Rede de contrabando de combustíveis poderá estar por detrás do homicídio de jornalista em Malta

Daphne Caruana Galizia, blogger e jornalista de Malta que liderava a investigação aos Panama Papers no país, morreu na sequência de uma explosão no carro onde seguia. Mas denunciou também uma rede de contrabando de combustíveis com ligações à Líbia.

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Reuters/DARRIN ZAMMIT LUPI

As autoridades italianas, que lideram uma investigação a uma rede de contrabando de combustíveis, admitiram que esta pode estar ligada à morte de Daphne Caruana Galizia, blogger e jornalista de Malta que, na semana passada, morreu na sequência de uma explosão no carro onde seguia, noticia nesta terça-feira o jornal The Guardian.

Carmelo Zuccaro, procurador da Sicília, que lidera a referida investigação, disse ao jornal britânico que “não pode excluir” a possibilidade de que a rede de contrabando de combustíveis – que tem o seu centro nevrálgico em Malta, mas que se estende à Líbia e à Itália – poderá ter responsabilidades no homicídio da jornalista maltesa. 

“No passado, ela trabalhou em artigos sobre o tráfico de combustível entre a Líbia e Malta”, referiu Zuccaro. Além disso, o responsável diz que alguns dos nomes referidos nestes artigos estão ser investigados por si há vários meses.

Galizia liderava a investigação sobre os Panama Papers em Malta e no seu blogue tinha também denunciado, durante os últimos meses, um alegado caso de corrupção envolvendo o actual primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, a sua mulher e outros membros do Governo. Segundo estas alegações, o casal utilizava offshores para esconder pagamentos com origem no Governo do Azerbaijão.

Mas, segundo a sugestão do procurador siciliano, por detrás da morte da jornalista poderá estar esta rede criminosa que foi responsável pela movimentação ilegal de milhares de milhões de euros em combustíveis. Nos dias seguintes ao homicídio de Galizia, as autoridades italianas realizaram várias detenções relativas à investigação à rede de contrabando, mas ninguém foi acusado de envolvimento no assassinato.

De acordo com documentação judicial preparada pela investigação italiana e citada pelo The Guardian, a organização em Malta está no centro de uma rede que movimentou, pelo menos, 30 milhões de euros em combustíveis só no último ano; o produto partiu de uma refinaria na Líbia e foi depois transportado para países como Malta, Itália, Espanha ou França.

Mas há um caso específico que levanta suspeitas de envolvimento no homicídio: o de Darren Debono, um antigo jogador de futebol maltês, que foi detido, na passada sexta-feira, na ilha de Lampedusa, acusado de ser membro da referida rede de tráfico que tem ligações com os líderes das milícias armadas libanesas.  

Apesar de não estar acusado de qualquer envolvimento na morte de Galizia, Debono foi referenciado pela jornalista mais do que uma vez. No ano passado, no seu blogue, Galizia alegava que o antigo jogador era proprietário de um restaurante e pescador, mas que tinha “muitos ‘negócios’ com a Líbia”. Depois destas acusações, a jornalista revelou que recebeu ameaças de um familiar de Debono. Além disso, Galizia afirmou, no mesmo blogue, que este homem corria o risco de “explodir” isto porque dois “pescadores”, também com ligações à Líbia, haviam sido mortos depois de os carros onde seguiam terem explodido.

Além disso, os investigadores, na sua acusação de quase 300 páginas, e apesar de nunca referirem o nome de Galizia, alegam que esta rede de contrabando tem ligações à família da máfia siciliana Santapaola, que tem já no seu cadastro o homicídio do jornalista Giuseppe Fava, em 1984. 

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