Catarina Martins: “Que se repita a tragédia depois de Pedrógão é indesculpável”

A coordenadora do BE endurece o tom das mensagens que dirige ao Governo: “o tempo não desculpa tudo” e “agora tem mesmo de mudar tudo”.

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Catarina Martins endurece o discurso sobre os incêndios Nuno Ferreira Santos

“Responsabilidade é política”, “agora tem mesmo de mudar tudo”, é preciso “dar os passos decididos. A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, acordou com expressões mais fortes para falar dos incêndios que estão a assolar o país, expressões que têm um destinatário certeiro, o Governo. Nesta terça-feira, no Facebook, a líder de um dos partidos que apoia o executivo de António Costa, escreve com menos cautelas: “Que se repita a tragédia depois de Pedrógão é indesculpável porque o sinal claro de que nada mudou quando nada podia ficar na mesma.” Ou: “Agora tem mesmo de mudar tudo.”

Em nenhuma passagem da publicação, esta afirmação de que tem de “mudar tudo” se traduz num inequívoco pedido de demissão de algum governante. Já na véspera, Catarina Martins fez o mesmo: defendeu a necessidade de mudar a estrutura governamental para juntar prevenção e combate a incêndios, ressalvando, porém, que tal não significa, por si só, a demissão da ministra da Administração Interna: “Se não alterarmos a estrutura, não será por alterarmos um ou outro responsável que vamos ter o problema resolvido.”

A diferença é que, um dia depois e já depois de o primeiro-ministro ter falado ao país, o tom endureceu: “Temos de assumir responsabilidade perante um país em enorme sofrimento. Responsabilidade é política. O tempo não desculpa tudo e este tempo tem de ser tanto de acudir às vítimas como de evitar nova tragédia”, escreve a bloquista, admitindo que não se sabe “por quanto tempo” conseguirá o país estar sem fogos.

Mais críticas de Catarina Martins? “Novamente a tragédia fora das datas previstas por um sistema rígido que define fases Charlie com base em calendário e não na ciência, que abandona a floresta todo o ano e depois não chega para o tanto desastre da incúria, do crime, do calor e do vento, que depende de contratos com privados, que não tem os meios e profissionais de que precisa, que abandona a população sem informação, que se prova repetida e tragicamente ineficaz.”

Críticas que são claramente dirigidas ao executivo, deixando nas entrelinhas a ideia de que o Governo executou pouco, fez pouco: “O mais trágico é talvez saber que já sabemos tudo isto há tanto tempo. Que os especialistas o escreveram e os políticos até o propuseram e votaram. E depois foi-se tudo arrastando em passos tão pequenos que não construíram qualquer caminho.”

Para Catarina Martins, o que aconteceu “não foi um azar”. Por isso, defende ser preciso “dar os passos decididos, rápidos, para alterar toda a estrutura de defesa da floresta e combate aos incêndios. Uma estrutura única, centrada na floresta, com menos desculpas e com mais meios, ciência, profissionalização, articulação e ligação às populações.”

Recorde-se que a 20 de Junho, poucos dias depois do incêndio de Pedrógão Grande, Catarina Martins defendia que a Protecção Civil devia apresentar, até ao fim do mês, um “programa de emergência” que tirasse “consequências do que correu mal” naquela tragédia, que corrigisse “erros” e respondesse “à sua missão no Verão”.

BE e PCP querem mais verbas no OE para combater incêndios

Mas é a deputada bloquista Mariana Mortágua quem, depois de o PCP já o ter feito, toca num ponto sensível: “Não pode ficar tudo na mesma, e as mudanças têm de ser tão estruturais como os problemas e deficiências que as justificam. É isso que deve ser exigido ao Governo. E em tempos de discussão orçamental, é de esperar que estas escolhas tenham o seu reflexo na distribuição dos meios financeiros do Estado”, escreve no artigo de opinião publicado nesta terça-feira no JN.

Já na segunda-feira, depois de anunciar que o PCP vai pedir audiências ao Presidente da República, ao primeiro-ministro e à procuradora-geral da República, o dirigente comunista João Frazão explicava em conferência de imprensa: "Com o primeiro-ministro, vamos colocar-lhe a urgência que consideramos existir na tomada de medidas, já imediatamente em relação ao Orçamento do Estado. Os portugueses devem saber os meios que estão alocados à defesa da floresta para depois isso poder ser escrutinado", explicou.

“Não pode ficar tudo na mesma”

No artigo de opinião intitulado Não pode ficar tudo na mesma, Mariana Mortágua não só defende que “não pode ficar tudo na mesma”, como “a ministra da Administração Interna deve ser a primeira a reconhecê-lo.” A deputada considera ainda que o país está “impreparado”, que o planeamento florestal “não existe”, que há “desestruturação” nas redes de comando da Protecção Civil, entre muitas outras falhas apontadas.

A bloquista reconhece que "o actual Governo tem responsabilidades”, mas não sozinho. Apesar disso, deixa o alerta: “O que se exige ao Governo neste momento é que faça mais que mudar nomes, e que, para além do apoio às vítimas, apresente um plano de reestruturação do próprio dispositivo nacional de combate e prevenção de incêndios.”

Notícia actualizada com mais declarações de Catarina Martins, Mariana Mortágua, e João Frazão

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