Ameaça terrorista põe autoridades portuguesas de sobreaviso

Nível de alerta do país não mudou, apressaram-se a garantir governantes. Nem teria que mudar, uma vez que informações que chegaram às autoridades não são concretas.

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Têm sido instaladas em Lisboa barreiras de segurança para impedir ataques com carros em movimento MIGUEL MANSO

Apesar de não corresponder a nenhuma informação concreta e objectiva – quem, quando, como ou onde –, informações sobre uma eventual ameaça terrorista em solo nacional puseram as autoridades portuguesas de sobreaviso.

O assunto foi debatido na quarta-feira numa reunião da Unidade de Coordenação Anti-Terrorista para discutir a questão, que congrega representantes das forças de segurança e dos serviços secretos. Perante a divulgação de informações nas redes sociais dando conta de uma situação de perigo, a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna, Helena Fazenda, viu-se na obrigação de emitir um comunicado esta quinta-feira garantindo que Portugal não alterou o grau de ameaça, que se mantém assim no nível moderado, o segundo mais baixo numa escala que vai de um a cinco.

O facto de o nível de ameaça não ter subido não significa, porém, que não existam indícios, ainda que difusos, de que Portugal possa estar, de facto, na mira dos terroristas. Até porque há cada vez mais países europeus vitimados pelo fenómeno, explica um especialista na matéria. Noutras ocasiões já foram identificados em Portugal suspeitos de actos terroristas sem que o nível de alarme nacional tenha subido. Uma prática que não é um exclusivo nacional: depois de evitarem um ataque com explosivos na estação central ferroviária de Bruxelas em Junho as autoridades belgas resolveram manter o país no estado de alerta em que estava, o terceiro mais grave, e o recente esfaqueamento de dois militares não as fez mudá-lo.

Depois de Helena Fazenda admitir mas desvalorizar a reunião de quarta-feira – “Se reunimos, é porque reunimos. Se não reunimos, é porque não reunimos” –, foi a vez de Governo e Presidente da República alinharem pelo mesmo diapasão. Nas ruas de Lisboa era, porém, visível um forte dispositivo policial.

"Não houve nenhum aviso de que vá haver um atentado terrorista aqui ou ali ou acolá", referiu a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa. "Não há esse indício em concreto que possa haver um atentado terrorista no local A ou B", repetiu. Questionada sobre se estava preocupada, deu uma resposta evasiva, em que falou de uma "preocupação normal".

"A ameaça é global, afecta todos sem excepção e isso tem de ser sempre alvo de preocupação", observou a governante, acrescentando existir sempre “uma avaliação permanente." Dessa avaliação faz parte a análise, pelos serviços secretos, das listas de hóspedes dos hotéis. Depois de Constança Urbano de Sousa foi a vez de o primeiro-ministro António Costa desdramatizar também a situação. Disse que a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna promoveu “uma reunião com dirigentes máximos de todos os serviços de segurança no âmbito de coordenação ao anti-terrorismo” em que foi resolvido manter o nível de alerta moderado que tem vigorado “em todo o país e também na cidade de Lisboa”.

O terrorismo “é uma ameaça global, que pode estar em todo o sítio. É obviamente dever dos serviços analisar e avaliar cada informação que surge”, acrescentou, sem dar mais esclarecimentos. Na mesma linha surgiram a seguir declarações do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa: "Ouvidas as entidades competentes, não há razões para alterar o nível de alerta".

As informações que chegaram às autoridades não foram consideradas suficientemente graves para mobilizar a Unidade Especial de Polícia. A PSP aludiu mesmo a “informações falsas” que circularam na Internet. E assegurou que o reforço de segurança verificado em alguns locais corresponde somente a medidas preventivas que já tinham sido anunciadas e que estão a ser postas em práticas nos últimos tempos, nomeadamente por causa de eventos que se vão realizar este fim-de-semana, como a Red Bull Air Race, no Porto e em Gaia.

Espera-se que assistam ao evento perto de um milhão de pessoas, razão pela qual foi mobilizado todo o pessoal do comando metropolitano da PSP, num total de cerca de 3500 agentes. Equacionada a visibilidade que terá este policiamento no Porto, foi decidido reforçar também, por uma questão de equilíbrio, o patrulhamento em Lisboa, explicou fonte desta corporação.

Ontem também as autoridades catalãs admitiram ter recebido logo em Maio um aviso de que haveria um ataque em preparação. Não o acharam credível. Mas disseram que ele não lhes permitiria ter evitado os ataques de 17 e 18 de Agosto passado, nos quais morreram 16 pessoas. 

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