As eleições de 2018 "serão as mais imprevisíveis da História da democracia brasileira"

O economista do Banco Central do Brasil Celso Rocha de Barros diz que os brasileiros estão à espera que surja um outsider em quem votar nas presidenciais de 2018.

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"Ninguém no Brasil tem a menor esperança de que Temer não seja corrupto", diz Celso Rocha de Barros Nacho Doce/REUTERS

Celso Rocha de Barros, economista do Banco Central e colunista da Folha de São Paulo, diz que a destituição de Dilma Rousseff criou expectativas de mudança que não se concretizaram. "O clima é de grande desânimo".

Que balanço faz do processo de mudança de liderança em Brasília, e dos seus efeitos, um ano depois?

Creio que as expectativas geradas pelo impeachment foram amplamente frustradas. O novo Governo tem ainda mais gente envolvida em corrupção do que o anterior, e é ainda menos popular. Temer conseguiu aprovar algumas reformas económicas de peso, mas a recuperação económica não veio, pelo menos por enquanto. No geral, o clima no país é de grande desânimo com a política em geral.

Como avalia o mandato de Michel Temer? Tem condições políticas para se manter no cargo até ao fim de 2018?

Temer tem como prioridade não cair. Com esse objectivo, esforça-se para entregar o que querem as elites políticas e económicas. Para a elite económica, oferece reformas pró-mercado, e algumas podem ser positivas para o país, mas são feitas exclusivamente para garantir o apoio empresarial ao Governo. E, para políticos, oferece a perspectiva de enfraquecer a operação Lava Jato, que compromete quase toda a elite política brasileira. A recente extinção da equipa da Lava Jato na Polícia Federal, por exemplo, foi um passo nessa direcção.

As suas hipóteses de se manter no poder são cada vez mais razoáveis. Ninguém no Brasil tem a menor esperança de que Temer não seja corrupto. Mas há um cansaço na sociedade civil, e grande desânimo com as alternativas. Se Temer caísse hoje, seria substituído por alguém eleito pelo Congresso, que com certeza também seria conservador, e com grande probabilidade também seria corrupto. Desta forma, muita gente acha que é melhor esperar a eleição de 2018 para trocar o Presidente.

Este novo regime  ainda não ofereceu qualquer solução para os “males” do sistema político brasileiro (troca de favores e favorecimentos, corrupção). O que vai acontecer até às próximas eleições: haverá medidas para ultrapassar o actual estado de desconfiança generalizado ou manobras para manter o poder?

Essa é a grande questão. Muita gente espera que a eleição seja ganha por um outsider. Marina Silva (do partido ambientalista Rede Sustentabilidade), por exemplo, pretende concorrer com um discurso de renovação política, e o mesmo pode ser dito sobre Ciro Gomes (do Partido Democrático Trabalhista), e mesmo do candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro. Mas não sabemos se esse discurso vai funcionar. O sistema está tentando se reacomodar, recompondo alianças tradicionais. Os candidatos outsiders ainda não apresentaram propostas contra a crise económica que tenham empolgado o público. De qualquer forma, essa será a eleição mais imprevisível da História democrática brasileira.

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