Espólio de José Porto doado ao Instituto Marques da Silva

Arquitecto modernista nascido no Minho foi o autor da Casa de Manoel de Oliveira, já classificada patrimonialmente.

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Casa da Vilarinha, no Porto DR
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Visita ou Memórias e Confissões, de Manoel de Oliveira DR

Documentos e memórias da carreira do arquitecto José Porto (1883-1965), uma figura do modernismo e o autor da casa onde viveu Manoel de Oliveira, vão passar a integrar o acervo do Instituto Marques da Silva (IMS), no Porto.

A doação foi realizada pelo arquitecto Abílio Mourão, legatário daquele espólio, e vai ser oficializada a 9 de Outubro na sede do IMS. Em causa estão mais de duas centenas de peças desenhadas e um conjunto de 40 outros desenhos de serralharia, que estavam na posse da Oficina Fontes.

“A arquitectura de José Porto apresenta-se com um traço distintivo, plástica e expressiva, funcional e moderna, fortemente marcada pela influência das artes decorativas, assimiladas durante os anos de formação e primeiras experiências profissionais em Genebra e em Paris”, descreve o IMS. O comunicado lembra ainda que José Porto foi “pintor, ilustrador, decorador e designer, até se afirmar definitivamente como arquitecto, de regresso a Portugal, em 1934, com o projecto para o Estádio Distrital do Porto, concurso de onde sai vencedor e que marca o início de uma profícua e duradoura ligação à firma Engenheiros Reunidos".

Natural de Vilar de Mouros – que em 2003 promoveu uma exposição documental a assinalar o 120.º aniversário do nascimento, comissariada por Paulo Torres Bento –, José Porto foi autor de uma obra muito marcada pela arquitectura doméstica, com projectos concretizados no seu Minho natal, mas também no Porto, além de Moçambique (Beira e Lourenço Marques, actual Maputo) e Angola (Lobito).

Exemplo maior da sua estética é a casa que em 1939 projectou para Manoel de Oliveira no Porto, na Rua da Vilarinha, onde o cineasta viveu com a sua família durante quatro décadas, até ao início dos anos 80 – uma vivência que Oliveira quis deixar registada também em cinema, realizando no Inverno de 1981/82 o filme Visita ou Memórias e Confissões, que fez questão de manter inédito até à sua morte, em 2015.

Viana de Lima e Cassiano Branco são dois outros arquitectos da geração modernista que tiveram contribuição para o desenho desta casa, que mais recentemente, e já sob outro proprietário, conheceu novas intervenções projectadas por Gonçalo Ribeiro Telles e Eduardo Souto de Moura, e também por Alexandre Burmester e Maria de Fátima Burmester – em 2003, a moradia foi classificada como Imóvel de Interesse Público.

A exibição do filme Visita ou Memórias e Confissões vai completar, na próxima segunda-feira à noite, na Casa das Artes, o programa que assinalará a doação do espólio de José Porto ao IMS. Ao final da tarde, na sede do instituto (Praça do Marquês de Pombal, 30-44), a obra do arquitecto será evocada com intervenções dos arquitectos Abílio Mourão e Sérgio Fernandez, e também de Paulo Torres Bento e da presidente da Fundação Marques da Silva, Fátima Marinho.

Os arquivos de José Porto vêm agora acrescentar-se a outros que, ao longo dos últimos anos, têm vindo a integrar o centro de documentação desta instituição pertencente à Universidade do Porto, e que foi fundada sobre o património da família Marques da Silva (José Marques da Silva, o celebrado autor da estação de São Bento e do Teatro São João, a filha Maria José e o genro David Moreira da Silva). Fernando Távora, Alcino Soutinho, João Queiroz, José Carlos Loureiro, Manuel Telles, Alfredo Matos Ferreira e Octávio Lixa Filgueiras são os outros arquitectos cujas obras poderão ser revisitadas e estudadas no IMS.

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