Apesar de tudo, votou-se e dois milhões disseram “sim” à independência

Houve votos e estes foram contados. Com mais ou menos obstáculos e sem que todos os critérios definidos se pudessem cumprir.

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EPA/JIM HOLLANDER

O referendo que Madrid e a justiça espanhola não reconhecem teve assembleias de voto encerradas à força pela polícia espanhola e muita violência, mas também teve votos, muitos votos, e estes foram contados. À pergunta “Quer que a Catalunha seja um Estado independente em forma de república?”, 90% dos que quiseram e conseguiram votar disseram “sim”.

Segundo os resultados apresentados ao início da madrugada pelo conselheiro da presidência e porta-voz da Generalitat, Jordi Turull, foram contabilizados 2.262.424 boletins de voto, ao mesmo tempo que 770 mil pessoas não puderam votar ou viram os seus votos ser confiscados pela polícia depois de o fazerem. A favor da independência votaram 2.020.144 pessoas, ou 90%, enquanto 176.565 cidadãos saíram de casa para votar “não” (7,87%).

Os votos nulos foram pouco mais do que 20 mil, os em branco 45.586. Apesar do grande aparato policial, o governo catalão afirma que a grande maioria das assembleias se manteve aberta entre as 9h e as 20h, perto de 86%. Encerradas foram 319 escolas – outras 80 foram cercadas ou sofreram algum tipo de intervenção das autoridades, como a retirada de urnas.

“Foi um dia difícil e temos de assinalar danos pessoais e materiais. Queremos afirmar o nosso apoio às 844 pessoas agredidas, das quais 73 já apresentaram queixa contra os agressores”, disse Turull. Apesar de tudo, “o referendo celebrou-se, votou-se e os votos foram contados, com enormes dificuldades, mas celebrou-se e passámos do ‘votaremos’ ao ‘votámos’”.

As dificuldades foram, de facto, muitas. Madrid fez o que pôde para impedir que se votasse, incluindo apreender boletins, urnas, cartas dirigidas aos presidentes e vogais das mesas de voto (em Espanha são escolhidos por sorteio e notificados por carta) e outro material necessário à votação. Na escola onde o PÚBLICO esteve grande parte do dia, nenhum membro da mesa compareceu e, como definido na lei, assumiram esses cargos os primeiros três eleitores de cada mesa a entrar na assembleia de voto.

Sem o censo impresso, como habitualmente, o governo decidiu em cima da hora que se votaria através de censo universal, com cada pessoa a poder votar em qualquer assembleia. O problema é que a aplicação criada para que os responsáveis pelas mesas acedessem ao censo passou o dia a ser encerrada por ordem judicial. A certa altura, em muitos sítios, optou-se pelo voto manual, o que não assegura que uma mesma pessoa não possa ter votado mais do que uma vez.

Por outro lado, e ao contrário do que escreveram jornais espanhóis como o diário El País, na escola onde o PÚBLICO esteve, ninguém votou sem BI ou sem ter inserido o seu boletim no envelope correspondente. Quanto à contagem, o rigor foi ao ponto de se considerarem nulos os boletins de tamanho diferente, quando se sabe que muitos eleitores os trouxeram de casa, com medo que nas assembleias não houvesse suficientes.

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