Uma génia da música

Não é honesto falar no talento de Cecile McLorin Salvant sem falar de génio. Génio não é o que ela tem. Génio é o que ela é.

Na sexta-feira saiu o melhor álbum de sempre. Há décadas que não ouvia um melhor disco de sempre.

Quanto tempo durará Dreams and Daggers de Cecile McLorin Salvant como melhor álbum de sempre? Pode ser décadas, tal é o meu convencimento.

O jazz contemporâneo anda fugido do Spotify mas Dreams and Daggers está lá todo: são 23 canções formidáveis e 23 interpretações geniais. Não é honesto falar no talento de Cecile McLorin Salvant sem falar de génio. Génio não é o que ela tem. Génio é o que ela é.

Ela faz o que quer com a voz – e quer fazer muitas coisas. O querer dela é emocionante, brincalhão, inteligente, aventureiro, investigativo, sensual, crítico, desafiador, introspectivo e ávido. Ela interpreta as canções multiplamente, sem se decidir, mostrando o pensamento e misturando as reacções à música e à letra de cada uma.

Ela é uma investigadora criadora e cantante. Investiga academicamente as canções – descobrindo pérolas esquecidas, revitalizando standards – e depois investiga-as in situ, espontaneamente, com a voz e com a atenção, improvisando como quem se diverte e elucida ao mesmo tempo.

Salvant é uma grande tudo. É comediante, é intérprete, é conhecedora, é artista, é ilusionista, é surpresa, é misteriosa, é compositora, é letrista, é tímida, é exuberante, é estudiosa, é provocadora.

Ouvi-la cantar é como assistir ao milagre de imaginação musical enquanto está a ser imaginado constantemente através da voz linda e espantástica que ela tem e que ela usa como ninguém.

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