Com dívida pública alta, agências esperam para decidir novo rating

Moody’s deverá dar a conhecer hoje avaliação do rating do país. Analistas não esperam alteração imediata. A economia cresce perto de 3%, mas a trajectória da dívida ainda não se inverteu e isso conta na hora de decidir.

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A dívida pública voltou a aumentar no segundo trimestre, representando 132,4% do PIB Nuno Ferreira Santos

Portugal enfrenta neste mês de Setembro dois testes junto das agências de notação financeira, quando a Moody’s e a Standard & Poor’s (S&P) actualizarem as suas avaliações do rating do país. A primeira agência apresenta uma decisão já hoje, a segunda divulga-a dentro de duas semanas. Vão as duas agências acompanhar a concorrente Fitch e dar início ao processo de avaliação da retirada do país do patamar de “lixo” financeiro? É uma das dúvidas que poderá começar a ter resposta a partir desta sexta-feira.

Esse foi o passo dado em Junho pela Fitch (manteve a nota inalterada, decidindo colocar a perspectiva desse mesmo rating em sentido positivo). E os analistas de mercado não estão à espera de uma mudança imediata por parte da Moody’s e da S&P. As duas têm a nota do país numa perspectiva “estável” e, antes de concretizarem uma subida, o procedimento comum é colocá-la numa trajectória “positiva”.

É um caminho progressivo, com várias variáveis em jogo. Embora a economia esteja a crescer 2,9% (no segundo trimestre), o défice esteja em queda e a percepção de risco do sector bancário pareça ter diminuído, a dimensão da dívida pública continua a ser um factor incontornável a ter em conta no momento de tomar uma decisão, concordam dois analistas ouvidos pelo PÚBLICO. As agências deverão esperar para ver e decidir.

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O Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI notava no boletim Mercados Financeiros de Agosto que, depois da melhoria da perspectiva da Fitch, a probabilidade de uma melhoria “pelas restantes agências aumentou, atendendo igualmente à redução de desequilíbrios (menor dívida das famílias, resolução progressiva dos problemas na banca, excedente externo sustentado, superavit público primário, maior robustez no crescimento económico)”.

Quando a saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo (PDE) já era uma certeza, o Presidente da República colocou as fichas no que se iria passar “a partir de Setembro”. Mas melhorar a perspectiva do rating é um passo anterior a uma subida da nota. E esse último cenário – ver mais uma agência a colocar Portugal na classe de investimento –, a equipa de estudos do BPI admite ser possível em 2018.

Filipe Silva, director de gestão de activos do Banco Carregosa, não acredita que o facto de a economia estar a crescer mais do que o esperado acelere o processo de revisão do rating português. “É verdade que o Produto Interno Bruto (PIB) subiu, mas a dívida também subiu. E o que é preciso é que o PIB suba e a dívida desça”, vinca.

Antes e depois

Em Junho, a dívida pública correspondia a 249.084 milhões de euros, 132,4% do PIB, crescendo novamente em relação aos dois trimestres anteriores (líquida dos depósitos da administração central, a dívida era de 229.379 milhões). É, lembra Eduardo Silva, gestor da corretora XTB, “o quinto registo seguido acima dos 130% do PIB”, não se esperando qualquer revisão do rating “no imediato enquanto não se inverter esta tendência”. De todos os factores, diz, este “é o que terá sempre mais impacto”.

Eduardo Silva não acredita numa mudança nem antes, nem depois da apresentação do Orçamento do Estado para 2018. “Bons dados de crescimento, melhorias na procura interna e externa, expansão do excedente orçamental primário, desalavancagem das famílias e sector privado, pagamentos antecipados ao FMI não serão suficientes para se assistir a qualquer alteração do nível de rating”, enquadra.

Das quatro agências consideradas pelo BCE na avaliação que faz à qualidade dos activos usados como contrapartida para dar liquidez aos bancos, a canadiana DBRS  é a única que tem Portugal avaliado acima do nível de “lixo” financeiro. As outras três colocam um degrau abaixo do nível imediatamente anterior ao grupo de investimento de qualidade.

O ministro das Finanças referia há dias esperar uma ligeira redução do nível da dívida e mostrou-se confiante de que, em 2017, passará para 127,7% do PIB. Com o programa de compra de dívida do BCE “numa fase final”, diz Eduardo Silva, da XTB, “Portugal terá que se financiar no mercado e para o fazer a um nível competitivo terá que contar com mais do que uma agência a mostrar confiança no País. A emissão de dívida, em iuan, em estudo, poderá igualmente alargar o leque de investidores e aliviar alguma pressão, mas a sustentabilidade parte de uma redução da dívida”.

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