Guterres condena violência na Birmânia. Há 58.600 rohingya em fuga

Governo da Birmânia culpa grupo de revoltosos pela destruição de 2600 casas. ONG desmente regime de Suu Kyi. ONU diz que estão em fuga 58.600 rohingya.

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Reuters/MOHAMMAD PONIR HOSSAIN

O secretário-geral da Nações Unidas, António Guterres, condenou esta sexta-feira a violência na Birmânia e apelou à calma para que se evite uma catástrofe humanitária. A ONU estima que neste momento estejam 58.600 rohingya, uma minoria muçulmana que há décadas é perseguida na Birmânia, em fuga para o Bangladesh e o governo de Aung Suu Kyi confirma que foram destruídas 2600 casas no Noroeste do país, resultado do confronto entre o exército e um grupo armado de revoltosos.

Guterres está "profundamente preocupado com os relatos de excessos durante as operações de seguranças conduzidas pelas forças de segurança da Birmânia no estado de Rakhine" desde o dia 24 de Agosto, disse o porta-voz da ONU numa declaração na sexta-feira. O secretário-geral exige ao Governo da Birmânia que assegure assistência e segurança a todos os que precisem e que autorize a ONU e os seus parceiros a providenciar ajuda humanitária, tanto no país como no Bangladesh.

Os dados mais recentes das Nações Unidas dão conta que nas última semanas já fugiram do país 58.600 muçulmanos rohingya. E se a ONU fala na possibilidade de uma catástrofe humanitária, os refugiados não têm dificuldade em apelidar o que se está a passar naquele estado como "um genocídio" e uma perseguição à minoria étnica. 

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Mas o que se está a passar não é claro, não é inédito e há diferentes interpretações. O Governo diz que está a responder a um ataque levado a cabo por um grupo armado de terroristas conhecido pelo nome de Exército de Salvação dos Rohingya de Arracão (ESRA). Fontes governamentais contam que desta operação já morreram 399 pessoas e que 370 "eram terroristas", avança a CNN. Contudo, os activistas dizem que os militares mataram mulheres, crianças e inocentes. 

Os dados são dados de parte a parte. Os Governo diz que o ESRA é responsável pela destruição pelo fogo de 2600 casas em algumas aldeias de Rakhine, e que está apenas a responder ao ataque que foi levado a cabo por este grupo contra postos de polícia nos últimos tempos. No entanto, a organização não-governamental (ONG) Humans Rights Watch (HRW) desmente esta afirmação. Depois de analisarem imagens satélite da zona, garantem que as autoridades atearam fogo propositadamente.

"As novas imagens de satélite mostram a destruição total de uma aldeia muçulmana e suscitam sérias suspeitas de que o nível de destruição no estado de Rakhine pode ser muito pior do que inicialmente se pensou" disse o vice-presidente da HRW para a Ásia, Phil Robertson citado pela Reuters.

O que é certo é que estes confrontos estão a obrigar milhares de rohingya a fugir do país e a tentarem ir para o Bangladesh. Contudo, a maioria está naquilo a que se pode chamar "a terra de ninguém". 

Os problemas no Noroeste do país são um dos principais testes à liderança de Aung Sang Suu Kyi, que tem sido criticada por não condenar publicamente o que se passa no estado de Rakhine. Em conversa com a CNN, Sally Smith, da ONG Nexus Fund, diz que parece que Suu Kyi "preocupa-se com a paz para os budistas, mas não para os rohingya". "Ela está a usar uma linguagem incrivelmente irresponsável e inflamatória, diz que são terroristas", o que fará, assegura, que haja um aumento das tensões e que possa dar origem também a ataques de civis aos rohingya.

Os ataques começaram em Outubro do ano passado e até agora, a líder birmanesa não fez qualquer declaração pública forte sobre o assunto. Em Abril deste ano, por exemplo, chegou a negar que esteja a haver uma "limpeza étnica" de muçulmanos naquela estado. Numa entrevista à BBC, Suu Kyi, Nobel da Paz em 1991, insistiu que não se tratava de uma limpeza étnica, mas de muçulmanos a lutar contra muçulmanos. 

Este silêncio tem levado a que seja alvo de críticas, nomeadamente do presidente da Turquia Tayyip Erdogan: "Todos os que fecham os olhos a este genocídio perpetuado debaixo da capa da democracia são seus colaboradores", disse, citado pelo Guardian.  

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