A Europa perde com o resultado das eleições na Áustria

Extrema-direita ganha guerra ideológica dos conservadores, a juventude conquista a política... Mensagens a levar em conta.

Foto
Heinz-Christian Strache, líder do partido de extrema-direita FPÖ, com a sua mãe CHRISTIAN BRUNA/EPA

O Partido da Liberdade (FPÖ) austríaco conseguiu um dos seus melhores resultados de sempre, após uma série de contratempos para as formações de extrema-direita na Europa este ano. O resultado nas legislativas austríacas deste domingo permite-lhe sonhar com a reentrada no Governo,12 anos depois da primeira vez.

As projecções davam a vitória do Partido Popular (ÖVP), de Sebastian Kurz, com cerca de 30%, enquanto o FPÖ disputava o segundo lugar com os social-democratas (SPÖ), com ligeiríssima vantagem para o SPÖ, ambos a rondar os 26-27%. Kurz podia esperar formar uma coligação com o Partido da Liberdade, que esteve no governo entre 2000 e 2005.

O que quer significa isto para a Europa?

A extrema-direita não morreu

Depois das eleições na Holanda e em França, houve a tentação de declarar o fim da vaga populista na Europa. Mas as eleições de Setembro na Alemanha, que fizeram entrar no Parlamento o partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD), e agora as legislativas antecipadas na Áústria, dizem-nos o contrário.

Os resultados do FPÖ estão próximos dos 26,7% que obteve em 1999 e que o levaram ao Governo pela primeira vez. Nessa altura, a União Europeia ficou horrorizada, e impôs sanções à Áustria. Mas, desta vez, não é de esperar mais do que algumas lamúrias. 

"As eleições alemãs trouxeram o populismo de volta ao centro do debate e as austríacas vão reforçar a tendência", disse Cas Mudde, especialista em política de extrema-direita da Universidade de Geórgia (EUA).

A crise de refugiados do Médio Oriente deixou profundas cicatrizes nos países europeus que estiveram na linha da frente - este foi um dos temas dominantes nas eleições austríacas.

Centro direita e extrema-direita convergem

As eleições austríacas mostram que se estão a tornar menos claras as fronteiras entre os partidos de centro-direita e extrema-direita na Europa. Os políticos conservadores de primeira linha estão a adoptar um discurso mais duro sobre a imigração, o islão e a segurança interna. Sebastian Kurz é o exemplo desta mudança e o seu sucesso pode encorajar outros partidos centristas a adoptar a mesma atitude.

"Vemos Kurz como um modelos para os conservadores na Alemanha", comentou um líder da União Social Cristã (CSU) da Baviera, o partido irmão da CDU de Angela Merkel, que muitas dores de cabeça causa à chanceler. "Aplaudimo-lo. Ele vai mudar a dinâmica na Europa". 

Na Holanda, o primeiro-ministro Mark Rutte ganhou o desafio eleitoral de Geert Wilders com um discurso duro sobre a imigração. E em França, Laurent Wauquiez, um dirigente muito à direita, na linha Sarkozy, vai à frente para conquistar a liderança no partido de centro-direita Os Republicanos, que terá primárias em Novembro. 

Estes líderes podem tornar o centro-direita e a extrema-direita praticamente indistinguíveis em alguns países. 

Problemas para Merkel e Macron

Um governo de coligação entre o ÖVP e o FPÖ na Áustria tornar-se-ia um parceiro difícil para Angela Merkel e Emmanuel Macron, nas negociações para reformar a zona euro e a política de asilo da União Europeia.

Sebastian Kurz elogiou o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán por ter construído uma vedação ao longo das suas fronteiras para evitar a entrada de migrantes. E Strache, o líder da FPÖ, defende que a Áustria devia juntar-se ao Grupo de Visegrado, que junta os quatro países da Europa Central na UE - Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia - que têm formado um bloco de oposição às quotas de distribuição de migrantes defendidas por Berlim e pela Comissão Europeia.

Ambos os partidos são também cépticos em relação a uma maior integração da zona euro e a uma maior centralização de poderes em Bruxelas - previstas nas ideias de Macron de criar um Orçamento e um ministro das Finanças comum para a zona euro.


Tendência jovem

Kurz, que deverá ser o próximo chanceler (primeiro-ministro) austríaco, tem apenas 31 anos. Isto significa que é jovem, mesmo seguindo a tendência recente que levou à presidência de França Emmanuel Macron, de 39 anos, e fez reentrar no Parlamento alemão os Liberais Democratas (FDP) pela mão do seu líder, Christian Lindner, de 38 anos.

Kurz e Lindner mostraram que rostos jovens podem injectar dinamismo em velhos partidos do establishment que desencantaram os seus eleitores. Kurz rebaptizou o ÖVP de "Novo Partido Popular" e mudou as suas cores de preto para azul turquesa. E Lindner usou cartazes de campanha a preto e branco que o mostravam a olhar para o seu smartphone para revitalizar a imagem do FDP.

Macron, que fundou o seu próprio movimento político, apresentou-se como um rebelde, alguém que vinha de fora do sistema do político, apesar de ter sido conselheiro do Presidente François Hollande durante quatro anos e também ministro da Economia.

E é preciso não esquecer Itália, onde Luigi di Maio, de 31 anos, é o novo líder do Movimento 5 Estrelas, e o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi - que quer muito voltar a sê-lo no ano que vem - tem 42 anos. Parece velho, pelos novos padrões europeus, mas tem um rosto jovem.

Sugerir correcção
Ler 8 comentários