Humor e jazz, requiem de guerra e de paz e um coro infantil em estreia

A Casa da Música apresentou calendário de actividades para o quadrimestre Setembro-Dezembro. Coro Infantil vai estrear-se a 1 de Outubro, Dia Mundial da Música.

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Coro Infantil é dirigido por Raquel Couto Alexandre Delmar/Casa da Música

Rir com uma piada musical de Mozart, chorar com o Requiem de Britten, cantar com Maria João agora associada ao brasileiro Egberto Gismonti, "dançar" com o cravo barroco de Fernando Miguel Jalôto, acreditar com o Messias de Händel… Estes são alguns tópicos para os próximos quatro meses de programação da Casa da Música, apresentada esta sexta-feira no Porto.

Como vem sendo hábito nos últimos anos, a rentrée da instituição faz-se ao ar livre, e com acesso gratuito, na Baixa, com os Concertos na Avenida dos Aliados – que este sábado, em segundo dia, dão a ouvir clássicos da música universal pela Orquestra Sinfónica do Porto (OSPCM).

Mas os principais destaques (e as novidades) de um programa cujo calendário confirma o que fora anunciado no início da temporada são o novo ciclo Humor na Música e os nomes dos participantes no festival Outono em Jazz, além da estreia da nova estrutura residente, o Coro Infantil Casa da Música.

António Jorge Pacheco, director artístico da Casa, apresentou o novo ciclo temático como uma oportunidade para mostrar que “não sendo uma categoria musical, as emoções associadas ao humor também podem ser interpretadas e veiculadas pela música”. E citou como paradigmáticas duas obras de dois compositores de épocas e estéticas bem diversas: Mozart, com Uma piada musical – “alguém disse que raramente um músico terá exigido tanto ao seu próprio génio com o fim de parecer estúpido”, lembrou –, e o compositor alemão do século XX Bernd Alois Zimmermann, que com Musique pour les soupers du Roi Ubu (a partir da peça de Alfred Jarry) explora a imaginação e faz aflorar um sorriso irresistível no espectador.

Luís Tinoco, Haydn, Mauricio Kagel e John Cage são alguns dos outros compositores convocados para os quatro concertos deste ciclo, que serão protagonizados por todas as formações da Casa, entre 19 e 26 de Setembro.

1 de Outubro, Dia Mundial da Música, será também o “Dia D” para a nova criação da Casa, o Coro Infantil, que desde há cerca de um ano vem sendo formado e é dirigido pela jovem professora e intérprete portuense Raquel Couto. E o mínimo que se pode dizer é que terá um desafio de monta, já que a jovem formação irá confrontar-se no palco da Sala Suggia com o prestigiado Coro Nacional de Espanha, além do portuense Coro Lira, num concerto da OSPCM, dirigida pelo seu maestro titular Baldur Brönnimann, que terá como momento forte a interpretação do War Requiem (1962) de Benjamin Britten. Seguindo as instruções do compositor britânico, que criou esta peça com intuitos pacifistas após o final da 2.ª Guerra Mundial, foram convidados três intérpretes de três países centrais no conflito: a soprano russa Anna Shafajinskaia; o tenor inglês Barry Banks e o barítono alemão Johannes Kammler.

A nova aventura musical de Maria João, agora numa parceria com o compositor e multi-instrumentista brasileiro Egberto Gismonti, abre, a 11 de Outubro, o programa do Outono em Jazz, que contará uma dezena de concertos, alguns deles duplos. O duo Maria João-Gismonti, que se estreou no Festival de Ravello, em Itália, chega ao Porto dois dias depois da actuação no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a abrir uma digressão europeia.

Uma homenagem a Art Blakey pelo Tony Allen Quartet (dia 23), Marc Ribot & The Young Philadelphians (dia 25) e o Peter Evans Septet (dia 30) são outros nomes no programa do Outono em Jazz.

Residência de Ryan Wigglesworth

A música britânica, em ano dedicado ao Reino Unido, vai também continuar a atravessar o programa. António Jorge Pacheco chama a atenção para a residência artística que o maestro e compositor Ryan Wigglesworth, Artista em Associação este ano na Casa, fará no Porto, também em Outubro. Vai dirigir o Remix e a Sinfónica e estrear em Portugal duas peças suas: Augenlider e Études-Tableaux. “É um jovem compositor que irrompeu de forma inesperada e está a marcar a cena musical britânica”, assegura o director artístico.

Outro ciclo com história já firmada é À Volta do Barroco (31 de Outubro a 14 de Novembro), que continua a manter-se fiel ao perfil original: “Não se trata de fazer um festival de música barroca, mas de mostrar como a herança desta época e estética musicais atravessa a história da música”, lembra António Jorge Pacheco. O programa abre com o cravista português Fernando Miguel Jalôto a tocar “suites quase inglesas” de Froberger, Händel e Bach, e fecha com o regresso ao Porto dos The Tallis Scholars, reputada formação de música vocal que este ano vem interpretar um reportório quase exclusivamente preenchido com obras do britânico William Byrd. Pelo meio (4 de Novembro), haverá a oportunidade de ouvir, uma vez mais, essa obra sublime do património musical mundial que é o Requiem de Mozart, interpretado pela Sinfónica e pelo Coro Casa da Música dirigidos por Leopold Hager.

Entre regressos e estreias, o Ciclo de Piano vai contar com mais três nomes marcantes da cena mundial. Em Outubro (dia 21), volta ao Porto o jovem britânico Benjamin Grosvenor, a interpretar Bach, Brahms, Debussy, Berg e Ravel. Outro regresso, um ano após a sua estreia em Portugal, será a do ucraniano Alexander Romanovsky (19 de Novembro), com peças de Schumann e Mussorgski. E, para descobrir, o sul-coreano Seong-Jin Cho (7 de Dezembro), que em 2015, com apenas 21 anos, foi o vencedor do Concurso Internacional Chopin, em Varsóvia: vem interpretar este compositor e também Debussy.

O ano termina com Música para o Natal e com os programas tradicionalmente esperados na época, onde avultam, no fim-de-semana de 22 e 23 de Dezembro, os concertos da Sinfónica, da Barroca e do Coro Casa da Música com alinhamentos que vão das suites de Rimski-Korsakoff e Tchaikovski a excertos da oratória O Messias, de Händel.

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