Campanha não interrompeu negociações sobre orçamento

No encontro com o secretário de Estados dos Assuntos Fiscais, o partido de Catarina Martins voltou a exigir a criação de dois novos escalões de IRS já este ano.

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Catarina Martins garante que BE continua empenhado em travar o empobrecimento do país Mario Lopes Pereira

Continua tudo muito distante daquilo que o Bloco de Esquerda quer para o próximo Orçamento do Estado. Mas houve reuniões entre bloquistas e Governo em plena recta final da campanha autárquica e foram sobre matéria fiscal. Os encontros aconteceram na semana passada, com o secretário de Estados dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes.

Em cima da mesa, o BE mantém a exigência de dois novos escalões de IRS já neste Orçamento do Estado para 2018 (OE2018). Para financiar a medida, o partido propõe o aumento da derrama estadual, um imposto pago, em sede de IRC, pelas empresas com grandes lucros – mas o Governo tem resistido. Estes continuam a ser pontos fundamentais do braço-de-ferro nas negociações.

Tudo o que o BE e o executivo de António Costa não queriam que acontecesse – que as conversas prosseguissem durante a campanha e depois das eleições – aconteceu. O Bloco não se tem cansado de repetir que, se tudo está muito mais atrasado do que gostaria, não foi por falta de disponibilidade da sua parte. Aliás, a própria Catarina Martins já o veio lamentar e dizer que, agora, o trabalho é mais difícil: “Assim é mais difícil do que se tivéssemos feito antes, mas aqui estamos hoje como nos outros dias para continuar o trabalho.”

Durante a campanha, a bloquista já tinha dito, numa entrevista à SIC, que as eleições autárquicas “deviam estar menos contaminadas” por discussões sobre o OE2018 e, mesmo antes de o BE partir para a estrada, Pedro Filipe Soares já alertava para esse risco. Mas foi um Verão com muitos imprevistos – dos incêndios ao assalto a Tancos, passando pela remodelação governamental –, o que dificultou que se fechassem dossiês importantes a tempo e horas. Assim, a poucos dias do prazo para o Governo entregar o documento (13 de Outubro), as reuniões prosseguem.

Da noite para o dia

No BE não se acredita que os resultados das autárquicas pesem na relação com o executivo, negociações para o OE2018 incluídas. "Pela parte do BE, não. Dissemo-lo antes das eleições, continuamos a dizê-lo", afirmou Catarina Martins. Na noite eleitoral, quando questionada sobre o impacto que o resultado eleitoral podia ter na chamada "geringonça", a coordenadora respondeu que o Bloco continuará com "o mesmo empenho e com o mesmo compromisso a trabalhar todos os dias para que o acordo para parar o empobrecimento" seja cumprido.

E, sobre as negociações, acrescentou: “Aquilo a que estamos determinados desde já é nas negociações do Orçamento do Estado para garantir que baixamos os impostos para quem vive do seu trabalho, para garantir que somos capazes de ir mais longe a responder aos pensionistas, para garantir que os serviços públicos são reforçados e para garantir que o salário mínimo nacional volta a subir em Janeiro de 2018."

Mas, se na madrugada da contagem dos votos, o BE só via um verdadeiro motivo para celebrar (a eleição de Ricardo Robles para vereador na Câmara Municipal de Lisboa), no dia seguinte os bloquistas viam um copo, afinal, meio cheio. É caso para dizer que a perspectiva mudou da noite para o dia.

No dia seguinte, o BE agarrou-se às contas finais: elegeu 12 vereadores (mais quatro do que tinha); passou de 100 deputados municipais para 125; de 120.958 para 170.027 votos para as câmaras municipais; de 157.661 para 216.327 na votação para as assembleias municipais; e de 115.191 votos para 169.560 nas assembleias de freguesia. E conseguiu tirar a maioria absoluta ao autarca socialista Fernando Medina – esta, sim, uma grande meta do BE.

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