À boleia dos transportes, o Bloco discute um cardápio de problemas em Sintra

Candidatos do BE decidiram dar a volta ao concelho em autocarro, mas não era só de transportes públicos que os moradores queriam falar.

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Bloco de Esquerda acredita que é desta que elege um vereador em Sintra Mário Lopes Pereira

A avaliar pelo que dizem os moradores, Casal de Cambra tem um cardápio variado de problemas: maus transportes, habitação social insuficiente, construções que estão ilegais há décadas, sujidade a mais nas ruas. Os relatos não parecem bater certo com a imagem mental que normalmente associamos a Sintra, que é o concelho a que pertence esta freguesia ‘encaixada’ entre Odivelas e a Amadora, a uns 20 quilómetros da pitoresca vila.

“Sempre que vimos aqui dizem-nos que se sentem esquecidos, que a câmara se preocupa com a vila e pouco mais”, diz Carlos Carujo, candidato do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal de Sintra, depois de calcorrear a pé algumas das ruas de Casal de Cambra.

O candidato passou todo o dia de quinta-feira a andar nos autocarros do concelho, geridos por empresas privadas. A intenção era mostrar como os cidadãos que não moram junto à linha ferroviária sofrem “uma injustiça territorial” devido à escassez de oferta e aos preços dos transportes. Mas, à boleia disso, Carujo ouviu queixas sobre muitas outras coisas. “Problemas aqui há muitos. Meios de transportes maus, parques para os miúdos só há um. Eu já estou em Casal de Cambra há quase vinte anos e isto não evoluiu nada”, queixa-se uma mulher africana quando a pequena comitiva bloquista se começa a aproximar do centro da freguesia.

A jornada começara quase uma hora antes, às 9h30, quando Carlos Carujo e alguns apoiantes apanharam um autocarro na estação do Cacém. A viagem dura perto de meia hora e proporciona paisagens variadas. Na Agualva, pára-arranca por entre a selva urbana de prédios altíssimos. Na Idanha, a um núcleo de casas baixas relativamente antigas segue-se de imediato um outro tipicamente suburbano: prédios cheios de marquises e tinta a descascar. O cenário não é muito diferente em Belas, terra dos fofos (bolos de pão-de-ló com creme) , onde a carreira passa rapidamente. Por fim, chegada a Casal de Cambra. A paragem é à beira da estrada, junto a um silvado, pelo meio do qual existe uma subida alcatroada que é preciso fazer a pé.

Lá no topo está um bairro social, de edifícios grafitados e portas partidas, mas meia dúzia de passos depois vê-se uma terra de muitos feitios espraiada pelo vale. Junta-se aqui ao grupo o deputado Pedro Filipe Soares, que ao lado de Carujo ouve queixas e apresenta aquilo que considera serem as soluções. Num café, os convivas apontam a falta de habitação como o principal problema da zona. “Há por aí tanta casa abandonada. É preciso é que a câmara invista na compra de casas e as recupere para disponibilizar”, afirma Carujo. Numa drogaria, o dono lamenta o fraco negócio. “Todos nós temos um voto, temos é de o utilizar bem”, lembra Soares.

A campanha do Bloco em Sintra é bastante informal, por força de várias circunstâncias. E também por vontade dos candidatos, que dizem querer quase um contacto porta-a-porta. Ao percorrer as ruas de Casal de Cambra, não muito movimentadas a meio da manhã, Carlos Carujo, Pedro Filipe Soares e André Beja (candidato à assembleia municipal) não deixam escapar uma única pessoa. Todas recebem panfletos, muitas alimentam conversa. Na caravana, o sentimento é de que faltam poucos votos para alcançar um objectivo há muito desejado – eleger um vereador. “Queremos tirar a maioria absoluta ao PS para os obrigar a ter políticas diferentes”, explica Carujo. “Quando nos dão a força para mostrar aquilo que valemos, temos mostrado”, diz Soares.

Ao fim da manhã, o grupo deixa finalmente Casal de Cambra, também de autocarro. O destino é Almargem do Bispo, mas antes há que ir até Caneças, já fora do concelho, para apanhar a carreira adequada. O percurso até Almargem é feito numa estrada em curva e contracurva, por entre vivendas mais ou menos dispersas e descampados. A paisagem mudou outra vez. Vêem-se campos lavrados, animais a pastar, torres eólicas, estufas. Novamente, parece outro concelho. Saltam os candidatos do veículo, logo ali ao lado há um café. E recomeça a peregrinação voto a voto…

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