Sem aviso, Maputo muda três chefias da segurança

Nyusi não dá qualquer explicação. Há quem acredite que faz parte de um esforço de aproximação a Portugal. As relações bilaterais Lisboa-Maputo estão num ponto baixo como nunca se viu nos últimos 40 anos.

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O Presidente FIlipe Nyusi nao apontou motivos para as mudanças Carlo Allegri/REUTERS

No mesmo dia, o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, demitiu o director nacional dos serviços secretos e o chefe de Estado Maior das Forças Armadas de Defesa, e mudou de funções o comandante da polícia. Com efeito imediato, sem pré-aviso, nem explicação.

O anúncio foi feito segunda-feira, depois de ouvido o Conselho Nacional de Defesa e Segurança. Caem os generais Graça Tomás Chongo, das Forças Armadas (ao fim de quatro anos no lugar) e Lagos Lidimo (apenas nove meses), cujo cargo de director-geral do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) passou a ser ocupado por Júlio dos Santos Jane, até agora comandante da polícia.

O comunicado oficial desdobra-se em citações jurídicas, referindo com pormenor os artigos da Constituição que permitem as demissões, mas não aponta razões para a mudança.

Para Fernando Jorge Cardoso, do Instituto Marquês de Valle Flôr e especialista em política africana, "Lagos Lidimo deixa de ser curial a partir do momento em que a paz com a Renamo está acertada" e a sua presença no Governo já estaria mesmo a ser "um entrave a uma mais fácil pacificação do país".

No início deste ano, quando Lagos Lidimo — de etnia maconde e homem de confiança de Samora — foi nomeado para os serviços secretos, a escolha foi recebida com um misto de entusiasmo e reprovação. Por um lado, mostrava a vontade de Nyusi em acabar com o problema dos raptos de empresários, por outro recuperava um homem que, para muitos, representa o pior e o mais  sanguinário dos anos da guerrilha e da guerra civil de Moçambique, desajustado com o país de hoje. A sua saída "reforça os poderes do Presidente", resume Fernando Jorge Cardoso.

Outra fonte que acompanha a política moçambicana, e que pediu o anonimato, acredita que a mudança faça parte de um plano de aproximação ao Governo de Lisboa. As relações bilaterais estão num momento baixo como nunca aconteceu em democracia, resultado do blackout da diplomacia moçambicana, que ignorou dezenas e dezenas de pedidos de informação sobre o desaparecimento de um empresário português na Beira no Verão de 2016.

 

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