Costa atira-se a Cristas e Passos e não fala de Jerónimo e Catarina

Primeiro-ministro ataca os dois líderes da oposição por só terem acordado para o problema das florestas “com a tragédia”. Costa poupou PCP e BE a críticas, mas também a elogios. No centro, e pelo menos até às autárquicas, está o PS.

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Costa puxou pelo candidato do PS à Câmara de Faro, António Eusébio Luís Forra/Lusa
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Foi um António Costa dividido, entre o primeiro-ministro que manda recados agressivos à direita, enquanto a chama para negociar medidas estruturantes e poupa a esquerda a críticas e  elogios, e o secretário-geral do PS que quer que o partido vença nas autárquicas, aquele que ontem abriu o ano político do partido. A um mês das autárquicas – enquanto negoceia o Orçamento do Estado (OE) – Costa faz um intervalo nos elogios públicos a PCP, BE e PEV, ataca PSD e CDS de forma dura e prefere marcar a posição do PS: o caminho é o de promover o crescimento enquanto consolida as finanças públicas, mesmo que PCP e BE pressionem para andar mais depressa.

Foi um momento duro do discurso de António Costa que atacou a oposição. Falava da reforma florestal, que o Governo iniciou em Outubro, com o “ministro a andar de terra em terra a debater” o pacote de medidas. “Ninguém ligou”, começou por dizer. “No dia 30 de Março aprovámos esse diplomas, apresentámos na Assembleia da República em Abril e foi preciso chegar a tragédia para que outros acordassem, não com propostas, mas criticando e votando contra grande parte do pacote florestal”, atacou. As medidas foram aprovadas com o apoio do BE e do PCP, que votou contra uma parte importante do diploma referente à inclusão no banco de terras dos terrenos de proprietários que não tenham sido identificados no cadastro. Contudo, o PCP seria poupado a críticas. Os alvos eram Passos Coelho e Assunção Cristas.

“Não acordámos para a floresta no dia 17 de Junho”, disse Costa. “Quero saber se aquela senhora que foi quatro anos ministra da Agricultura, que nada fez pela floresta e que hoje todos os dias fala vai estar presente ou não presente [no debate]. E quero saber se o anterior primeiro-ministro, que todos os dias critica os bombeiros, vai fazer alguma coisa pelas florestas, porque nada fez nos quatro anos em que foi primeiro-ministro”. Ataques cerrados e na frase seguinte o apelo ao consenso, lembrando que o Presidente da República pediu o fim da crispação. “É tempo de nos mobilizarmos para o que é necessário fazer”.

Lembrando os resultados, quer da economia quer da execução orçamental, apresentados na sexta-feira por Mário Centeno, Costa disse que é preciso “garantir que este é o resultado para os próximos dez anos”. “É hoje claro que a alternativa valeu a pena. Boas políticas garantem bons resultados”, disse, repetindo esta ideia por várias vezes, defendendo que não foi o aumento do salário mínimo ou a reposição de rendimentos que levaram a um derrapar do défice e insistindo que há aumentos de despesa que “aumentam bem a despesa”.

Num discurso que durou quase 40 minutos, António Costa fez questão de começar por dizer ao PS que no próximo mês, nos tempos livres, não ficará em casa e irá apoiar os candidatos do partido para ganhar as autárquicas. Estava feita a promessa para animar uma plateia recheada de candidatos autárquicos e militantes que chegaram a Faro vindos de todo o país.

Mas Costa tinha mais uma mensagem para o PS: na negociação para o OE para 2018, o partido também tem bandeiras, linhas vermelhas e um caminho a seguir, que passa por continuar a promover o equilíbrio entre promover o crescimento económico e garantir a consolidação orçamental, nem mais depressa, nem mais devagar. Ao mesmo tempo, insiste em desenvolver uma “estratégia de longo prazo”.

No entanto, numa altura em que já começaram as negociações com PCP, BE e PEV, Costa não lhes quer deixar todo o palco mediático e preferiu mostrar aos socialistas que o Governo não parte numa posição de negociação mais fraca, mas mais forte. “O próximo Orçamento do Estado seguramente vai seguir a trajectória de controlo do défice, porque só assim conseguimos diminuir a dívida pública” e cumprir a quadratura do círculo de “aumentar o rendimento das famílias, porque é essencial para melhorar a nossa situação económica”.

E como o irá fazer? Deixou a garantia de que vai “aumentar os escalões do IRS para que quem ganhe menos pague menos”. Quantos escalões vai criar? Não revelou. À esquerda não houve elogios – na verdade, nem referências –, mas houve, no entanto, garantias: “O Orçamento será marcado por um maior reforço do investimento no SNS e na escola pública porque são essenciais à qualidade de vida dos portugueses”.

Coube a Carlos César o elogio aos parceiros, quando se congratulou com a “estabilidade política” que tem “dado confiança”. “Todos juntos vamos conseguir. Construímos uma trajectória de estabilidade política que importa consolidar neste Orçamento do Estado para 2018”.

Novas “pequenos Alquevas” até ao fim da legislatura

No discurso, António Costa aproveitou ainda para apresentar várias medidas do Governo, nas áreas da Educação, Saúde, mas também na Agricultura. De acordo com o primeiro-ministro, este ano haverá mais 70 novas salas de jardim de infância para crianças até aos três anos. Já na Saúde haverá uma “prioridade aos cuidados continuados”.

Em tempos de seca, Costa foi buscar uma promessa do programa de Governo que garantiu que vai ser cumprida. “Até ao final da legislatura, haverá mais 90.000 hectares de regadio, porque queremos fazer pequenos Alquevas”, disse.

Aproveitando a conjuntura internacional, Costa diz que é preciso olhar para o “desafio das alterações climáticas” e começar a aproveitar o facto de Portugal ter condições especiais para produção de energia limpa. “Porque não pensamos numa interconexão com Marrocos e Espanha para sermos exportadores de energia limpa, com qualidade?”, questionou.

Estas poderão ser algumas das medidas que Costa quer ver debatidas no Conselho de Obras Públicas que quer pôr a funcionar e que, para isso, precisa do consenso com a direita, de modo a que não se faça uma coisa e a seguir venha o “próximo Governo desfazer”. “É bom que ninguém se exclua nem ninguém seja excluído”, disse, numa alusão ao pedido de consenso com a oposição que fez numa recente entrevista ao Expresso.

19 horas em trânsito. É para verem o Boss AC que lá vão

Que os partidos organizam viagens para os militantes de autocarro não é novidade. Para a rentrée política deste ano, o PS decidiu fazer diferente e fretou um comboio para pôr em trânsito 650 militantes (números do PS) pelo país, de Braga até Faro para a “Festa de Verão”. Uma viagem que para cerca de 150 pessoas começou às 11horas da manhã de sábado, em Braga e só termina às 6h deste domingo, quando chegarem de novo àquela cidade.

O que faz 150 pessoas gastarem 19 horas, a maior parte em viagem, para irem a uma rentrée política? “É pelo partido”, responde António Rebelo, militante do PS há mais de 30 anos. E é também para ver António Costa, por quem tem simpatia porque “ele gosta dos pobres”. António, o militante, é atropelado na conversa por outra simpatizante que conta que é pela “família PS” que vem, mas também porque “isto foi uma borga”.

Cristina Santos fez uma viagem mais curta, veio da Amora, Seixal, onde é candidata à junta de freguesia. “Achei que devia conhecer todo este movimento”, diz. Um “movimento” que foi organizado pelo secretário nacional do partido, Luís Patrão. “Isto é mesmo um acto de militância” ou “um sacrifício”, pela quantidade de horas de viagem, admite em conversa com o PÚBLICO.

O comboio chegou à tarde a Faro, os militantes tinham à sua espera uma sande e um sumo, mas “quem vem do Norte vem aviado” até porque precisa de energia para ouvir os discursos da noite, que já cheiram a campanha, e ouvir o Boss AC. O rapper animou a festa e abriu espaço para o chefe dos socialistas, António Costa, que lhes falou por meia-hora, para garantir que o que está a ser feito, é para continuar.

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