Turismo e Saúde propõem regresso de comparticipações para as termas

Relatório de grupo de trabalho, que entra hoje em consulta pública, recomenda a reposição dos apoios financeiros como uma das medidas para dinamizar o sector.

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Apoio do SNS acabou em 2011 Paulo Pimenta

Para os ministérios da Economia e da Saúde, não há dúvidas: deve voltar a haver um modelo de comparticipações nos tratamentos termais de modo a impulsionar o crescimento deste sector. A conclusão consta do relatório elaborado pelo grupo de trabalho interministerial, que entra hoje em consulta pública. De acordo com o documento, tem havido um decréscimo da procura e dos resultados registados no sector, isto quando as termas são identificadas como tendo um grande potencial para se desenvolverem.

Para o recuo contribuiu o fim “das comparticipações dos tratamentos termais pelo sistema nacional de saúde português em 2011”, a “diminuição significativa das despesas de saúde aceites em sede de IRS” e “a inexistência de programas com apoios públicos de termalismo sénior e/ou júnior, desenvolvidos pela Fundação Inatel até 2011”.

No caso dos impostos, as referências ficam-se por aqui, mas já no que diz respeito ao papel do Estado, através do Serviço Nacional de Saúde (SNS), aposta-se na “reposição das comparticipações aos utentes que realizem tratamentos nos estabelecimentos termais”.

Com isso, segundo se lê no relatório a que o PÚBLICO teve acesso, é possível devolver ao sector “a importância e a dinâmica retirada em 2011, com a opção política de suspender as mesmas”, até porque a esmagadora maioria dos utilizadores são residentes em Portugal. Já o valor da factura a pagar pelo Estado com os reembolsos está estimado em meio milhão de euros. A questão está agora em saber se também as Finanças, e o primeiro-ministro, António Costa, estão alinhados com as visões partilhadas pela Saúde e pela Economia.

Petição pública a caminho do Parlamento

O grupo de trabalho que analisou a actividade termal em Portugal - identificando os constrangimentos e avançando com medidas de dinamização -, juntou, além de representantes dos dois ministérios ligados ao sector, com coordenação da Secretaria de Estado do Turismo, representantes de organizações como a Ordem dos Médicos, a Associação Nacional de Municípios Portugueses e a Associação das Termas de Portugal (ATP). Por parte desta última, o lóbi para a reintrodução das comparticipações do SNS já está em curso, através de uma petição pública.

A 27 de Setembro, de acordo com uma notícia da Lusa, já tinham sido reunidas mais de 6000 assinaturas, com o objectivo de entregar a petição à Assembleia da República em meados deste mês de Outubro. De acordo com a presidente da ATP, Teresa Vieira, acabou por não haver poupança com o fim das comparticipações, já que “se um doente crónico não pode tratar-se nas termas, continuará sempre a ter que tratar-se noutro sítio”.

No relatório que entra agora em consulta pública estão identificadas vinte medidas de acção, a serem aplicadas no terreno entre este ano e 2019. No caso das comparticipações, pretende-se que estas sejam repostas já no ano que vem.

Ao mesmo tempo, defende-se o “reconhecimento e enquadramento dos tratamentos termais nos subsistemas de saúde e seguradoras”, e o “reconhecimento dos tratamentos termais no quadro dos SNS europeus”. No que toca à vertente europeia, a ideia é haver uma “compatibilização e reconhecimento dos tratamentos termais” em Portugal, para que estes possam ser comparticipados pelos sistemas nacionais de saúde dos países onde os utentes residem.

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Na análise que foi feita ao termalismo em Portugal identificaram-se cerca de 46 estabelecimentos, com maior concentração no centro e norte do país, envolvendo privados e entidades públicas.

O sector, refere-se, “emprega directamente cerca de 2000 pessoas e gera receitas anuais na ordem dos 13,3 milhões de euros”, um montante que se pode considerar baixo, principalmente tendo em conta que a nível europeu o valor aproxima-se dos 45 mil milhões de euros (com destaque para países como a Alemanha). De acordo com o relatório, a facturação do termalismo clássico estava, em 2015 (data dos dados mais recentes), 34% abaixo dos valores de 2010.

O relatório não deixa de destacar que o termalismo, com a esmagadora maioria das estâncias a situar-se em zonas rurais do interior do país, assume “um papel relevante de sustentáculo e de dinamização socioeconómico local e regional”. Uma das ideias, aliás, passa por dinamizar as termas como “produto âncora para o desenvolvimento regional e de promoção da actividade turística ao longo do ano, em territórios de baixa densidade”.

Além do termalismo clássico (apresentado como o que é terapêutico e convencional) , há depois o termalismo de bem-estar e lazer. Este tem vindo a crescer no mercado nacional em termos de inscrições e já supera o clássico, mas os montantes movimentados são ainda residuais (12% do total), até porque a duração das estadias é muito mais curta (dois a três dias, contra 12 a 14 dias).

Na lista de oportunidades verificadas no sector, o grupo de trabalho elenca o crescimento de produtos ligados ao turismo de saúde e bem-estar, e a “procura crescente em novos segmentos (família, jovens e casais com rendimentos médio-altos”. Isto a par da “evolução do conceito termal para além do produtos tradicional (terapêutico)”, com associação a produtos da área do bem-estar e da estética.

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