Vice Principals, a comédia negra da HBO está de volta

A segunda temporada estreia-se em Portugal no mesmo dia que nos Estados Unidos. Passa no TVSéries esta madrugada de domingo e repete segunda-feira, às 22h30.

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Vice Principals olha para a masculinidade tóxica HBO

Dois homens brancos, Neal Gamby e Lee Russell, partilhavam o cargo de vice-reitores de um liceu da Carolina do Sul, nos Estados Unidos. Quando o reitor se retirou, ambos achavam que o cargo seria deles por direito, apesar de não terem competência para tal. Contudo, foi uma mulher de fora, negra, altamente competente e muito mais boa pessoa do que eles, que ficou a reitora. Relutantemente, juntam-se para a tentar destronar.

Esta é a premissa de Vice Principals, a comédia muitíssimo negra da HBO que passa no TVSéries e regressa na madrugada de domingo (às 3 e 30 da manhã, com repetição na segunda-feira às 22h30) para a segunda e última temporada.

Na série, Danny McBride e Walton Goggins, de Justified, fazem, respectivamente, os papéis de Gamby e Russell. Apesar de serem eles os protagonistas, Kimberly Hebert Gregory como Belinda Brown, a tal reitora mais adequada para a tarefa, acaba por também ter muito do protagonismo. McBride é também o co-criador, tendo desenvolvido a ideia há dez anos com Jody Hill, seu colaborador habitual, com quem fez filmes como The Foot Fist Way e Eastbound & Down, a série da HBO sobre um patético, odioso e caído em desgraça jogador de basebol a voltar ao activo.

Originalmente, Vice Principals ia ser um filme, mas decidiram expandir a história ao longo de nove horas, ou seja, 18 episódios de meia hora, todos escritos e fechados antes do início da rodagem. São repartidos por duas temporadas, para contar uma história com princípio, meio e fim, filmadas de uma só assentada, o que é raríssimo em televisão. Não é a única característica pouco usual da série: cada temporada tem só um realizador. No caso da primeira, foi Hill. Na segunda os episódios têm atrás das câmaras o talentoso David Gordon Green, que foi colega de Hill e McBride na faculdade na Carolina do Norte. No início dos anos 2000, Gordon Green era visto pela crítica como uma espécie de novo Terrence Malick por causa de filmes dramáticos e delicados como George Washington – no qual McBride aparecia – ou Contra-Corrente. Em 2008, contudo, realizou Alta Pedrada (o tenebroso título em português de Pineapple Express), uma comédia sobre marijuana com Seth Rogen e James Franco e tornou-se uma força a ter em conta no que toca a obras para fazer rir, tendo continuado nessa onda durante uns tempos e depois voltado ao drama, com episódios de Eastbound & Down e séries como Red Oaks, da Amazon, pelo meio.

Hill e McBride nunca esconderam a admiração pelo Martin Scorsese de Taxi Driver e O Rei da Comédia, constantemente a levarem a sua comédia, que raramente envolve piadas propriamente ditas e é mais composta por atitudes e retratar comportamentos e personagens detestáveis que são humanizadas mas raramente gloriificadas, a caminhos muito obscuros. E a explorarem e desconstruírem a fragilidade da masculinidade tóxica, neste caso a masculinidade branca, e como se relaciona com as noções de ressentimento, privilégio e o sentimento de direitos adquiridos à mistura. Vice Principals, uma série em que acontecem coisas muito, muito más (e por vezes até complicadas de ver), continua isso. Tem muitos ecos das eleições norte-americanas de 2016, apesar de toda a série ter sido escrita e filmada muito antes disso.

Ainda assim, em entrevistas, Hill tem apontado como influência da primeira temporada o trabalho de John Hughes, o rei dos filmes de adolescentes dos anos 1980, enquanto a segunda, nas palavras dele, vai beber a Brian de Palma, o homem que aplicou muito sangue e violência às lições que aprendeu com Alfred Hitchcock. Mas sempre tudo com muita personalidade, e sem parecer imitação disso, mesmo quando estão a citar directamente.

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