Barcelona não pode deixar de “ramblear”

A resposta ao extremismo não pode traduzir-se na reprodução de outros extremismos, como aqui e ali têm surgido em Espanha, após os atentados de Barcelona e de Cambrils

Barcelona sairá hoje à rua num misto de homenagem às vítimas mortais do dia 17 e de prova de vida de uma cidade que não admite resignar-se. Do Passeo de Gràcia à Praça da Catalunha, ouvir-se-ão expressões de ordem como No tinc por ou No tiengo miedo. La Rambla es para quien la “ramblea”, uma idiossincrasia do dicionário barcelonês. E Barcelona não pode deixar de “ramblear”. Não há alternativa. A resposta ao extremismo fundamentalista da célula terrorista Takfir Wal Hijra (Anátema e Exílio) não pode traduzir-se na reprodução de outros extremismos, como aqui e ali têm surgido em Espanha, após os atentados de Barcelona e de Cambrils. Mulheres e menores foram atacados em Madrid, em Navarra e Valência. Mesquitas foram pichadas com ameaças, um grupo neonazi colocou cartazes com mensagens de ódio contra a comunidade muçulmana e a etiqueta #Stopislam fez furor nas redes sociais. O que deve ser travado não é o Islão, mas sim o ódio como forma de combate ao ódio.

Ryay Tarary, presidente da Comunidade Islâmica de Espanha, escrevia no El Pais de ontem algo muito sensato: “Devemos evitar a linguagem do nós e os outros”. E avançava com  uma sugestão igualmente pertinente: o desenvolvimento do ensino religioso para alunos de crença muçulmana nas escolas espanholas, como antídoto contra a actividade das seitas religiosas, tal como acontece com os alunos de religião católica. É um princípio de igualdade perante um Estado que se quer laico.

O que Tarary não diz é que a própria comunidade que lidera deve participar sem qualquer ambiguidade no combate a este fundamentalismo islâmico que não olha a meios para regressar a meados do século VIII. Não faltam visões fratricidas e opostas do que é o Islão. No seu próprio interesse, antes de mais, as quase dois milhões de pessoas que professam aquela região no país não podem contemporizar com as minorias intolerantes que a contradizem e fingir que elas não existem. Ainda mais quando este grupo odioso encontra nos “vícios ocidentais” (forma de vestir, hábitos alimentar e estilo de vida) o expediente cínico que lhe permite a camuflagem para uma clandestinidade que confunde a luta anti-terrorista. La Rambla es para quien la “ramblea”, independentemente da língua, da religião ou de qualquer outra etiqueta. Barcelona nem pode mergulhar na turismofobia nem na islamofobia.

 

Sugerir correcção
Comentar