O “Messi dos Alpes” reencontrou-se na Premier League

Depois de anos frustrantes no Bayern Munique e no Inter Milão, Shaqiri desceu uns degraus, para um clube de menor “pedigree”, e voltou a ser importante.

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LUSA/GIAN EHRENZELLER

Não é só Fernando Santos que irá cumprir o seu aniversário nesta terça-feira, o dia em que Portugal e Suíça se vão defrontar pelo apuramento directo para o Mundial. Do outro lado está alguém que há muitos aniversários é tido como a grande “estrela” do futebol suíço. Tem várias alcunhas, o “Messi dos Alpes”, o “anão mágico” e o “cubo do poder”, mas a carreira de Xherdan Shaqiri não tem sido sempre a subir desde que começou a aparecer na primeira equipa do Basileia. Não vingou em clubes da realeza europeia e teve de descer uns patamares para se reencontrar e para voltar a ser importante noutro local que não fosse a selecção.

Desde que se estreou na primeira equipa do Basileia com apenas 18 anos que o futuro parecia brilhante para o pequeno (1,69m de altura) mas encorpado extremo. Velocidade, técnica, potência muscular, eram os predicados que Shaqiri mostrava e que o levaram a estrear-se pela selecção helvética, então com 19 anos, pela mão de Ottmar Hitzfeld. As exibições nos grandes palcos transformaram-no num dos jovens mais cobiçados do futebol internacional, acabando por se transferir em 2012 para o Bayern Munique, onde teria a tarefa quase impossível de relegar para o banco verdadeiras instituições da equipa bávara, como Arjen Robben e Frank Ribéry.

Em duas épocas e meia, Shaqiri ganhou muitos títulos (três vezes campeão alemão, uma Liga dos Campeões, um Mundial de clubes), mas a sua utilização foi bastante irregular e foi decrescendo com o passar do tempo. Jupp Heynckes ainda lhe deu tempo, mas Guardiola, dizia-se, confiava pouco no extremo. Em Janeiro de 2015, deixou o clube bávaro e foi para o Inter de Milão, num daqueles empréstimos com compra obrigatória. Aos 23 anos, Shaqiri já estava com a aura de promessa adiada e não a perdeu nos “nerazzurri”. Meia época em Milão e o Inter despachou-o para a Premier League e para um clube que é, na melhor das hipóteses, de meio da tabela.

Mas foi no Stoke City que Shaqiri se reencontrou, onde voltou a ser aquele extremo combativo, incombustível e que pode resolver um jogo com um pontapé de fora da área. Não tem de lidar com veteranos estabelecidos, como era em Munique, ou ser aquele que iria resgatar um histórico da crise, como era em Milão. “Sempre quis jogar na Premier League, porque sou um jogador forte e rápido, e acho que é o futebol ideal para mim”, dizia o suíço em 2015, quando foi apresentado em Stoke-on-Trent, como o jogador mais caro da história do clube (17 milhões de euros). A iniciar a sua terceira temporada no clube, Shaqiri não terá a melhor das relações com o treinador Mark Hughes, mas, pelo menos publicamente, rejeita qualquer desentendimento com o galês e vontade de sair para outros palcos.

Shaqiri é um dos muitos jogadores desta selecção suíça com herança kosovar-albanesa, sendo que ele é um dos que nasceu mesmo nos Balcãs, em Gjilan, uma cidade que agora faz parte do Kosovo, mas que, em 1991, ano em que nasceu, ainda fazia parte da Jugoslávia. No ano seguinte, já a família Shaqiri tinha fugido para a Suíça, bem antes da operação de limpeza étnica posta em marcha pelas forças sérvias de Slobodan Milosevic tendo os kosovares-albaneses como alvo, e Xherdan já não assistiu de perto ao conflito que provocou, pelo menos, 10 mil mortos e centenas de milhares de refugiados.

À Suíça, Xhaqiri sente-se grato e o futebol foi a forma que ele encontrou para retribuir. Aos 26 anos continua a ser ele a maior “estrela” de uma selecção que se tem mantido de forma consistente no topo do futebol internacional – desde 2004, entre Europeus e Mundiais, só falhou a presença no Euro 2012.  “Estou muito feliz de poder retribuir a um país que deu tudo à minha família”, diz o extremo, que se estreou pelos helvéticos aos 18 anos e já leva 20 golos em 64 jogos pela selecção do país que o acolheu. E a prenda que quer nesta terça-feira é o apuramento directo para um terceiro Mundial consecutivo. “A camisola de Ronaldo não me interessa. Quero é os três pontos”, garantiu numa entrevista recente ao jornal suíço Blick.

A gratidão à Suíça faz com que Shaqiri nem sequer tenha pensado em representar a selecção do Kosovo, que está pela primeira vez numa qualificação para um Mundial. Mas ele não esqueceu a sua herança e foi um dos signatários de uma petição que pedia à FIFA o reconhecimento do Kosovo como membro do organismo (algo que aconteceu em Maio de 2016). Essa dupla identidade é algo com que Shaqiri convive todos os dias sem problemas. Com uma excepção: “Sou suíço, mas também sou kosovar. Em casa, falo albanês. Mas há uma grande diferença. Os suíços gostam de chegar a horas a tudo, os albaneses nem por isso.”

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