Há “barões” do PSD com saudades de eleger os líderes em congresso

Santana Lopes e José Luís Arnaut já assumem que a eleição do líder em congresso valoriza mais o partido. O primeiro chegou a defender as directas mas assume que mudou de ideias.

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Marques Mendes foi o primeiro líder do PSD eleito em directas, em Maio de 2006 Fernando Veludo

Onze anos depois da consagração das eleições directas do presidente do PSD, figuras de relevo do partido - como o ex-primeiro-ministro Santana Lopes - assumem que estão a mudar de posição sobre o modelo de escolha do líder. Uma maior interferência na caça ao voto dos militantes e a desvalorização dos congressos são dois argumentos que começam a pesar a favor de um regresso à eleição na reunião magna do PSD.

Desde 2006 que os sociais-democratas elegem o seu líder através de voto “universal, directo e secreto” dos militantes como consta dos estatutos. As chamadas eleições directas realizam-se antes do congresso que ficou, assim, apenas com a competência de eleger a restante comissão política e outros órgãos nacionais.

Sete eleições depois, Pedro Santana Lopes, que se assume como um dos grandes responsáveis pelas directas, vem defender que “está na altura de o partido pensar em voltar a ter os grandes congressos do PPD-PSD e de o presidente do partido voltar a ser escolhido em congresso”. O ex-líder assumiu a mudança de posição há poucas semanas, quando participou num jantar de campanha autárquica do PSD em Esposende.

Menos peremptório é Paulo Rangel. O eurodeputado diz estar em “reflexão” sobre o assunto, mas admite estar mais próximo do mecanismo de democracia representativa. “Estou tentado a mudar de posição”, afirmou ao PÚBLICO, assumindo alguma desilusão com as directas: “O defeito que se apontava ao congresso é que havia uma certa instrumentalização do voto por figuras com alguma proeminência e isso foi reforçado com as directas, o que não era expectável”. Por outro lado, o eurodeputado salienta que “nos congressos há uma dose de debate – não só a partir do palco – mas também na troca de impressões”. Candidato às eleições directas de 2010, que perdeu para Passos Coelho, Paulo Rangel considera que o regresso à eleição do líder no congresso “pode ser interessante para um partido como o PSD, para ganhar um novo elan”, depois de sofrer o desgaste “normal” de apoio a um Governo.

A desilusão com o modelo das directas é assumida também pelo deputado Duarte Marques, que enquanto líder da JSD, propôs em 2012 a realização de um congresso antes e de directas depois. O objectivo era promover o debate interno, mas a proposta de alteração aos estatutos foi chumbada em congresso. “As directas não foram uma boa solução como se estava à espera. Os partidos devem fazer uma reflexão. Tem grandes benefícios e grandes males”, afirma, defendendo como “ideal” as eleições em congresso. Neste modelo, são os delegados eleitos para o congresso que votam nos candidatos a órgãos nacionais, incluindo o líder.

Mais do que desilusão com as directas há quem revele agora nunca ter estado convencido sobre o modelo. “Aceitei as directas mas fui sempre contra”, afirma José Luís Arnaut, ex-ministro-adjunto de Durão Barroso e secretário-geral do PSD entre 1999 e 2004. Uma posição crítica que assumiu logo em 2006 ao lado do ex-ministro Nuno Morais Sarmento, outro barrosista.

José Luís Arnaut considera que as directas “num partido como o PSD enfraquece aquela que é a vitalidade, a dinâmica dos congressos”. Por outro lado, salienta que “há um grau de incremento do caciquismo”, um fenómeno que está relacionado com a obrigação de os militantes terem as quotas pagas em dia para poderem votar. Essa obrigação permite o controlo do voto.

Em jeito de balanço, José Luís Arnaut conclui que as directas foram “uma experiência para provar o quão certo estava o processo de eleição em congresso”. Naquela altura, “estavam na moda”, recorda o alto quadro da Goldman Sachs.  

Foi durante o consulado de Marques Mendes, outro ex-líder do PSD, que este novo método de eleição da liderança foi implementado. Mendes reconhece hoje as virtudes e defeitos de ambas as soluções (directas ou congresso), mas na sua opinião “seria difícil voltar atrás e tirar esse poder aos militantes que já se habituaram a votar”.

O actual líder social-democrata prefere não se pronunciar sobre este assunto, segundo a assessoria de imprensa, mas já foi desafiado por Miguel Relvas, o seu antigo número dois, a aceitar um outro modelo – as primárias. Várias vozes se levantaram contra a proposta, a começar por Luís Montenegro que é visto como um futuro candidato à liderança do pós-passismo.

A mesma opinião é partilhada por Miguel Pinto Luz, que liderou a distrital de Lisboa nos últimos seis anos e que foi apontado por Miguel Relvas, na entrevista ao Expresso da passada semana, como uma das figuras para o futuro do partido. “Veja o que aconteceu nas primárias em França em que partidos como o socialista e o dos republicanos escolheram os piores candidatos”, observa, mostrando-se contra o actual modelo que vigora no PSD.

Nas estruturas distritais, as directas já foram adoptadas há mais tempo em substituição das assembleias que escolhiam os órgãos locais. “Fui contra as directas. Acho que se deve voltar ao regime de democracia representativa também nas distritais. Só resolvendo em todos os níveis é que conseguirmos resolver a democracia interna”, sustenta Miguel Pinto Luz.

O motivo da opção pelas directas foi alicerçado na procura de proximidade com eleitorado, mas Miguel Pinto Luz considera que isso não aconteceu: “Vejo cada vez mais abstenção. A credibilização da política não se faz com medidas de plástico”.

Pedro Pinto, actual líder da distrital de Lisboa e figura próxima de Pedro Passos Coelho, não quer pronunciar-se sobre a questão, argumentando que será constituído um grupo de trabalho interno para estudar essa matéria e também a organização interna. O anúncio da criação desse grupo aconteceu na sequência de uma reportagem do Observador que mostrava uma das candidaturas a transportar militantes para o local de voto.

O controlo de voto não é o único factor que pode influenciar o processo. A possibilidade de um militante vir ou não a ser incluído nas listas de candidatos a deputados à Assembleia da República também conta. Essa decisão está, em parte, nas mãos dos dirigentes das estruturas locais. E os que pretendem vir a fazer parte das listas podem ponderar o seu voto nos candidatos à liderança tendo em conta o apoio que a direcção da distrital dá aos mesmos candidatos.

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