No CDS há quem discorde da moção de censura ao Governo

Conselheiro nacional critica o timing da presidente do partido e diz que Cristas "está mais preocupada" com “protagonismos pessoais”.

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Assunção Cristas António Cotrim/Lusa

O conselheiro nacional e líder da concelhia do CDS de Ovar, Fernando Camelo, está contra a decisão de Assunção Cristas de apresentar uma moção de censura ao Governo e declara que, se “Paulo Portas fosse o presidente, o partido não cometeria um erro destes, por ter sentido de Estado”.

“Este é um momento muito especial para o país e os agentes políticos têm que estar à altura das suas responsabilidades”, afirma o também deputado municipal do CDS, declarando que “o povo não quer crises políticas, o povo quer soluções”.

Afirmando que “está na altura de os líderes partidários se deixarem de jogos políticos e fazerem aquilo que é o seu dever”, Fernando Camelo justifica, em declarações ao PÚBLICO, a sua ausência no Conselho Nacional do CDS de sábado que aprovou por unanimidade a moção de censura que hoje será votada no Parlamento.

“Eu não fui ao Conselho Nacional [que decorreu na Covilhã] no sábado, porque nesse dia fui empossado como deputado municipal do meu partido em Ovar. Essa foi a razão”, explica o dirigente democrata-cristão, lamentando a sobreposição de agendas. “Não fora a minha posse em Ovar e teria ido ao Conselho Nacional manifestar a minha opinião”, afirma, insurgindo-se contra o “clima de muita subserviência” que diz existir em relação à liderança do partido. “Eu sou daqueles que não deixam de dizer o que pensam e não me preocupo em agradar a ninguém. O partido só tem a ganhar quando as pessoas dizem o que pensam e ouve as vozes críticas. A discussão interna é sempre saudável”, defende

“O facto de ter responsabilidades políticas num partido não me inibe de dizer o que penso, sem me preocupar em agradar a dirigentes do meu partido e com plena consciência de que tinha mais a ganhar a fugir ao tema como outros fazem ou em dizer 'ámen' como faz a maioria. Gosto muito de política, desde que feita com seriedade, com responsabilidade e com coerência”, escreveu o líder do CDS de Ovar na sua página de Facebook, mostrando-se desiludido como a forma como se “faz política”.

Militante desde 1993, Fernando Camelo entende que a presidente do partido, Assunção Cristas, está “mais preocupada” com “protagonismos pessoais” do que com o “momento muito especial que o país está a viver por causa dos incêndios que ceifaram muitas vidas e que devastaram a floresta”. O dirigente nacional do CDS considera ainda que “Assunção Cristas quis antecipar-se ao PSD” e marcar a agenda.

“Temos de nos deixar dos jogos políticos e fazer aquilo que é o nosso dever, porque isso é que é serviço público”, reitera o conselheiro nacional, vincando ao mesmo tempo que a “política deve ser encarada como uma forma de servir a comunidade”.

O presidente da concelhia do CDS de Ovar afirma que os quase 25 anos de militância lhe dão estatuto para dizer o que pensa. “Não sou um alinhado com a direcção do partido seja qual for. Penso pela minha cabeça e sei que há outros militantes que não se revêem nesta moção, mas que não se manifestam por medo de represálias”, denuncia ao PÚBLICO.

De facto, Fernando Camelo não está sozinho. O advogado Pedro Borges Lemos, da concelhia de Lisboa, também discorda da decisão de Assunção Cristas de avançar com uma moção de censura ao Governo de António Costa.

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