Greve dos médicos encerra maioria dos blocos operatórios

De acordo com os sindicatos, os cuidados de saúde primários registam uma adesão de 75 a 80%.

Foto
Para 8 de Novembro está prevista uma greve nacional Nelson Garrido

A greve dos médicos da região Sul e ilhas, que está a decorrer nesta quarta-feira, provocou o encerramento da maioria dos blocos operatórios enquanto os cuidados de saúde primários registam uma adesão de 75 a 80%, afirmaram os sindicalistas. Os médicos da região Sul e das Regiões Autónomas estão em greve desde as 00h desta quarta-feira, num dia de paralisação regional que já decorreu no Norte e que antecede um dia de greve nacional, prevista para 8 de Novembro.

O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, disse esta quarta-feira aos jornalistas, cerca das 13h, que no Hospital Santa Maria, em Lisboa, apenas 3 de 25 blocos operatórios estão a funcionar enquanto no São José só um dos seis blocos está activo.

O presidente da Federação Nacional dos Médicos, Mário Jorge, considerou que a adesão "mostra que a grande maioria dos médicos está descontente e apoia o sindicato nas suas reivindicações". Segundo adiantou, os médicos pedem "bom senso" ao Governo e alertam que, sem essa condição, "um processo conflitual se vai arrastar". Os médicos manifestam "disponibilidade total" para um acordo mas que "esteja sistematizado e quantificado" para não andarem a participar em "mascaradas negociais".

Beja a funcionar normalmente

No Alentejo, os sindicatos apontam para uma taxa de adesão entre 80 e 85%. Na região, "em termos gerais, temos uma média de adesão à greve entre 80 e 85%", disse o secretário regional do Alentejo do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Armindo Sousa Ribeiro.

Em Beja, a adesão à greve "não deve ultrapassar os 10%" e "praticamente todos os serviços", incluindo o bloco operatório, "estão a funcionar normalmente", disse a delegada distrital de Beja do SIM, Luísa Guerreiro, referindo que no serviço de consultas externas "só um médico fez greve". No hospital do litoral alentejano, situado em Santiago do Cacém, só uma das três salas do bloco operatório está a funcionar e para cirurgias de urgência e o serviço de consultas externas está "extremamente afectado" e, por isso, várias cirurgias e consultas foram adiadas, disse Armindo Sousa Ribeiro.

No hospital de Évora, várias consultas externas e cirurgias foram adiadas e só uma das cinco salas do bloco operatório está a funcionar e também para cirurgias de urgência, afirma o delegado distrital de Évora do SIM, Vasco Neves. O mesmo cenário repete-se no hospital de Portalegre, onde apenas uma das três salas do bloco operatório está a funcionar e também para cirurgias de urgência e várias cirurgias e consultas foram adiadas, segundo Armindo Sousa Ribeiro.

A Lusa contactou os conselhos de administração do hospital de Évora e das unidades locais de saúde do Baixo Alentejo, do Norte Alentejano e do Litoral Alentejo, os quais, através de fontes oficiais, remeteram a prestação de dados sobre a adesão à greve para o Ministério da Saúde.

Na Madeira há "consultas fechadas a 100%"

Também na Região Autónoma da Madeira foi registada uma adesão de 80% ao nível hospitalar. "Estamos a fazer uma estimativa global ao nível hospitalar que ronda os 80%. No entanto, se quisermos particularizar, o bloco operatório está praticamente todo fechado, temos consultas fechadas a 100%, outras a 80% e outras ainda a 50%", disse a dirigente Lídia Ferreira.

O Serviço de Saúde da Madeira (SESARAM) não confirma, contudo, estes números, adiantando que ainda é "cedo" para fazer o balanço da greve de 24 horas, convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e Federação Nacional dos Médicos (FNAM) para a zona Sul e regiões autónomas. "Uma greve provoca sempre transtornos, mas os serviços mínimos estão garantidos, bem como o acompanhamento nos serviços", disse Tomásia Alves, presidente do SESARAM, vincando que "ninguém fica por atender nestes casos".

A responsável sublinhou que ainda não é possível avançar com números em relação ao impacto da paralisação ao nível hospitalar, mas revelou que nos Centros de Saúde a adesão era de 27%.

A Lusa constatou um ambiente calmo e sem queixas por parte dos utentes em dois centros de saúde da capital madeirense - Nazaré e Santo António -, que cobrem áreas de grande densidade populacional, e encontrou um cenário semelhante também nas consultas externas do Hospital Central do Funchal.

"Temos tido a devida cortesia para com os doentes, porque a greve não é para prejudicar os doentes, mas para podermos falar de algo extremamente importante, que são as pessoas que estão envolvidas no sistema diariamente e que vêem as falácias do sistema e a iminência de rotura", disse Lídia Ferreira.

A sindicalista salientou que o objectivo é "chamar a atenção" dos gestores do Estado, para "actuarem preventivamente e não continuarem a tapar o sol com a peneira", realçando que o sistema público de saúde em Portugal é "mais uma floresta numa iminência de incêndio". Lídia Ferreira sublinhou ainda que a greve envolve um universo de 297 médicos hospitalares e 121 ao nível dos centros de saúde.

A greve desta quarta-feira foi convocada pelos Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e Federação Nacional dos Médicos (FNAM ) face à ausência de resposta do Governo às propostas, que se prendem com redução de horas extraordinárias anuais obrigatórias (matéria em que houve acordo), as chamadas horas de qualidade (durante a noite), redução do trabalho de urgência (de 18 para 12 horas semanais) e redução da lista de utentes por médico de família (dos astuais 1900 para 1500).

De acordo com o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, a greve que no dia 11 na região Norte teve uma adesão de 90% nos hospitais e de 80 a 85% nos centros de saúde. Os sindicatos médicos decidiram suspender a greve que estava prevista para dia 18 na região Centro do país devido aos incêndios que atingiram aquela zona. 

Sugerir correcção
Comentar