Merkel e Schulz enfrentam-se no único duelo televisivo da campanha

Social-democrata vai tentar diferenciar-se da sua rival, que tem uma vantagem de 14 pontos. Enfrentar a serenidade da chanceler e mostrar-se diferente, apesar de o SPD estar na coligação de governo, continua a ser um desafio para o líder da oposição.

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Cartazes de campanha de Merkel e Schulz CLEMENS BILAN (EPA

Como enfrentar Angela Merkel? O duelo televisivo que se realiza este domingo entre os candidatos dos dois principais partidos alemães está a ser visto como a melhor hipótese do social-democrata Martin Schulz minorar a desvantagem que tem em relação à chanceler, que tentará obter um quarto mandato a 24 de Setembro.

Schulz tem dois grandes desafios: o primeiro é ser assertivo mas não agressivo com uma chanceler conhecida pela sua serenidade. Numa ronda de perguntas com jornalistas esta semana, alguém perguntou a Merkel se não se sentia por vezes uma espécie de soporífero; a chanceler não se deixou provocar, respondendo apenas que a sua ideia de uma campanha interessante não eram pessoas aos gritos.

O segundo desafio é mostrar que é politicamente diferente da actual chanceler, algo que esbarra numa dupla dificuldade: o seu partido estar numa “grande coligação” de Governo com Merkel (e já pela segunda vez, depois do seu primeiro governo, em 2005-2009), e o facto de Merkel ser perita em pegar em propostas da oposição e ou fazê-las suas (política de família, fim do serviço militar obrigatório, por exemplo), ou aplicá-las mesmo expressando reservas (o que aconteceu no final de Junho com o casamento de pessoas do mesmo sexo).

Merkel tem insistido em temas de campanha seguros. Diz, por exemplo, que não irá aumentar a dívida (não é por acaso que o sólido ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, é o político mais popular na Alemanha). “A CDU é sinónimo de finanças sólidas”, declarou recentemente.

Aqui pode surgir um ponto de debate com Schulz, que tem defendido a necessidade de investimento “automático” em infra-estruturas. “O que é mais importante – dar presentes fiscais aos mais ricos? Ou assegurarmo-nos que não chove na escola dos nossos filhos?”, perguntou o candidato social-democrata.

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Martin Schulz entrevistado por uma televisão frente ao Reichstag ALEXANDER BECHER/EPA

A discussão poupança/investimento é das mais interessantes também fora da Alemanha. A revista britânica The Economist fazia em Julho capa com o “problema alemão”, acusando o país de poupar demasiado e gastar pouco.

Violência e apupos

Se alguns temas em debate não são muito novos, há algo inédito nesta campanha: a violência do debate, com o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que deverá entrar no Parlamento, a usar uma retórica cada vez mais extremista contra estrangeiros e refugiados.

A violência não tem sido só retórica: segundo o jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung, no ano passado houve 1840 actos criminosos contra políticos (em campanha, a automóveis, ou a sedes de partidos) – três vezes mais do que no ano anterior. Os dois partidos nos extremos do espectro político alemão foram os mais atacados: AfD e Die Linke (esquerda).

Merkel decidiu enfrentar este extremar: decidiu passar algum tempo em campanha em estados onde a AfD tem alguma força. É preciso “tomar uma posição” e “não ter medo dos gritos”, declarou.

Se num comício recente a violência dos protestos apanhou a sua equipa de surpresa, conta o diário britânico The Guardian, ela não se deixou intimidar. “Não se resolve os problemas a gritar, mas a participar”, disse no discurso.

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Comício do partido de extrema-direita AfD, com cartazes anti-Merkel e anti-refugiados CLEMENS BILAN/EPA

A questão dos refugiados é uma em que Merkel se mostrou inabalável. A chanceler alemã não tem problemas em reviravoltas políticas quando percebe que errou. Mas depois de perceber que foi pouco popular a decisão de deixar entrar cerca de 800 mil pessoas, a maioria em fuga da guerra na Síria, no Verão de 2015, Merkel continua a manter que foi a decisão acertada.

Mas Merkel é também conhecida pelo seu extremo pragmatismo, e também nesta questão o mostrou: Berlim está a dificultar as reunificações familiares de refugiados noutros países com os que já estão na Alemanha, e está ainda a acelerar o repatriamento de afegãos que tiveram o seu pedido de asilo recusado, considerando o Afeganistão “um país seguro”.

Schulz tem defendido uma revisão desta política de repatriamento de afegãos, já que não considera o país seguro; ainda assim, este não parece ser um importante tema de campanha.

Já a influência da Rússia pode ser discutida – ainda esta semana os serviços de informação declararam estar em alerta para possível ataque informático a políticos e sistemas informáticos.

E aqui um fantasma do passado veio assombrar o SPD: Gerhard Schröder, o antigo chanceler, foi nomeado para o conselho de administração do gigante russo Rosneft, uma empresa sujeita a sanções pela anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.

 

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