que parecia já fadada para ocupar esse lugar. “Foi das poucas que pareciam ter mais capacidade para fechar o disco, fosse qual fosse o alinhamento. Mas não é um ponto final, são reticências. Porque deixa caminho para continuar.”

Ao cancioneiro popular, elas foram buscar Ó minha amora madura, Os bravos (ambas também cantadas e gravadas por José Afonso), Estrigadeiras do meu linho, Já os galos cantam, Maçadeiras do meu linho, Cantiga de la Segada e Cantiga da ceifa. Os arranjos são todos colectivos, excepto um tema que Catarina Chitas cantou numa recolha de Michel Giacometti, com arranjo individual de uma delas e depois adaptado.

Artes visuais e encenação

O grupo Sopa de Pedra é composto por dez cantoras: Benedita Vasquez, Inês Campos, Inês Loubet, Inês Melo, Maria Vasquez, Mariana Gil, Rita Costa, Rita Sá, Sara Yasmine e Teresa Campos. Na gravação, é Sara quem toca tocas as percussões (adufe, caxixi, etc.), mas em palco essa “tarefa” costuma ser dividida entre elas. O disco, para quem ainda não o viu, tem uma apresentação bastante original, constituindo-se, ele próprio, como objecto de arte: vem numa caixa de madeira, com tampa de correr, apenas com o nome do grupo impresso a negro na capa e na lombada, e no interior tem doze lâminas de cartão, brancas e numeradas em braile, com fotos antigas manipuladas no rosto e, no verso, as letras de cada uma das canções. A última lâmina tem a ficha técnica completa, com as respectivas autorias. O disco vem numa bolsa branca, também de cartão, no fim.

Assina este trabalho de design gráfico uma das cantoras do grupo, Inês Campos. “Ela tem uma relação muito forte com as artes visuais, e é aquela a quem confiamos mais a produção de pósteres, de flyers, tudo o que é relacionado com a comunicação visual.” A intenção, diz Sara, “é tornar o conjunto num objecto artístico, em representação de um colectivo musical mas também cultural e humano, e um certo universo feminino.”

Na Casa da Música a apresentação será especial, diz Sara: “Preparámos um concerto mais encenado, que nos leva a passar por diferentes áreas do palco e a experimentar diferentes formações entre nós, conjugadas com jogos de luzes. Terá uma dimensão mais visual.”

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