Autárquicas provocam mexida no governo madeirense

Resultado das autárquicas abalou o PSD-Madeira. Jardim, logo no dia seguinte, escreveu que foi “mau demais” e pediu união no partido. Secretário regional das Finanças pediu para sair, mas mais alterações estão a ser equacionadas.

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Autárquicas voltam a provocar ondas de choque na Madeira Nuno Ferreira Santos

As autárquicas de domingo também vão ter consequências directas no PSD-Madeira e no governo regional. O presidente do executivo, Miguel Albuquerque, vai remodelar a equipa. De saída, já confirmada, está o secretário regional das Finanças, Rui Gonçalves, mas, sabe o PÚBLICO, Sérgio Marques, que tem as pastas dos Assuntos Europeus, Obras Públicas e Parlamento, poderá seguir o mesmo caminho.

Pedro Calado, antigo número dois de Albuquerque na Câmara do Funchal, que nos últimos anos tem estado ligado à AFA, um grupo empresarial com interesses na construção e no turismo, foi convidado para regressar à política, para liderar o que deverá ser uma super-secretaria com a pasta das Finanças e das Obras Públicas.

Já Rui Gonçalves, que foi director regional das Finanças do último governo de Alberto João Jardim, nunca foi uma figura consensual no executivo. Reconheciam-lhe as competências técnicas, mas a inflexibilidade com que lidava com as contas públicas e a austeridade que impunha a alguns departamentos do governo não lhe granjeavam popularidade.

Logo na segunda-feira, na ressaca eleitoral, o ainda secretário regional colocou o lugar à disposição. Ao JM-Madeira, confessou que já “não tinha condições para continuar”, admitindo que um novo rosto para as Finanças pode dar um “novo alento” tanto ao governo como ao partido.

Pedro Calado, um compagnon de route de Albuquerque, ainda não terá dito "sim" à entrada no governo. E a saída de Sérgio Marques também não é, para já, um dado adquirido, mas a manter-se, o governante regional deverá perder influência no executivo, vendo a pasta das Obras Públicas mudar de mãos.

É a terceira remodelação no governo de Albuquerque, que deverá ser oficializada na próxima semana. O governo tomou posse em Abril de 2015 e logo em Agosto desse ano foi obrigado a mexer na Saúde. João Faria Nunes substituiu Manuel Brito na Secretaria Regional da Saúde, acabando depois por dar lugar a Pedro Ramos, em Dezembro do ano passado, por motivos de saúde. Agora, tendo em conta os resultados de domingo, em que os social-democratas ficaram reduzidos a três autarquias em 11 possíveis, é a própria saúde do governo (e, por inerência, do partido) que pode estar em causa.

Logo no dia seguinte àquele em que o PSD teve a pior votação de sempre no arquipélago, mesmo continuando a ser o partido mais votado, Alberto João Jardim arrasou a actual liderança social-democrata. Num extenso artigo de opinião, publicado na página pessoal no Facebook, o antigo governante madeirense escreveu: “O que até agora aconteceu no PSD-Madeira é mau demais para ser só incompetência, irresponsabilidade e leviandade política”.

Para o ex-presidente do governo regional, “a horda” que assaltou o partido engoliu o “pão que amassou” em 2013, quando os sociais-democratas tinham sofrido a maior derrota na Madeira. “Há quatro anos, essa clique exigiu a minha demissão da liderança do partido, por só termos vencido em quatro câmaras municipais. Agora, só com três câmaras, espero que sejam coerentes”, disse, explicando que se a unidade do partido não for restaurado, a Madeira arrisca-se, em 2019, a fica nas mãos de um “governo comuno-socialista”.

Mais adiante, no mesmo texto no Facebook, Jardim insiste na necessidade de unir o PSD-Madeira. Unidade, defende, que passa por eliminar o passado recente, sem necessidade de “saneamentos ou marginalizações”, nem recorrer a qualquer anterior candidatura à liderança. “Basta afastar nem sequer uma dezena de criaturas”, afirma, sem nomear ninguém.

Já Miguel Albuquerque, que tem vindo a dizer que eventuais reestruturações no governo regional e no partido serão feitas em tempo oportuno, não quis comentar as críticas de Jardim. “É livre de fazer as declarações que quiser, ao contrário do que acontecia antigamente”, disse aos jornalistas, à margem de uma cerimónia oficial.

Numa coisa, ambos estão de acordo: A campanha para as eleições regionais de 2019 começou assim que terminou a contagem dos votos das autárquicas. 

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