Suu Kyi falta à Assembleia Geral da ONU no meio da crise dos rohingya

Pelo menos 370 mil rohingya atravessaram a fronteira com o Bangladesh desde 25 de Agosto. Líder birmanesa discursará na televisão birmanesa em vez de ir a Nova Iorque.

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Aung San Suu Kyi Reuters/Soe Zeya Tun

A conselheira de Estado e líder de facto do Governo birmanês, Aung San Suu Kyi, vai faltar à Assembleia Geral da ONU, temendo ser alvo de críticas devido  à crise com a minoria muçulmana rohingya. Em vez disso, anunciou um porta-voz do executivo, deverá fazer um discurso na televisão birmanesa, a 19 de Setembro, "para falar de paz e reconciliação nacional".

“Perante as actuais circunstâncias, a conselheira de Estado tem assuntos domésticos que precisam de atenção”, declarou Kyaw Zeya, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros birmanês, pasta que Suu Kyi também temsob a sua alçada, numa referência à crise desencadeada no Oeste do país, onde se concentra a minoria rohingya, indicou o jornal The Irrawaddy.

O vice-presidente, Henry Van Thio, acompanhado pelo conselheiro de Segurança Nacional, Thaung Tun, irá  a Nova Iorque.

A 72.ª sessão regular das Nações Unidas, que começou esta terça-feira e termina no próximo dia 25, decorre sob o lema “Centrados nas pessoas: a luta pela paz e uma vida decente para todos num planeta sustentável”.

Pelo menos 370 mil rohingya atravessaram a fronteira em direcção ao Bangladesh desde 25 de Agosto, altura em que a violência aumentou, após uma ofensiva militar lançada na sequência do ataque, nesse dia, contra três dezenas de postos da polícia efectuado pela rebelião, o Exército de Salvação do Estado Rohingya, que defende os direitos daquela minoria muçulmana.

O alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos afirmou na segunda-feira que a forma como a Birmânia está a tratar a minoria muçulmana rohingya aparenta ser  “um exemplo clássico de limpeza étnica”.

“A Birmânia tem recusado o acesso dos inspectores [da ONU] especializados em direitos humanos. A avaliação actualizada da situação não pode ser integralmente realizada, mas a situação parece ser um exemplo clássico de limpeza étnica”, disse Zeid Ra’ad Al Hussein na abertura da 36.ª sessão do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra.

Na terça-feira, as autoridades birmanesas rejeitaram a acusação do representante da ONU.

A líder de facto da Birmânia tem sido duramente criticada por várias personalidades por defender a actuação do Exército em relação aos rohingya. Entre os críticos está a paquistanesa Malala Yousafzai e o sul-africano Desmond Tutu, que como Su Kyi foram laureados com o Nobel da Paz.

Uma petição, assinada por mais de 350 mil pessoas de todo o mundo, pediu ao Comité Nobel Norueguês que retire o prémio à birmanesa.

Suu Kyi defendeu-se das críticas na semana passada, afirmando haver uma campanha de desinformação sobre a questão e assegurando que vai proteger os direitos de todas as pessoas. “A solidariedade internacional com os rohingya é o resultado de um enorme icebergue de desinformação, que visa criar problemas entre as diferentes comunidades e promover os interesses dos terroristas”, disse.

O Conselho de Segurança da ONU vai reunir-se nesta quarta-feira para discutir a violência na Birmânia, uma reunião urgente reclamada pelo Reino Unido e pela Suécia em resposta às crescentes preocupações da comunidade internacional.

A Birmânia, onde mais de 90% da população é budista, não reconhece cidadania aos rohingya, uma minoria apátrida considerada pelas Nações Unidas como uma das mais perseguidas do planeta.

Mais de um milhão de rohingya vive em Rakhine, onde sofre crescente discriminação desde o início da violência sectária em 2012, que causou pelo menos 160 mortos e deixou aproximadamente 120 mil pessoas confinadas a 67 campos de deslocados.

Apesar de muitos viverem no país há gerações, não têm acesso ao mercado de trabalho, às escolas, aos hospitais e o recrudescimento do nacionalismo budista nos últimos anos levou a uma crescente hostilidade contra eles, com confrontos por vezes mortíferos.

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