Conselhos da pressa

O cérebro tenta sempre evitar o stress, por muito criativo que seja. Para quê? Só para se dizer que não se tem pressa?

A pressa pode ser má conselheira mas pelo menos dá conselhos. É preciso estar-se com pressa para nos lembrarmos do que esquecemos. Graças à pressa temos tempo para voltar atrás.

Quando se anda em câmara lenta o cérebro pensa que estamos a descansar e desliga-se. A conservação de energia é inimiga dos lampejos de inspiração.

O problema é que a pressa não se finge. Tem de ser sincera. Podemos correr de uma sala para outro até ficarmos com a língua de fora - não serve de nada. As outras pessoas podem ser enganadas - "porque é que estás com tanta pressa?" - mas a nossa própria cabeça sabe sempre o que se está a passar.

Para haver pressa é preciso uma medida de desequilíbrio, de atrapalhação e de medo. Ter medo de não chegar a horas não é suficiente. É preciso ter medo de não chegar a tempo. Ou de não chegar de todo. Esse é o medo mais eficaz de todos que age sobre nós com a propulsão de um foguete.

Deixar tudo para a última hora também não funciona. É uma manobra que se denuncia a si mesma, produzindo uma pressa artificial que é estéril em conselhos. Instala-se a histeria e da cabeça não sobra nada para deambulações mentais.

O pior conselho de todos é "para a próxima começa mais cedo" mas aparece sempre. Paciência, venha o próximo.

O cérebro tenta sempre evitar o stress, por muito criativo que seja. Para quê? Só para se dizer que não se tem pressa? Mais valia cair de joelhos e confessar que se tem tempo a mais e que não sabemos o que havemos de fazer com o que temos. Nada? Nunca.

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