Há ainda mais arte urbana a colorir as ruas de Estarreja

Município está a ganhar novos murais e instalações artísticas no âmbito da segunda edição de um festival que parece ter vindo para ficar.

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Adriano Miranda
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A Loja da Preciosa, mercearia tradicional – bem à moda de antigamente -, vive, por estes dias, um dos momentos mais altos da sua longa história. Nunca, nos seus cerca de 100 anos de existência, foi tão fotografada como agora. “Não estava à espera de ver tanta gente a tirar fotografias”, conta a proprietária, Ilda Ferreira, que, aos 95 anos, - está a dois meses de completar 96 - vai mantendo o negócio que herdou do sogro (que era casado com a Preciosa que deu nome à casa).

Na fachada do edifício que alberga a mercearia encontram-se, agora, cravadas várias imagens captadas pela fotógrafa Camilla Watson, uma das artistas convidadas da edição deste ano do festival Estau – Estarreja Arte Urbana, evento que já conseguiu criar uma espécie de “museu de arte a céu aberto” neste município da região de Aveiro. Não restam dúvidas: a Loja da Preciosa está “mais bonita” – conforme reconhece a própria proprietária – mas não é o único edifício da cidade a poder gabar-se disso. Há mais obras de arte urbana “pintadas de fresco” em paredes e fachadas do município - uma das quais com a assinatura de Vhils - e que vêm juntar-se aos murais e instalações artísticas criados, no ano passado, na primeira do edição do festival.

O Estau, que arrancou no passado dia 9 e encerra neste domingo, volta a apostar num programa abrangente, que inclui workshops, exposições, filmes, dança, visitas guiadas e concertos, entre outras actividades. Com essa nota de destaque: o público pode acompanhar de perto o trabalho que está a ser criado pelos artistas urbanos que fazem parte do leque de convidados da edição deste ano. Entre eles está o espanhol Manolo Mesa, que trouxe para Estarreja – mais concretamente para o cruzamento da Rua Dr. Manuel Barbosa com a Rua Manuel Lopes Rodrigues - uma imagem da sua “musa” inspiradora. “A Maria é uma senhora, já idosa, que conheço há muito tempo e com a qual me identifico muito”, revelou o artista espanhol ao PÚBLICO. Esta é já a quarta vez que Manolo Mesa passa a imagem de Maria para as suas pinturas murais e não esconde o prazer que isso lhe traz. “Foi uma mulher que teve de emigrar, nos anos 40 do século passado, para França, teve de trabalhar muito e, para mim, isso tem simbolismo”, argumentou. Ele gosta de a pintar e ela também gosta muito de ver a sua imagem reflectida no trabalho de Manolo. “Quando acabo os murais tiro sempre uma foto para lhe mostrar e ela adora” – Maria deve estar prestes a ficar a conhecer a imagem final desta nova pintura dedicada a si.

Noutro ponto da cidade, nas traseiras da câmara municipal (mais concretamente na Rua Dr. Casimiro da Silva Tavares), a dupla Mariana Branco e Emanuel Barreira, que assinam com o nome Halfstudio, decidiu inspirar-se num filho da terra para criar o seu mural. Egas Moniz, prémio Nobel da Medicina em 1949, nascido em Avanca, Estarreja, é lembrado na obra de arte criada por estes dois jovens artistas, que decidiram inspirar-se no livro “A Nossa Casa” – obra publicada em 1950 e na qual Egas Moniz narra a sua infância em torno da Casa do Marinheiro, em Avanca. “Pensámos que seria interessante trabalhar à volta desse livro, uma vez que acreditamos que o sítio de onde as pessoas crescem as molda enquanto pessoas”, justificaram Mariana e Emanuel.

Da figura e da obra de Egas Moniz surgiu, ainda, inspiração para outras três novas obras de arte urbana. É o caso da pintura a preto e branco que, agora, decora a parede da torre dos bombeiros voluntários de Estarreja e que conta com a assinatura do artista marroquino Mohamed L’Ghacham. “Vi umas 50 fotos dele e escolhi esta. Foi a que mais me agradou”, garantiu, ao mesmo tempo que se mostrava especialmente sensibilizado com o facto de “toda a gente que vê a pintura” conseguir, “de imediato, reconhecer a figura do Egas Moniz”.

Além do Nobel da Medicina, há outros motivos e personagens do município de Estarreja plasmados nas obras de arte que acabam de nascer. A porto-riquenha Ana María, por exemplo, optou por retratar as garças-vermelhas que abundam naquele território; e Vhils inspirou-se na D. Florinda, uma mulher da terra que se dedica ao cultivo do arroz.

Um circuito à espera de ser visitado

Terminado o festival, ficarão as obras de arte urbana (murais e instalações artísticas), que, por esta altura – depois destas duas edições do Estau e, também, no âmbito de um outro certame (Observaria) -, já são mais de duas dezenas. “Estarreja conta agora com um número de obras de arte urbana que justifica andar por aqui, a cumprir um circuito”, destacou Diamantino Sabina, líder da autarquia, ao mesmo que se mostrava confiante na expansão deste “museu a céu aberto” nos próximos anos, com mais edições do Estau. Com essa certeza: “este é um festival que tem condições para continuar a crescer”, segundo avaliou Lara Seixo Rodrigues, curadora do Estau. “Se conseguirmos continuar a trazer aqui artistas de grande valor nacional e internacional, esse vai ser um importante factor distintivo deste festival”, acrescentou.

Programa recheado de actividades

Neste sábado e domingo, últimos dias do programa, há muito para ver e ouvir no Estau 2017, para além da visita às novas obras de arte urbana do município. Exposições, conversas e workshops, preenchem um cartaz que reserva, ainda, lugar de destaque para a música. Hoje, pelas 21h30, pelas ruas da cidade, será apresentada a performance musical ESTA’gente, que conta com a participação da comunidade local. Amanhã, a música estará a cargo da Big Band Estarreejazz, que actua, pelas 18h30, no Cine-Teatro de Estarreja.

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