Angola: João Lourenço vê-se como reformador ao estilo Deng Xiaoping

Candidato do MPLA considera que os resultados foram "bons".

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João Lourenço LUSA/Fernando Villar

O general João Lourenço, que segundo os resultados provisórios da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) será o próximo Presidente de Angola, sucedendo a 38 anos de liderança de José Eduardo dos Santos, promete ser reformador, ao estilo Deng Xiaoping.

Numa entrevista concedida em Madrid, para onde viajou logo após as eleições gerais angolanas de 23 de Agosto, João Lourenço rejeitou a classificação que lhe tem sido colocado, de "Gorbachev angolano", por suceder à prolongada liderança de José Eduardo dos Santos.

"Reformador? Vamos trabalhar para isso, mas certamente não Gorbachev, Deng Xiaoping, sim", afirmou João Lourenço, militar formado na União Soviética e que agora se prepara para ascender ao poder em Angola, questionado na capital espanhola pela agência EFE.

Deng Xiaoping foi secretário-geral do Partido Comunista Chinês e líder político da República Popular da China entre 1978 e 1992, tendo criado o designado socialismo de mercado, regime vigente na China moderna e que posteriormente foi adaptado pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

No partido, João Lourenço mantém-se como vice-presidente, cabendo a liderança a José Eduardo dos Santos, que pode continuar a ditar a política no país.

"Está claro que o MPLA vai influenciar nas políticas do Governo porque é o partido mais votado, tem 61% dos votos, não é justo pensar que o MPLA não vai conduzir as políticas do novo Governo. Então quem seria? O partido menos votado? Sem dúvida que o novo Governo vai seguir o ideal do MPLA porque é o partido em que o povo confiou", afirmou Lourenço.

Tal como na campanha eleitoral, João Lourenço relativiza a convivência com José Eduardo dos Santos como presidente do MPLA: "O presidente Dos Santos é uma personalidade muito respeitada, tanto dentro do partido como por um conjunto da sociedade e não é anormal que o presidente do partido no poder não seja ele próprio o Presidente da República. Apenas para citar um caso, Donald Trump é o Presidente dos Estados Unidos mas não do Partido Republicano", afirmou.

João Lourenço diz que resultados eleitorais “foram bons”

Na mesma entrevista, João Lourenço considerou que os resultados eleitorais "foram bons", apesar da quebra da votação.

"Apesar das dificuldades, os resultados eleitorais foram bons, e o MPLA tem um grande apoio popular, que encoraja a continuar. Há também grandes dificuldades, a situação financeira é menos boa devido à queda dos preços do petróleo, mas Angola é um país em paz, um país no qual os cidadãos se reconciliaram e esta é uma vantagem em comparação com 38 anos em que meu antecessor era o chefe de Estado, que durante pelo menos 27 anos governou em situação de guerra", declarou João Lourenço, na entrevista à agência espanhola EFE.

"Felizmente, enfrento esta nova fase de paz com espírito, vamos concentrar-nos principalmente no desenvolvimento económico e social do país", disse ainda, ao mesmo tempo que, como várias vezes assumiu em campanha eleitoral, prometeu basear a recuperação económica na captação de investimento estrangeiro e "lutar contra a corrupção" e nepotismo em Angola.

"Uma vez ganhas estas batalhas, vai ser mais fácil captar investimento para o país", admitiu.

O MPLA perdeu 25 deputados na Assembleia Nacional angolana nas eleições gerais de quarta-feira, de acordo com os dados provisórios anunciados pela CNE - que são contestados pela oposição, com ameaça de impugnação -, quando estão escrutinados 9.221.963 votos (98,98% do total).

O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) lidera a contagem nacional, com 4.115.302 votos (61,05%), o que corresponde a 150 deputados (maioria qualificada) e à eleição de João Lourenço para Presidente da República.

Nas eleições gerais de 2012, a última às quais concorreu como cabeça-de-lista do MPLA José Eduardo dos Santos, Presidente da República desde 1979, que decorreram nos mesmos moldes, o MPLA arrecadou 4.135.503 votos, equivalente a 71,80% da votação e 175 deputados, o que na altura já representou menos 16 mandatos.

No plano oposto, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), liderada por Isaías Samakuva, sobe para 1.800.860 votos e 26,72% do total, com 51 deputados, quando nas eleições gerais de 2012 conquistou 1.074.565 votos (18,7% do total) e 32 deputados à Assembleia Nacional.

Os resultados oficiais só serão divulgados depois de 6 de Setembro.

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