Manda a justiça

As duas maiores qualidades dos ingleses são o sentido de humor e o fairness. Não conseguem deixar de ser justos.

Vivi no Reino Unido entre 1975 e 1982 como estudante estrangeiro. Tinha uma caderneta de alien (sim, um sinónimo de extraterrestre) que tinha de renovar todos os anos, escrevendo cartas pessoais ao Home Office. Também tinha de apresentar-me à polícia cada vez que mudava de residência.

Tudo isto foi, obviamente, antes de Portugal pertencer à União Europeia. Era desagradável e dava muito trabalho mas o sistema funcionava. Estive no Reino Unido os anos que quis. A partir do segundo ano da faculdade as minhas propinas e despesas de alimentação e alojamento foram sempre pagas pela Universidade de Manchester, onde eu estudava.

Durante seis anos, até acabar o meu doutoramento, a minha estadia em Inglaterra foi paga pela universidade. Era muito bom aluno, é verdade, mas fui sempre tratado com justiça. Acho que as duas maiores qualidades dos ingleses são o sentido de humor e o fairness. Não conseguem deixar de ser justos.

Conheci muitos estudantes britânicos a quem foram negadas as ajudas que eu tive. O Reino Unido não ganhou nada com o dinheiro que gastou comigo, à parte a minha gratidão. Nunca pediu contrapartidas. Nunca me castigou por ser estrangeiro. Apenas me julgou academicamente. Estudei muito e senti-me devidamente recompensado: uma raridade no resto do mundo.

Durante as férias de Verão trabalhei ilegalmente em Inglaterra, contrariando as condições do meu visto. Foi não só fácil como agradável. Nunca tive de me esconder — ou medo de ser apanhado. Isto precisava de ser dito, agora.

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